Os nossos antepassados viviam como os paleoliticamente corretos ativistas climáticos querem que nós agora vivamos, mas nem isso os safou do clima. José Diogo Quintela para o Observador:
Desde
miúdo que passo as minhas férias nas praias do Oeste. Daí que seja com
grande cepticismo que partilho com o leitor uma notícia que passou
despercebida: “Amostras
recolhidas em Portugal mostram que grande inverno de quatro mil anos
provocou morte dos primeiros habitantes da Europa”. O cepticismo
deve-se aos cientistas afirmarem que, há cerca de 1,1 milhões de anos,
houve um súbito arrefecimento de tal ordem que até a temperatura da água
do mar desceu 6°C. Ora, ainda ontem tomei banho na Ericeira e não me
parece que seja possível a água ser mais fria sem que se dê a sua
congelação. É sabido que quem se banha nestes mares fica com pele de
galinha tão áspera que se consegue lixar uma peça de carpintaria
esfregando-a no braço. Aliás, estou convencido que o sismo registado ontem em Peniche
foi causado por uma família de turistas ingleses a tremerem depois de
uns mergulhos. É este tipo de declarações improváveis que retiram
credibilidade à ciência.
Além
desta afirmação duvidosa, o estudo revela ainda várias lacunas. Por
exemplo, sabemos que a temperatura arrefeceu de tal modo que as
condições de vida se tornaram tão pouco propícias que o homem poderá ter
desaparecido do sudoeste europeu durante 200 mil anos. Isso é giro, e
tal. Mas os investigadores não nos dizem nada sobre as reacções desses
humanos quando começaram a ver o tempo a mudar.
Tenho
curiosidade em saber quem é que estes primeiros hominídeos culparam por
estar a ficar frio? Algum magnata açambarcador com 7 ou 8 machados de
pedra lascada, se calhar. Outra: uma vez que não existia ainda religião
organizada como o cristianismo, o islamismo ou o alarmismo climático,
que Ser Supremo é que teve de ser aplacado e com que sacrifício
específico? A descarbonização não foi de certeza, que primeiro seria
preciso carbonizar e isso ainda estava a muitos milénios de acontecer.
Também gostava de saber qual o comportamento que esta sociedade julgou
ter impacto suficiente para provocar a alteração do clima? Aposto que
acharam que era a mania de tirar pedras dos leitos dos rios que fez a
água arrefecer, pois a pedra, quando está ao sol, fica quente. Por
último, uma vez que não havia viagens aéreas, contra que tecnologia do
paleolítico é que adolescentes histéricos se insurgiam? Just stop sílex?
O
estudo não é completamente inútil, porém. Dá-nos novidades importantes.
Ao que parece, é possível que o clima mude devido a variações naturais,
sem que ao mesmo tempo se desenvolva qualquer tipo de actividade
industrial humana. O que levanta a questão: quão preguiçosa é a Natureza
que a partir de 1850 decidiu deixar de controlar o clima? Fazia-o
ininterruptamente desde há 4,5 mil milhões de anos, no último século e
meio meteu baixa e delegou-nos a tarefa. E, já agora, como é que a
Natureza conseguia mexer no clima sem uma fábrica que fosse para emitir
CO2?
Também
ficamos a saber que enfrentar clima adverso quando se é um selvagem sem
recurso a electricidade, gasolina, cimento, plástico e outras
modernices é uma grande maçada.
O
que quer dizer que, para um problema que a natureza nos apresenta
amiúde, queremos abdicar voluntariamente das ferramentas que ajudariam a
ultrapassar as más condições climatéricas. Mas o pior é que nem isso
garante a sobrevivência. Repare-se: “Um
arrefecimento desta magnitude terá colocado os pequenos grupos de
caçadores-recoletores [na região] sob um stress considerável,
especialmente porque os primeiros [destes hominídeos] podiam não ter
condições para se adaptar, como gordura corporal suficiente, meios para
fazer fogo roupas ou abrigos eficazes”, afirmou Nick Ashton, do Departamento de Pré-História do British Museum“.
Estes
primeiros habitantes da Europa desapareceram porque não tinham acesso a
uma tenda, um anoraque, um campingaz e uma tablete de chocolate, tudo
coisas que se arranjam na Decathlon por menos de 100 euros. Ou seja, os
nossos antepassados viviam como os paleoliticamente correctos activistas
climáticos querem que nós agora vivamos, mas nem isso os safou do
clima. Faz sentido que o regresso à Idade da Pedra seja defendido pelos
calhaus.
Postado há 3 weeks ago por Orlando Tambosi
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