O ambientalismo é promovido hoje pelos mesmos colonizadores de outrora. O ambientalismo consiste numa fraude pseudocientífica, anti-humana e letal cujo fito é repetir hoje o que faziam outrora: dilapidar os mais pobres e impedir que se desenvolvam. Bruna Frascolla para a Gazeta do Povo:
A
defesa do anarcocapitalismo, consciente ou não, vem crescendo no
Brasil. Anarcocapitalismo é a ideologia que defende o fim do Estado por
crer que o homem possa se organizar apenas por meio de contratos
individuais, e que o Estado é não só desnecessário, como antiético. Eles
têm, naturalmente, uma ética particularíssima; o fundador dessa
ideologia, Murray Rothbard, defendeu não só o aborto, como a venda de crianças pelos pais.
Para eles, toda a moral deve girar em torno do consentimento contratual
estritamente individual. Assim, nada de criticar escolhas individuais,
com base numa moral universalizante que determine um bem comum, pois
isso faz de você um abominável coletivista.
A
defesa aberta do anarcocapitalismo é diminuta; restringe-se a entidades
estudantis e a think tanks bem financiados (entre nós, há o Mises
Brasil). A defesa inconsciente, porém, se dá com a distorção do
liberalismo, da qual já tratei aqui.
A retórica anti-Estado é tamanha, que não sobra nenhuma função
essencial a ser cumprida por ele. Se o Estado é tão ruim, se os
funcionários públicos são tão canalhas, se os políticos são tão ladrões e
se o povo é tão burro, por que deixar a Justiça e a polícia entregues
ao Estado, em vez de promover a livre concorrência entre empresas de
arbitragem e segurança que lutem pela eficiência? Toda a ingenuidade
(para não dizer estupidez) do senso comum de nossa época aponta para
isso: uma máquina mágica do livre mercado, na qual empresários
competindo promovem a paz e a prosperidade para todos. Até a esquerda,
em tese estatista, trocaria fácil um presidente "fascista" (eleito pelo
povo) por um empresário filantrópico cheio de ESG, consciência social e
contratos.
Os
anarcocapitalistas pararam de defender aborto, para agradar à direita, e
evitam falar de venda de crianças e de órgãos para não chocar o público
adulto (já adolescente gosta),
mas a sua ética vem sendo assimilada à direita e à esquerda. A esquerda
considera "opressão" qualquer opinião sobre a conduta moral alheia; já a
direita condena-a sob o nome de "coletivismo". O argumento comum para
defender a liberação da maconha é o mesmo das feministas para relaxar a
moral sexual, e é o mesmo dos devotos da Igreja Bolsonarista dos Últimos Dias (IBUD)
para fazer pix para Bolsonaro: "Faço o que quero comigo mesmo e ninguém
tem nada com isso." É um raciocínio errado porque tem uma premissa
falsa. Toda moral tem uma dimensão social; é um delírio achar que cada
indivíduo é uma ilha e poderíamos viver em sociedade tendo cada qual um
código estritamente pessoal. O caso do feminismo ilustra bem: é
estapafúrdio pensar que se cada vez mais mulheres forem convencidas de
que sexo deve ser só diversão e a coisa mais importante da vida é a
carreira, isso não terá impacto sobre o país. Acabe gradualmente com a
figura da mãe de família realizada e respeitável, e o resultado vai
desde aumento da criminalidade a crise previdenciária. No caso dos
devotos da IBUD, propaga-se uma ideia absolutamente errada do que é um
líder político e de qual é o papel da oposição.
Pois
bem: discute-se muito o anarcocapitalismo como se ele fosse um devaneio
jamais posto em prática. No entanto, já existiu algo muito próximo
disso: as chartered companies, que, por meio de contratos, tomavam conta
de uma grande porção de terras povoadas e usavam-na para extrair lucro.
O caso mais famoso é o do Estado Livre do Congo (depois chamado de
Congo Belga), que, diferentemente das demais possessões europeias na
África, não tinha um Estado. Em vez disso, o Estado Livre do Congo era
uma possessão pessoal do Rei da Bélgica, que o alugava — com os
congoleses dentro — para empresas transacionais de capital inglês
explorarem a borracha e os habitantes. O resultado disso foi conhecido
graças ao irlandês Roger Casement (que terminou executado pela Coroa
inglesa) e a Joseph Conrad.
O
genocídio perpetrado no Congo por capitalistas transnacionais foi maior
do que o genocídio perpetrado na Europa e no norte da África pelos
nazistas. No entanto, a propaganda neocon
fez crer que o capitalismo é moralmente superior ao comunismo e ao
nazismo. Não é. O mercado em si mesmo é moralmente neutro; já a
ideologia que coloca o lucro como um fim em si mesmo (chamando-o pelo
enganoso nome de "liberdade") é uma abominação equiparável ao nazismo e
ao comunismo, pois a vida humana perde seu valor intrínseco do mesmo
jeito. A liberdade apregoada pelos devotos do livre mercado é a
liberdade de vender a si próprio e de se sujeitar a todo tipo de
degradação que a folha de papel de um contrato aceite.
A
propaganda capitalista, que vive de prolongar o clima da Guerra Fria ad
infinitum, fez com que nos esquecêssemos dos genocídios perpetrados
pelas chartered companies em nome do maravilhoso livre mercado. E do
nada aparece um sheik das arábias, dono de uma corporação, que aluga 10%
do território da Libéria — com gente dentro — a título de crédito de
carbono. Vejam os comentários do
colega Luciano Trigo a respeito. Resumidamente, o sheik comprou de um
país subdesenvolvido — i.e., o direito de se desenvolver —, enquanto a
sua empresa fica "tomando conta" de 10% de um país, garantindo que seus
habitantes não "poluam".
O
ambientalismo é promovido hoje pelos mesmos colonizadores de outrora. O
ambientalismo consiste numa fraude pseudocientífica, anti-humana e letal cujo fito é repetir hoje o que faziam outrora: dilapidar os mais pobres e impedir que se desenvolvam.
A
boa notícia (há de haver alguma) é que o Brasil, quando tudo parecia
estar perdido, provou-se capaz de enfrentar esse problema e vencê-lo. A
história do Acre deveria ser conhecida dos brasileiros de todos os
estados.
O
genocídio do Congo (1885-1908) é o mais famoso; não é o único
perpetrado pelas chartered companies. O que elas buscavam eram os
seringais, que são nativos da Floresta Amazônica. Esta se encontra em um
país continental (o nosso) e numas republiquetas vizinhas. Era mais
fácil começar com as republiquetas; e, de fato, o Peru alugou um pedaço
do seu território — com os índios dentro — para a Peruvian Amazon
Company, de capital inglês. Morreram 90% da população no chamado
genocídio do Putumayo, também denunciado por Roger Casement. Esse
genocídio começou antes e terminou depois do congolês: foi de 1885 a
1908.
O
Peru tem bem menos unidade linguística e territorial que o Brasil. Lima
fala espanhol; muitas áreas andinas falam a língua do Império Inca e os
índios amazônicos não tinham tanta convivência com uma população de
língua espanhola. A Amazônia brasileira também tem áreas de difícil
acesso e com pouco conhecimento da língua pátria — mas esse
definitivamente não era o caso do Acre. Ele estava cheio de brasileiros
mesmo quando era parte da Bolívia.
Com
o ciclo da borracha na Amazônia e as secas atrozes do Ceará, houve no
s. XIX uma grande migração cearense que efetivamente garantiu a ocupação
de significativas parcelas da Amazônia por brasileiros. Na diplomacia
sul-americana, desde o Tratado de Madri (costurado pelo santista
Alexandre de Gusmão), vale o uti possidetis: o território é da
nacionalidade dos seus habitantes. Esse tratado nos tirou a Colônia de
Sacramento (atual Uruguai) e o direito a reivindicar as atuais
Filipinas, mas deu-nos o interior da atual região Sul e, bem mais tarde,
o Acre.
Embora
não povoasse intensamente o Acre, a Bolívia aproveitou a Guerra do
Paraguai (1864 - 1870) para empurrar o Tratado de Ayachuco (1867), no
qual o Brasil cedia grandes terras contestadas e aceitava usar um
meridiano como fronteira (algo que Gusmão evitava, porque ninguém vê
meridiano no mato). Tudo de que o Brasil não precisava era se meter em
outra guerra, ou dar a Solano López um aliado. Assim, sendo o atual Acre
um território boliviano, formou-se nos EUA o Bolivian Syndicate com o
fito de repetir ali o seu modus operandi. Segundo lemos na obra Plácido
de Castro (Civilização Brasileira, 1973), de Cláudio de Araújo Lima, o
presidente do Bolivian Syndicate era filho de Theodore Roosevelt.
A
Revolução Acriana foi de 1899 a 1903, e teve uma série de altos e
baixos. A Bolívia tentou ocupar o Acre para garantir o uti possidetis;
não conseguiu. Ao cabo, arrendou-o ao Bolivian Syndicate em 1901 — com
os brasileiros dentro. Cito a página 70 da obra mencionada, que lista os
poderes da chartered company: "Direitos absolutos de administração
fiscal e policial. Exclusividade para as iniciativas de exploração do
território. Poderes para manter um exército. E uma pequena esquadra
também."
O
conflito teve muitas fases. No começo, os rebeldes eram financiados
pelo governador do Amazonas, que não queria perder as receitas dos
seringais para a Bolívia. O presidente Campos Salles, porém, não queria
comprar briga. E o Bolivian Syndicate ia tentando comer os brasileiros
pelas beiradas, fazendo crer que respeitaria os seus direitos. Na
guerra, havia três países formalmente envolvidos: o Brasil, a Bolívia
e... os Estados Unidos, cujo presidente era o pai do dono da empresa.
Até
que, em 1902, o Bolivian Syndicate decretou "um prazo de seis meses,
improrrogável, para que se registrem as medições e a demarcação de todas
as propriedades territoriais, sem o que não se concretizará a
legitimação da posse [dos brasileiros]. As propriedades não registradas
passarão a considerar-se baldias ou devolutas, outorgado à Bolívia o
poder de assumir-lhes a posse 'sem direito da mais leve oposição,
embargos ou protestos'." (Plácido de Castro, p. 86) Aí a luta passou a
ser dos próprios ocupantes, e não mais uma questão fiscal do estado do
Amazonas. E a revolução afinal tomou corpo com a liderança do caudilho
gaúcho Plácido de Castro, que se mudara para lá após deixar o exército.
Com um caudilho gaúcho e uma infantaria de seringueiros cearenses
fizeram-se as batalhas vitoriosas na selva amazônica.
Como
o cerne da questão era o dinheiro, o experiente Barão do Rio Branco
(agora José Maria Paranhos Júnior, pois era República), resolveu a
questão comprando o Acre da Bolívia, que assim pôde ressarcir o Bolivian
Syndicate sem que o papai Roosevelt tivesse que sujar as mãos. Plácido
de Castro, porém, foi assassinado numa emboscada poucos anos depois.
Muito
pouco se escreveu sobre tal personagem histórica; por isso, fica a
recomendação do livro supramencionado. Registro que ele deixou um
extenso diário (do qual o autor se serviu) e que se correspondeu com
Euclydes da Cunha. Plácido de Castro o acusa de plágio, como se pode ler
à p. 272. Por sua versão, Euclydes da Cunha teria pedido a ele
informações sobre a vida dos seringueiros no Acre e publicara a sua
monografia, em versão adulterada para despertar a piedade do público.
São
muitas as lições do Acre para nós. No séc. XXI, as novas chartered
companies alegam proteger os nossos índios de nós, mas, em vez de tentar
engabelar os brasileiros não-índios da Amazônia, expulsam-nos, para não
ter o risco do uti possidetis com os garimpeiros e arrozeiros. Mas o
maior ensinamento é moral: o Brasil é melhor do que as "modernidades"
dos capitalistas transnacionais, e pode vencê-los.
Postado há 3 weeks ago por Orlando Tambosi
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