Inteligência artificial: especialista avalia que este é o momento de debater avanços tecnológicos Palestra
magna durante o Seminário Internacional tratou do desenvolvimento e
regulação das novas tecnologias e sua relação com os criadores de
conteúdo criativo; à tarde, oito painéis expandiram os debates
"A
inteligência artificial está aí para ficar. Vão ter coisas boas e
ruins, vamos olhar para tudo que discutimos hoje, fazer a lição de casa e
entender o impacto disso nos criadores. Há muito o que fazer e o
momento é agora”. A afirmação foi feita por Daniel Gervais, diretor do
Programa de Propriedade Intelectual da Faculdade de Direito da
Universidade de Vanderbilt, nos Estados Unidos, durante a palestra magna
Inteligência Artificial e Direitos Autorais. A atividade abriu o
segundo dia do Seminário Internacional de Políticas para a Economia
Criativa: G20 + Ibero-América, nesta quinta-feira (8), na Casa Firjan,
em Botafogo, no Rio de Janeiro.
Coube
a Marcos Souza, secretário de Direitos Autorais e Intelectuais (SDAI)
do Ministério da Cultura (MinC), apresentar a advogada Vanisa Santiago, a
quem se referiu como papisa do direito autoral no Brasil. “Ela atua no
tema desde a década de 50. Perspicaz em suas observações e uma fonte
constante do governo brasileiro sobre o tema, além de uma referência
internacional”, disse.
Gervais,
que concentra suas pesquisas recentes em direito autoral e inteligência
artificial, trouxe uma importante perspectiva para processo criativo,
regulação e questões legais. “Não há forma de parar isso. A IA é uma
realidade em expansão”. Mas “remunerar os autores” e “proteger isso por
meio de regulação” deixaria isso intacto [em termos legais], segundo o
professor.
André Guterres,
cofundador do Projeto Rolé Favela Geek, na Favela do Fumacê, Zona Oeste
do Rio de Janeiro, trouxe a realidade das periferias para o debate. “Sou
analista de sistema, morador de favela e ter esse lugar de fala é
necessário. Enriquece nosso conhecimento”. E completou: “Nós, como
projeto, estamos inseridos no Favela 20 e isso vai ajudar a gente a
pensar numa maneira melhor de nos inserir nessa realidade”, concluiu.
Painéis
No
período da tarde, o evento seguiu com discussões nos painéis. O
secretário-executivo do MinC, Márcio Tavares, mediou o painel
Internacionalização como Eixo Fundamental da Economia Criativa. Ele
considerou positiva a discussão sobre a importância das políticas nesse
campo.
"O mundo olha com
interesse para o que estamos fazendo e, ao mesmo tempo, buscamos
aprender com o que está dando certo lá fora. As parcerias que podemos
estabelecer são fundamentais para que nossos artistas e criadores tenham
mais direitos, sejam mais protegidos e para que nossa economia criativa
se desenvolva. Queremos que a cultura seja vista como um eixo central e
motor do desenvolvimento justo e sustentável do planeta. Isso é o que
estamos apresentando no G20, liderado pelo presidente Lula este ano",
afirmou.
“O painel tratou de
um aspecto importante da economia criativa, que é vincular esse
pensamento a uma dimensão democrática e cidadã. Precisamos estimular a
economia criativa brasileira de forma inclusiva, sem alienar a memória e
a identidade das comunidades que geraram essa riqueza e que geram a
riqueza econômica”, destacou Carlos Paiva, assessor especial do MinC,
responsável pela mediação do painel Experiências Transformadoras em
Economia Criativa - Cidadania e Democracia.
Já
no debate Territórios e Ecossistemas Criativos: Entre Desafios e
Possibilidades, Alexandre Kieling, coordenador do mestrado em Economia
Criativa da Universidade Católica de Brasília (UCB), enfatizou a
relevância de tornar o tema mais acessível e visível.
“Foi
muito interessante, sobretudo em relação à materialidade do conceito.
Aquilo que vem sendo discutido há algum tempo do ponto de vista teórico
foi materializado nos exemplos apresentados, que mostram o que se
concebe como um território criativo. A primeira questão que fica
evidente é que o território não é físico, mas uma construção, um
processo. O lugar é físico. O espaço pode ser físico, mas o território
depende dessa interação entre as pessoas, entre o que elas querem, o que
sabem fazer e como se movimentam no lugar”, argumentou.
O
pesquisador também destacou o valor das atividades dos povos
originários, quilombolas, grupos rurais e até mesmo grupos underground
em centros urbanos. Ele apontou o desafio de reconhecer esse valor e
apoiar essas comunidades com medidas e legislações que garantam sua
atuação, focando na sustentabilidade em suas dimensões econômica,
social, cultural e ambiental.
Na
mesa que discutiu a Biodiversidade Cultural e Tecnodiversidade, mediado
por Martin Giraldo, consultor em Marketing Cultural na Culture People
(Colômbia), a importância de ampliar o debate e integrar novas
tecnologias puxou a discussão.
"Quando
falamos de diversidade e biodiversidade, precisamos integrar outras
inteligências. O ser humano não é o único ser inteligente do planeta.
Agora que temos a inteligência artificial, deveríamos utilizar essa
ferramenta para dar voz. Precisamos integrar essas outras inteligências
para termos uma conversa mais adequada ao momento em que a humanidade
vive", avaliou.
Mais debates
No
painel Indicadores e Gestão da Informação como Ferramenta de
Transformação nas Políticas Culturais, foram discutidas as maneiras como
dados e informações podem ser utilizados para transformar políticas
culturais no Brasil. Miguel Jost, professor e pesquisador da PUC-Rio,
ressaltou a riqueza das pesquisas em políticas públicas de cultura no
país. Ele observou que, apesar dos avanços significativos na produção de
dados e indicadores culturais, ainda existe um vasto espaço para
evolução.
"O que percebemos
hoje é que podemos detalhar e aprofundar esses dados, o que será
extremamente significativo. Isso permitirá debates mais informados na
sociedade sobre a relevância e importância da cultura para o
desenvolvimento econômico, social e humano. Além disso, possibilitará,
com grupos organizados da sociedade civil e dirigentes municipais,
estaduais e federais, orientar as melhores tomadas de decisões e criar
soluções mais eficientes para a centralização, democratização e ativação
de territórios", explicou Jost.
Mediado
por Silvana Bahia, diretora-Executiva do Olabi (RJ), o painel
Experiências Transformadoras em Economia Criativa: Inovação, foram
discutidas iniciativas que têm causado impacto significativo nas
comunidades. Leonaldo Andrade, empresário e líder comunitário da
Associação de Turismo Rural e Cultural de Areia (Atura) na Paraíba,
compartilhou a trajetória transformadora de sua organização.
“Estamos
realizando uma verdadeira revolução com projetos que envolvem as
comunidades, ligados aos hábitos e à cultura ancestral das pessoas.
Estamos alimentando cadeias produtivas, como a floricultura, e
produzindo café gourmet com um resgate cultural, mostrando nosso
compromisso com o desenvolvimento sustentável e o fortalecimento das
tradições locais e trazendo essas iniciativas para o turismo. Fazemos o
que acreditamos, e um evento como este nos inspira a criar, nos
mostrando o que estamos fazendo certo e o que precisa ser resgatado",
declarou Andrade.
Andrea
Guimarães, diretora de Desenvolvimento Econômico da Cultura do MinC,
mediou a discussão sobre Mercados das Indústrias Criativas: Experiências
e Futuro. Ela destacou a importância da diversidade nos mercados
criativos, enfatizando a troca de ideias e boas práticas entre os
participantes.
"Este seminário
visou contribuir para o G20, como parte da presidência brasileira na
Comissão de Cultura, e também serviu como subsídio para a construção da
nossa Política Nacional de Economia Criativa. Incorporamos sete
princípios na curadoria das mesas e trouxemos temas que dialogam com a
economia criativa brasileira, impactando os territórios e contribuindo
para essa construção", explicou Andrea.
Por
fim, a mesa que tratou do Desafio na Formação e Capacitação de
Profissionais da Indústria Audiovisual, mediado por Leonardo Edde,
vice-presidente da Firjan (RJ), foram abordados os principais obstáculos
e oportunidades no desenvolvimento de talentos para o setor
audiovisual.
O Seminário
Internacional Políticas para Economia Criativa: G20 + Ibero-América é
realizado pelo Ministério da Cultura do Brasil e pela Organização de
Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI).
Integra a programação paralela da segunda reunião do Grupo de Trabalho
de Cultura do G20 e, por meio de seus painéis e experiências em economia
criativa, visa a reflexão sobre os princípios e desafios da Política
Nacional de Economia Criativa - Brasil Criativo. |
Outras informações Nathalia Neves (61) 98354-4841 imprensa.minc@cultura.gov.br |
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