sábado, 29 de abril de 2023

Folha comprova que Abin avisou a GDias e Dino sobre os atos violentos no dia 8



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Abin cumpriu seu dever e avisou sobre o risco de atentado

Thaísa Oliveira e Cézar Feitoza
Folha

Documentos obtidos pela Folha mostram que a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) enviou desde o dia 6 de janeiro alertas a Gonçalves Dias (Gabinete de Segurança Institucional) e ao Ministério da Justiça, já sob o comando de Flávio Dino (PSB), sobre a possibilidade de ações violentas e invasão a prédios públicos nos atos que ocorreriam dois dias depois, em 8 de janeiro.

Esses documentos foram enviados pela Abin à CCAI (Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência) do Congresso Nacional no dia 20 de janeiro. Os informes são mantidos em sigilo.

TODOS FORAM AVISADOS – Além do GSI, outros 13 órgãos receberam os comunicados, incluindo a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal, aponta o material que está em posse do Congresso.

No Ministério da Justiça, de acordo com os documentos da Abin, quem recebeu informes ao menos desde o dia 2 de janeiro foi a Diretoria de Inteligência. A partir do dia 6, a PF e a PRF (Polícia Rodoviária Federal) também começaram a ser atualizadas, daí já com menção à possibilidade de violência nos atos.

No caso do GSI, a Abin aponta que o próprio Gonçalves Dias recebeu em seu celular ao menos três alertas desde o dia 6.A existência de alertas da Abin na véspera dos ataques foi revelada pela Folha em 9 de janeiro. Os documentos obtidos agora mostram os destinatários, horários e a íntegra das informações repassadas pela agência de inteligência.

GSI E JUSTIÇA NEGAM – Procurados, o GSI e a Justiça negaram ter recebido os comunicados. A defesa de Gonçalves Dias — o ministro pediu demissão no último dia 19 — disse que não iria se manifestar.

A primeira mensagem, enviada pela Abin às 19h40 do dia 6, já dizia que havia o “risco de ações violentas contra edifícios públicos e autoridades”, a intenção de invadir o Congresso e o deslocamento de pessoas potencialmente armadas.

“A perspectiva de adesão às manifestações contra o resultado da eleição convocadas para Brasília para os dias 7, 8 e 9 jan. 2023 permanece baixa. Contudo, há risco de ações violentas contra edifícios públicos e autoridades”, dizia a mensagem, enviada a GDias —como o ex-ministro é conhecido— e também ao Ministério da Justiça.

MAIS ALERTAS – “Destaca-se a convocação por parte de organizadores de caravanas para o deslocamento de manifestantes com acesso a armas e a intenção manifesta de invadir o Congresso Nacional. Outros edifícios da Esplanada dos Ministérios poderiam ser alvo das ações violentas.”

Na manhã de 7 de janeiro, novo informe foi enviado ao ex-ministro e à pasta de Dino. O texto, repassado às 10h30, alertava para a chegada de 18 ônibus de outros estados para o acampamento em frente ao Quartel-General do Exército para “participar das manifestações”.

“Mantêm-se convocações para ações violentas e tentativas de ocupações de prédios públicos, principalmente na Esplanada dos Ministérios”, dizia trecho da mensagem.

TAMBÉM EM REFINARIA – Um informe ainda destacava que “caminhões tanque que transportam combustível não acessam a distribuidora de combustíveis anexa à refinaria (REVAP) de São José dos Campos-SP”. “Há presença de manifestantes autointitulados ‘patriotas’ no local”, completava.

Na manhã dos ataques, de acordo com o documento da Abin, GDias recebeu o primeiro aviso às 8h53 diretamente em seu celular. O texto dizia que cerca de cem ônibus haviam chegado a Brasília para “os atos previstos na Esplanada”. A mensagem foi enviada somente para o ex-ministro e não aos demais órgãos.

Às 9h, o segundo alerta foi enviado ao ex-ministro, à diretoria de Inteligência da pasta de Dino e aos órgãos do governo do Distrito Federal. O comunicado chamava atenção para o “incremento significativo no número de barracas” no acampamento em frente ao Quartel-General do Exército de sábado para domingo.

OUTROS AVISOS – “Estacionamento da Catedral Rainha da Paz lotado, com manifestantes fazendo churrasco e acompanhando a missa na igreja”, dizia a Abin no segundo alerta do dia.

Às 10h, a agência de inteligência enviou duas mensagens —desta vez a todas as autoridades que acompanhavam as atualizações. O texto dizia que continuava havendo “convocações e incitações para deslocamento até a Esplanada dos Ministérios, ocupações de prédios públicos e ações violentas”.

Às 13h23, quando a Abin já alertava sobre a presença de pessoas que se diziam armadas, o secretário de Segurança Pública em exercício do DF, Fernando de Sousa Oliveira —ex-número dois de Anderson Torres na pasta—, enviou um áudio ao governador Ibaneis Rocha (MDB) em que dizia que estava “tudo tranquilo”, e que os manifestantes tinham “topado” caminhar em direção à Esplanada de forma “pacífica, organizada, controlada”. A mensagem foi repassada pelo governador a Dino.

PRECISAR DO EXÉRCITO – Após o início dos ataques, às 16h43, o governador ainda disse ao ministro que “vamos precisar do Exército”, em referência a uma possível decretação de operação de GLO (Garantia da Lei e da Ordem) — opção descartada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Dino.

Apesar de, segundo o documento, os alertas terem sido enviados ao ministro do GSI a partir de 6 de janeiro, a Abin já vinha relatando a sete órgãos federais a situação de manifestações contra a eleição de Lula em rodovias e capitais.

Recebiam os informes o Centro de Inteligência do Exército, o Centro de Inteligência da Marinha, Assessoria de Inteligência de Defesa do Ministério da Defesa, a Diretoria de Inteligência do Ministério da Justiça, a ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres), o Ministério da Infraestrutura e a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações). A partir do dia 6, no entanto, o GSI, a PF, a PRF e órgãos subordinados ao governo do Distrito Federal —Polícia Militar, Polícia Civil e Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública— também foram incluídos nos informes da Abin.

O QUE ELES DIZEM… – Em depoimento à PF, o general Gonçalves Dias, conhecido como GDias, negou que tivesse recebido relatórios da Abin e disse que só soube dos alertas enviados pelas equipes de inteligência quando reuniu as informações para responder os questionamentos da CCAI.

O ministro da Justiça também negou ter recebido. Em entrevista ao site Metrópoles, Flávio Dino reforçou que não recebeu nenhuma informação da agência, e disse que isso possivelmente ocorreu pelo fato de as informações estarem sendo trocadas pelo WhatsApp.

“Inventaram que eu recebi um informe da Abin, que é tão secreto que ninguém nunca leu, nem eu mesmo. Por quê? Por uma razão objetiva: eu jamais o recebi”, disse em audiência na Câmara no mês passado.

A Folha procurou os advogados de Gonçalves Dias e o próprio general, que preferiram não se pronunciar. O GSI disse que o ex-ministro não recebeu os comunicados.

 

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