Nos
últimos anos, os influenciadores digitais conquistaram grande
protagonismo nas redes sociais, promovendo marcas, estilos de vida, e,
para muitos, acumulando fortunas. De onde vem, afinal, o dinheiro que
sustenta esse setor? Embora muitos atuem de forma transparente e lícita,
há um lado obscuro que tem chamado a atenção de especialistas
financeiros e órgãos de controle. O Consultor Financeiro e Mestre em
Negócios Internacionais André Charone, uma das vozes mais atentas ao
impacto econômico das plataformas digitais, participa desta análise,
alertando para a necessidade de maior vigilância sobre a origem dos
recursos de algumas dessas figuras.
A Economia dos Influenciadores
A
maior parte dos influenciadores digitais obtém seus ganhos através de
contratos publicitários com marcas. Esses acordos incluem desde posts
patrocinados até campanhas multimilionárias com grandes empresas. Além
disso, as plataformas de redes sociais, como Instagram, YouTube e
TikTok, também remuneram criadores de conteúdo de acordo com o número de
visualizações, interações e inscritos, uma prática amplamente divulgada
e regularizada.
O
mercado de cursos online e mentorias é outra fonte de renda, onde
influenciadores, aproveitando sua popularidade, oferecem produtos
digitais com alto valor agregado. "Esses métodos são claros e seguem uma
lógica de mercado: a audiência gera interesse comercial, e esse
interesse é convertido em contratos legítimos", afirma André Charone.
Ele destaca, contudo, que "o aumento descontrolado de recursos digitais
trouxe consigo uma brecha perigosa: os mesmos meios que geram renda
honesta também podem ser utilizados para camuflar atividades ilícitas."
Casas de Apostas e Jogos de Azar
Nos
últimos anos, uma nova fonte de receita tem chamado a atenção: as
parcerias com casas de apostas e plataformas de jogos de azar online.
Muitos influenciadores, especialmente em setores de entretenimento e
esportes, passaram a promover esses estabelecimentos, atraindo milhares
de seguidores para o universo das apostas esportivas.
Segundo
Charone, "o setor de apostas online, recentemente regulamentado no
Brasil, traz à tona preocupações sobre a rastreabilidade do dinheiro.
Muitas dessas plataformas operam internacionalmente, em paraísos
fiscais, o que dificulta o controle sobre a origem dos recursos. Em um
ambiente com pouca transparência, há o risco de que fundos ilícitos,
fruto de atividades como lavagem de dinheiro, sejam disfarçados como
receitas legítimas."
De
fato, a proximidade de influenciadores com essas plataformas levanta
questões sobre a origem dos pagamentos recebidos. Em vários casos,
influenciadores recebem altos valores para promover essas empresas, sem
questionar de onde realmente vem o dinheiro. A falta de regulamentação
adequada, tanto no setor de apostas quanto nas próprias redes sociais,
abre espaço para o uso dessas operações como fachada para lavar
dinheiro.
O Caso dos "Esquemas de Pirâmide Disfarçados"
Outro
ponto alarmante levantado por Charone é o envolvimento de alguns
influenciadores em esquemas de pirâmide financeira, muitas vezes
disfarçados como "investimentos revolucionários" ou "oportunidades de
renda extra". Nesses casos, o influenciador utiliza sua base de
seguidores para atrair novos "investidores" para projetos duvidosos,
prometendo retornos exorbitantes e rápidos. Esses esquemas,
eventualmente, entram em colapso, prejudicando principalmente os
pequenos investidores.
"Temos
observado um aumento significativo de denúncias contra influenciadores
que promovem esse tipo de esquema. Muitas vezes, a ligação deles com a
lavagem de dinheiro está justamente em esconder a verdadeira natureza
dessas operações, o que reforça a necessidade de maior fiscalização e
penalidades mais severas", afirma André Charone.
A Urgência por Transparência e Fiscalização
Enquanto
a maioria dos influenciadores digitais segue caminhos éticos e legais
para monetizar sua audiência, uma minoria envolvida com casas de
apostas, esquemas de pirâmide ou atividades financeiras suspeitas
continua a manchar a imagem da profissão. Como Charone alerta, "é
fundamental que os influenciadores, assim como as empresas com as quais
eles trabalham, adotem políticas de compliance mais rígidas para
garantir a transparência financeira. O sucesso de um influenciador deve
ser construído sobre a confiança da sua base, e isso inclui a clareza
sobre de onde vem o dinheiro."
Diante
do crescimento exponencial desse mercado, a regulamentação e a
fiscalização tornam-se urgentes para evitar que a indústria dos
influenciadores se torne uma nova frente de atividades ilícitas. A
tecnologia pode ser uma aliada na detecção e prevenção de crimes
financeiros, mas é necessário que haja vontade política e ações
concretas para regular esse campo. Como bem destacou Charone, "os
influenciadores digitais são protagonistas cada vez mais relevantes no
cenário econômico e social. Precisamos, portanto, tratá-los com a mesma
seriedade e responsabilidade jurídica que outros setores importantes da
economia, assegurando a transparência e a legalidade de suas fontes de
renda.".
Sobre o autor:
André Charone é
contador, professor universitário, Mestre em Negócios Internacionais
pela Must University (Flórida-EUA), possui MBA em Gestão Financeira,
Controladoria e Auditoria pela FGV (São Paulo – Brasil) e certificação
internacional pela Universidade de Harvard (Massachusetts-EUA) e Disney
Institute (Flórida-EUA).
É
sócio do escritório Belconta – Belém Contabilidade e do Portal Neo
Ensino, autor de livros e dezenas de artigos na área contábil,
empresarial e educacional.
André lançou
dois livros com o tema "Negócios de Nerd", que na primeira versão
vendeu mais de 10 mil exemplares. Os livros trazem lições de gestão e
contabilidade, baseados em desenhos e ícones da cultura pop.
Instagram: @andrecharone
Imagens: Arte digital / Inteligência Artifical
Foto André Charone / Divulgação
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