domingo, 27 de novembro de 2022

Elon Musk sonha em ganhar mais dinheiro e quer cobrar 8 dólares/mês pelo Twitter

 



O empresário Elon Musk

Musk quer que o usuário pague para operar no Twitter

Pedro Dória
O Globo

Elon Musk é um gestor tão caótico que, em meio à confusão generalizada instalada no Twitter, fica por vezes difícil entender se ele tem alguma ideia do que está fazendo. Mas há pistas de que ele tem, sim, um projeto para a rede social. Sua aposta faz sentido, mas não deixa de ser uma aposta. E, do jeito que ele pretende implementá-la, há riscos.

O primeiro sinal está no serviço de assinatura. A oferta, a princípio, não parece de muito — oito dólares ao mês, sabe-se lá quanto será no Brasil, para ter em troca o selinho azul. Entra no jogo um quê a mais: os tuítes de assinantes pagos terão prioridade na hora de aparecer para quem frequenta a rede.

É UMA NOVIDADE – Nenhuma das grandes redes se baseia num modelo de assinaturas. Em geral, o principal sustento vem de publicidade. É, portanto, ousado. Além disso, o selo azul tinha outro motivo de existência. Foi inventado pelo próprio Twitter, à medida que vinha sendo povoado por gente com influência no debate público.

Servia para garantir, a quem lê, que aquela conta de fato pertence à pessoa ou empresa que assina. Certeza de autenticidade da origem é importante se estamos numa conversa que gera notícia, que tem impacto, que é relevante.

Pois é: o segundo sinal vem de tuítes soltos publicados por Musk. Ele afirmou que vê a plataforma como voltada para notícias grandes em tempo real. Insistindo no conceito, ordenou que toda a equipe do Twitter pusesse todo o foco, nestas semanas, na Copa do Mundo. O bilionário defende que, no universo digital, sua plataforma é e será cada vez mais o melhor local para acompanhar o que está acontecendo no planeta.

VICIAR O USUÁRIO – Juntas, as duas ideias fazem bastante sentido. Dão liga. O mal de origem da desinformação é um algoritmo que procura fazer com que os usuários não saiam nunca da rede. Se viciem. Fiquem voltando e voltando. O sistema procura o tipo de conteúdo que dá maior engajamento e isso, com frequência, é o que insufla rivalidades, mexe com emoções fortes, atiça preconceitos.

É um terreno fértil para políticos demagogos e para quem opera profissionalmente com a mentira. Ganham todos os que desejam uma sociedade artificialmente dividida.

As empresas de redes sociais não mudam esse algoritmo por uma única razão: vivem de publicidade. Precisam que as pessoas voltem muito, com frequência, sejam expostas a propaganda toda hora. No momento em que a empresa faz dinheiro com assinaturas mais que com anúncios, o algoritmo deixa de insuflar o frenesi. Ao contrário, vai querer fazer daquela uma experiência que traga valor real. E, se o objetivo é noticiar, credibilidade passa a ser importante.

ESTILOS DIFERENTES – No mundo da imprensa, já é assim faz muitas décadas. Jornais populares, que vivem da venda em banca um dia após o outro, carregam manchetes e fotos sensacionalistas. Os outros, que vivem de assinantes, precisam oferecer temperança e, claro, credibilidade.

O modelo que Musk tem em mente, portanto, faz sentido para o Twitter. É preciso ver, porém, se pode conviver com a ideologia do empresário por trás da Tesla e da SpaceX. Musk, como libertário, flerta abertamente com a extrema direita e vem trazendo de volta muita gente que foi expulsa por desinformar. Ele próprio dissemina teorias conspiratórias sem piscar. Quando o marido da presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, foi atacado e ferido com gravidade, Musk tuitou: “Estava bêbado”. Não, não estava. Fake news da direita trumpista.

O modelo para a rede é bom. A dúvida é se terá chance diante da gestão caótica e da imaturidade política do CEO.

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