sábado, 29 de abril de 2023

Um amigo de ditadores e criminosos de guerra no 25 de Abril

 



Vamos dizer as coisas como elas são: Lula é o convidado de honra das celebrações do 25 de Abril. Tenham pelo menos coragem de assumir as decisões que tomam. João Marques de Almeida para o Observador:


Há quem não entenda as críticas da direita à vinda de Lula para discursar no Parlamento no dia 25 de Abril. Mas é muito fácil de entender. Como é costume, depois do erro inicial, a oligarquia política criou uma manha, querendo fazer dos portugueses estúpidos, afirmando que Lula não estará nas comemorações do 25 de Abril, mas fará um discurso umas horas antes. Vamos dizer as coisas como elas são: Lula é o convidado de honra das celebrações do 25 de Abril. Tenham pelo menos coragem de assumir as decisões que tomam.

O argumento de que Lula representa a democracia liberal resulta de um delírio absoluto ou de uma profunda ignorância sobre o percurso político de Lula e do PT. As suas referências foram sempre o pensamento revolucionário marxista e a ditadura comunista de Cuba, onde muitos dos fundadores do PT se exilaram durante o regime militar brasileiro. Na presidência e no governo, Lula e o PT foram pragmáticos por razões económicas, mas nunca foram liberais. Pelo contrário, reforçaram o peso do Estado na economia, usaram o banco brasileiro de desenvolvimento (BNDES) para fazer dirigismo económico e condicionamento industrial, à boa maneira de um capitalismo de Estado anti–liberal. Além disso, tudo fizeram para perpetuar o PT no poder, desde o caso do mensalão até ao lava jato. Considerar que um Presidente que comprou políticos de outros partidos para votarem a favor do seu governo no Congresso é um democrata liberal mostra uma cegueira analítica extraordinária.

É verdade que Lula lutou contra a ditadura militar brasileira e foi adversário de Bolsonaro, outro defensor do autoritarismo iliberal. Mas a oposição a ditaduras nunca transformou partidos e líderes políticos em democratas. Os portugueses sabem isso muito bem. O PCP lutou contra a ditadura do Estado Novo e nunca foi um partido democrata. Aliás, há vários exemplos pelo mundo fora de movimentos revolucionários e totalitários lutarem contra ditaduras.

Mas a actual versão de Lula parece ser ainda mais radical do que o Presidente da primeira década deste século. Numa guerra que define a posição em relação à democracia liberal, Lula está ao lado das ditaduras. Na recente visita à China, Lula não se limitou a apelar à paz. Foi muito mais longe. Ao lado de Xi, apoiou a Guerra de Putin. Por isso, convidou o MNE russo a visitar Brasília, e já tinha enviado o seu principal conselheiro de política externa, Celso Amorim, a Moscovo. Lula nunca enviou um representante a Kiev, nunca falou com Zelensky, nem nunca recebeu um ministro ucraniano. Quem quer a paz, fala com as duas partes de uma guerra. Pior, Lula responsabilizou a NATO e a UE pela Guerra e sugeriu que a Ucrânia cedesse a Crimeia, ocupada através de uma invasão militar, à Rússia. Ou seja, Lula passou duas semanas a atacar os valores fundamentais da democracia liberal.

O convite a Lula mostra a ligeireza dos responsáveis políticos portugueses. Olharam para a luta eleitoral entre Lula e Bolsonaro como a continuação da luta política contra o Chega em Portugal. É absolutamente ridículo. Não só dão uma importância exagerada a André Ventura, como colocam Lula, um radical amigo de ditadores, no mesmo plano do Presidente português, um moderado e defensor da democracia portuguesa. Esperemos que Lula, incapaz de moderar o que diz, não embarace demasiado os seus anfitriões no dia 25 de Abril. Mas uma coisa já sabemos: o convite a Lula, o amigo de ditadores e criminosos de guerra, é uma profunda ofensa à liberdade e à democracia dos portugueses.
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