BLOG ORLANDO TAMBOSI
O ataque foi realizado contra uma associação israelita em Buenos Aires, ha 29 anos. Leonardo Coutinho para a Gazeta do Povo:
No
próximo dia 18 de julho, os argentinos relembrarão os 29 anos do
atentado contra a sede da Associação Mutual Israelita de Buenos Aires
(Amia). Naquele dia, uma van carregada com 200 quilos de explosivos foi
detonada em frente à instituição, deixando um rastro de destruição, 86
mortos e mais de 300 feridos. Nesta semana, as autoridades argentinas
apresentaram novos nomes de acusados de envolvimento na trama. São
velhos conhecidos por seus vínculos com o grupo terrorista libanês
Hezbollah e seu patrono maior, o regime teocrático do Irã.
As
investigações indicam que a Amia foi pelos ares como parte de um plano
de vingança do Hezbollah contra Israel. Na realidade, há uma rara
confissão de autoria depositada nos arquivos da diplomacia argentina. No
dia 28 de maio de 1994, 51 dias antes do atentado, a Embaixada da
Argentina no Líbano transmitiu um telegrama descrevendo o conteúdo de um
sermão proferido pelo sheik Mohammad Hussein Fadlallah, então líder
espiritual do Hezbollah. O sheik Fadlallah não usou meias palavras para
protestar contra a prisão do terroristão Mustafa Dirani, então chefe de
segurança da milícia Amal, organização que naquele momento era pilotada
pelo Hezbollah.
Segundo
o telegrama, Fadlallah proclamou: “A resistência tem muito oxigênio. O
inimigo disse que tem tentáculos grandes, mas os combatentes muçulmanos
provaram depois do assassinato de Abbas Mousawi que suas mãos podiam
chegar até a Argentina”, fazendo uma referência a um outro atentado
ocorrido em 1992, também em Buenos Aires. Menos de dois meses depois, a
“mão do Hezbollah” alcançava mais uma vez um alvo judaico na América do
Sul.
Nesta
semana, os argentinos enviaram para a Interpol uma lista de quatro
nomes de libaneses que são acusados de envolvimento no atentado. Eles se
juntam a outros oito nomes que têm pedidos de captura expedidos, mas ninguém ousou cumprir.
A
nova lista traz nomes com vinculação direta com o Brasil. São libaneses
que tiveram negócios e/ou vivem no Brasil e alguns deles até são
brasileiros por meio da naturalização. Uma confirmação de que parte
importante da logística dos atentados na Argentina se deu em solo
brasileiro, conforme já está descrito neste link.
O
libanês Hussein Mounir Mouzannar, que faz parte da lista argentina,
teve uma empresa em Joinville (SC) e em 2019 teve um pedido de
naturalização negado pelo Brasil. Atualmente, ele vive em Mingua Guazú,
uma cidade nos arredores de Ciudad del Este, na Tríplice Fronteira.
Segundo os argentinos, Mouzannar foi quem providenciou os documentos
falsos para construir a identidade paraguaia para Salman Raouf Salman,
considerado um dos principais nomes da rede logística do atentado e que
faz parte da nova lista de pedidos de captura internacional.
Salman
Raouf Salman, que também é libanês, passou a viver no Brasil sob o nome
falso de Salman El Reda. Registros de organizações locais indicam que
ele viveu livremente no Brasil até os anos 90 e depois fugiu para o
Líbano. Os contatos e negócios de Raouf Salman seguem ativos na região.
O
terceiro nome da lista é Farouk Abdul Hay Omairi, que é um dos nomes
mais celebrados pela minoria radical que penetrou a comunidade xiita de
Foz do Iguaçu. Segundo a denúncia, Omairi usava sua agência de turismo
como uma espécie de sucursal do Hezbollah, trabalhando para construção
de identidades falsas, emitindo bilhetes aéreos e fazendo operações de
câmbio.
O
nome de Omairi entrou no radar das forças de segurança em 1988, quando
um membro do Hezbollah foi preso na Costa do Marfim com explosivos,
detonadores, granadas e um lança-foguetes. Na agenda do terrorista,
apareciam o nome de Omairi, seu endereço e telefone no Brasil. Ao lado, a
inscrição “bom irmão”.
A
pista não foi o suficiente para tirar Omairi de circulação e, tampouco,
interromper suas atividades. As investigações mostram que Omairi
manteve intensa comunicação com os acusados do atentado nos dias que
antecederam a explosão da Amia. Em 2006, ele foi incluído em uma lista
de pessoas sancionadas pelo Departamento do Tesouro dos Estados Unidos e
naquele mesmo ano, ele foi preso no Brasil acusado de tráfico de
cocaína. Por sinal, uma das atividades que o Hezbollah realiza no Brasil
em consórcio com o PCC. Omairi está em liberdade e vive em Foz do
Iguaçu.
O
quarto nome da lista, Abdallah Salman, é irmão de outro acusado, Salman
Raouf Salman, e vive no Líbano. Quando atuou na rede logística liderada
pelo irmão para realização do atentado contra a Amia, ele vivia em Foz
do Iguaçu, em um apartamento do quarto andar do Edifício Brasília, no
centro de Foz do Iguaçu.
Os
arquivos da investigação iniciada pelo procurador federal Alberto
Nisman, assassinado em 2015, um dia antes de apresentar uma denúncia
contra autoridades argentinas por encobrimento das investigações,
permite ver que a lista de envolvidos não para neste novo grupo
denunciado. Além de novos nomes, o Brasil vai ficando cada vez mais
exposto na trama por ter sido (e ainda ser) usado como um paraíso pelo
Hezbollah, que para o Brasil é uma organização oficialmente legítima e
não terrorista.
Ninguém pode negar que o Brasil é um paraíso.
Postado há 1 week ago por Orlando Tambosi
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