domingo, 30 de abril de 2023

Inflação e violência enfraquecem esquerda na Argentina

 


Javier Milei e Patricia Bullrich ganham força com propostas críticas a Macri e ao peronismo e promessa de linha dura contra o crime e a inflação


Tribuna da Bahia, Salvador
28/04/2023 20:36
1 dia, 14 horas e 9 minutos
Foto: CEDOC/PERFIL

Por Carolina Marins

Conforme o cenário eleitoral vai se desenhando na Argentina, fica claro que a disputa pela presidência começa a sair do eixo peronismo versus oposição. Nas ruas, o sentimento é de descrença com toda a classe política e, representando este momento, o nome de Javier Milei surge espontaneamente na boca dos eleitores que esperam um milagre na economia. Entre os que buscam uma solução fácil para o aumento da criminalidade o nome que cresce é o de Patricia Bullrich, citada como exemplo de política “firme” para lidar com a segurança.

Segundo uma pesquisa divulgada nesta semana pelo jornal Clarín e feita pela Reale Dalla Torre Consultores, o aumento do custo de vida é a principal causa de preocupação para os argentinos na eleição deste ano, citada por 80% dos entrevistados. Logo em seguida vem a segurança pública, com 60%. Em meio à inflação acima de 100% e uma sensação de insegurança crescente, os argentinos esperam, cada vez mais, um salvador da pátria.

Walter Prieton 52, dono de uma loja de guloseimas no centro de Buenos Aires, diz que não sabe ainda em que vai votar, mas não acredita nem nos peronistas nem nos macristas. Mesmo sem escolher candidatos, o nome de Milei surge espontaneamente como uma opção. “Pelo menos é um economista, sabe o que tem que fazer”, afirma.

Rechaço à classe política

O discurso do deputado que mais lhe convence é o rechaço generalizado à classe política. “O que é importante que as pessoas vejam é que a casta política não tem nenhum interesse além do que tem a ver com o poder e a luxúria”, afirmou o candidato em entrevista ao canal LN+ no início deste mês.

Milei ataca Cristina Kirchner - e assim todo o peronismo ao seu redor - da mesma forma que ataca Horácio Larreta, o candidato da coalizão liderada por Maurício Macri. Segundo ele, ambos buscam apenas o poder e não olham para a população. Um pensamento compartilhado por Prieton e dezenas de outros argentinos que falaram com a reportagem.

“As pessoas estão muito nervosas com os governantes e aí o discurso do Milei é impecável, é muito bom e eficaz”, afirma Facundo Galvan, professor de Ciência Política na Universidade de Buenos Aires. “Vemos esse discurso antipolítica semelhante ao de Jair Bolsonaro.”

A pesquisa do Clarín, a primeira realizada após a retirada de Alberto Fernández da corrida eleitoral, dá sinais de consolidação de Milei como uma força para a presidência. Em um cenário sem Fernández, Maurício Macri e Cristina Kirchner - que ainda não é desconsiderada pelas pesquisas -, a coalizão Liberdade Avança, de Milei, empata com o Juntos pela Mudança, de oposição, e o Frente de Todos, governista,

Enquanto o governo, comandado pelos peronistas, à esquerda, e a oposição macrista, à centro-direita, brigam pela culpa da inflação a 104,%, Milei aparece nos programas de televisão prometendo fazer “as mudanças que ninguém tem coragem”. Formado em economia, o deputado utiliza termos técnicos para explicar o que pretende fazer para “parar a sangria” e sua maior proposta econômica é a da dolarização da economia, inspirando-se no ex-presidente Carlos Menem. Uma proposta criticada por muitos economistas, já que a Argentina enfrenta uma ausência de reservas em dólares.

Apesar do ceticismo do eleitor mais moderado, segundo a pesquisa Opina Argentina, realizada dias antes de Fernández desistir da candidatura, Milei tem a menor rejeição até o momento entre os principais candidatos à presidência.

Fonte: Agência Estado

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