Gabriel Sabóia, Thiago Bronzatto e Thiago Prado
O Globo
Às portas de o Congresso votar projetos decisivos do governo Lula em meio ao funcionamento de CPIs, o presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL) avalia que a relação do Planalto com o Parlamento não é de “satisfação boa”. Ele promete trabalhar a favor das propostas econômicas, prevê uma “guerra de narrativas” na CPMI dos Ataques Golpistas e projeta que outros políticos de direita não errarão tanto quanto Jair Bolsonaro (PL).
Em sua avaliação, o ex-presidente é melhor cabo eleitoral do que candidato. Além disso, Lira critica a articulação política do governo; defende emendas do relator, reguladas pelo STF; e garante que não vai ‘sacanear’ o Planalto.
A CPI do MST pode virar outra bomba-relógio?
Estive com o pessoal do MST e disse que o agronegócio não
tem problema em conviver com a agricultura familiar, assim como os
assentados não são inimigos das terras produtivas. Surgiram mais
invasões à Embrapa e a terras produtivas de celulose, principalmente em
estados onde o governo estadual é aliado do governo federal. Qual é o
risco de não darmos um freio nisso logo? É que a turma do campo está
amedrontada, assustada e armada. Para acontecer um problema falta pouco.
Integrantes do governo já refutaram as invasões, mas não houve medidas
firmes para impedi-las efetivamente. Então, vai ter CPI.
A CPMI dos Ataques Golpistas pode atrapalhar o governo?
O governo tentou derrubar, mas se tornou inevitável depois
do vídeo do Gonçalves Dias (ex-ministro do Gabinete de Segurança
Institucional). A minha pergunta é o porquê deste vídeo não ter
aparecido antes. Quem segurou as imagens e decretou sigilo? Como foi
parar na mídia? Quem tinha acesso? Se foi o Gonçalves Dias, ele é o
homem de confiança do Lula. Se foi o GSI, isto também precisará ser
explicado. O governo também quer apurar quem estava por trás dos
movimentos nos quartéis, quem financiou e o que era a minuta do golpe.
Será uma guerra de narrativas. Mas garanto uma coisa: a pauta do
plenário continuará sendo tocada normalmente.
O senhor vai trabalhar para impedir seu rival Renan Calheiros de ser relator com apoio do governo?
Não tenho informação de ele querer nem sei dessa vontade
do governo. Mas o senador Renan, caso queira ser presidente da CPMI,
precisará de votos. Para ser relator, precisará construir um acordo. Não
depende do governo.
Quais são as expectativas para a votação do PL das Fake News nesta semana?
A oposição entrou na briga rasteira das plataformas. No
meu partido, os deputados que votaram favoráveis foram coagidos,
ameaçados por outros deputados. Está faltando bom senso a todos. E agora
entraram os artistas militando pela questão dos direitos autorais,
patrocinados pelo Ministério da Cultura e pelo Planalto. Teremos que
chamar líder por líder e contar votos.
Lula tem feito declarações polêmicas, como quanto ao conflito entre Rússia e Ucrânia. O que acha de falas como esta?
Acho que o ambiente da política da última eleição do Lula é
muito diferente do de agora. As redes sociais, a internet e os órgãos
de controle não tinham o tamanho que têm hoje. Toda fala tem peso. A
declaração dele sobre a Rússia com a Ucrânia teve muito peso nas
relações internacionais e comerciais do setor privado. Hoje você fala e
as coisas repercutem do Oiapoque ao Chuí em dez segundos. Um presidente
que tem 60 milhões de votos precisa ter cuidado com o que diz.
Nos bastidores, o mundo
político tem demonstrado incômodo com a influência da primeira-dama
Janja no dia a dia do governo. O que acha disso?
A primeira-dama é a esposa do presidente. Falar sobre a
atuação dela é um problema do governo. Se essa inquietude se tornar
externa e pública teremos um problema, já que o eleito foi o presidente
Lula. Ninguém governa sozinho. Ele tem que ouvir em quem confia, como os
ministros que indicou e os assessores.
Em breve, teremos um debate sobre a inelegibilidade de Bolsonaro. Qual a sua opinião?
Quem vai julgar deveria fazer uma avaliação. O eleitor de
direita se posicionou no Brasil. Ninguém vai tirar essa herança dos
quatro anos de Bolsonaro. Ele jogou fora a possibilidade de reeleição?
Sem dúvidas. Outro nome de direita como Romeu Zema, Tarcísio de Freitas
ou Ratinho Jr. vai desperdiçar essa chance e errar tanto? Então, talvez
Bolsonaro seja melhor cabo eleitoral do que candidato.
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