BLOG ORLANDO TAMBOSI
Uma grande razão para isso é que crimes violentos são geralmente motivados por discussões, rancores pessoais, insultos percebidos e conflitos interpessoais semelhantes, não pela necessidade econômica. Barry Latzer para o City Journal, com tradução para a Gazeta do Povo:
Muitos
analistas, assim como o público em geral, acreditam que a pobreza é uma
das maiores causas de crime, se não a maior. Mas um novo estudo de um
grupo de pesquisa da Universidade Columbia faz-nos recordar de algo que a
história mostrou repetidamente: que a relação entre a pobreza e o crime
está longe de ser previsível ou consistente. O estudo da Columbia revelou
a espantosa notícia que quase um quarto (23%) da população novaiorquina
de origem asiática estava empobrecida, uma proporção que supera a da
população negra da cidade (19%). Isso foi uma surpresa, dada a percepção
comum de que os asiáticos estão entre os grupos sociais mais ricos do
país. Mas o estudo contém um aspecto ainda mais espantoso: na cidade de
Nova York, o índice relativamente alto de pobreza entre os asiáticos
está acompanhado por incidências de crime excepcionalmente baixas. Isso
derruba a crença comum de que a pobreza e a criminalidade andam juntas.
Os
asiáticos continuamente tinham índices baixos de encarceramento por
crime violento — geralmente menores que a sua proporção na população,
menores que as de negros e hispânicos, e, em uma categoria (agressão),
até menores que as de brancos, que, em conjunto, são pobres muito mais
raramente.
Usando
dados do Departamento de Polícia de Nova York, calculei os índices de
encarceramento por crimes violentos em cada grupo social, levando em
conta o tamanho da população de cada um.
Índices de Encarceramento por Crimes Violentos por 100 mil casos em Grandes Grupos Sociais, Nova York, 2020
Fonte: NYPD, Crime e Atividade Penal na Cidade de Nova York (1º de janeiro a 31 de dezembro de 2020)
Com
valor de 1,2 por 100 mil, o índice de prisão por assassinato cometido
por asiáticos foi de quase um quinto do índice dos negros. Se a pobreza
fosse a principal causa de crime, esperaríamos que o índice dos
asiáticos fosse tão alto, se não maior, que o dos negros. Que o índice
dos asiáticos é relativamente baixo é algo que ilustra o que eu chamo de
“desacoplamento crime/adversidade”, um fenômeno recorrente. Como eu
observo na minha história do crime:
“Ao longo da história americana, grupos sociais diferentes cometeram
quantidades diferentes de crimes violentos, e nenhuma relação
consistente entre a extensão da desvantagem socioeconômica de um grupo e
seu nível de violência é evidenciada.”
No
que se refere a crimes violentos — assassinato, agressão, roubo e
similares — a história tem um enredo complicado. No fim do século XIX e
começo do século XX, imigrantes pobres judeus, poloneses e alemães
tinham índices de crimes relativamente baixos, enquanto recém-chegados
italianos, mexicanos e irlandeses em desvantagem cometiam crimes
violentos em índices mais altos. Esse desacoplamento crime/adversidade
também parece ser um fenômeno global. Na Grã-Bretanha, por exemplo, um
criminologista observou
que “todos os grupos minoritários com índices elevados de crime e
encarceramento têm desvantagens sociais e econômicas, mas alguns grupos
étnicos minoritários desfavorecidos não têm índices elevados de
criminalidade”. Lá, também, era o caso que os asiáticos eram mais
desfavorecidos que os negros, mas os últimos tinham índices criminais
muito mais altos.
Por
que é que a pobreza não está relacionada de forma consistente com o
crime? Uma grande razão para isso é que crimes violentos são geralmente
motivados por discussões, rancores pessoais, insultos percebidos e
conflitos interpessoais semelhantes, não pela necessidade econômica. Em
consequência, não é provável que o declínio na condição financeira de
alguém cause comportamento criminoso violento. Isso explica por que
motivo uma recessão ou depressão econômica não leva invariavelmente a um
pico nos crimes. Na segunda metade dos anos 1930, por exemplo, o crime violento caiu,
mesmo com o país passando por alguns dos piores anos da Grande
Depressão. Da mesma forma, durante a Grande Recessão de 2007-2009,
quando a economia entrou em declínio, o crime caiu.
Quanto
ao comportamento de grupo, os fatores culturais ajudam a explicar as
diferenças em níveis de crimes violentos. Os afro-americanos, por
exemplo, exibiram índices altos de crime violento desde o fim do século
XIX até o presente. Esses padrões derivam de suas origens sulistas, onde
os brancos tinham índices mais altos de violência que os brancos de
outras regiões. Imigrantes iniciais da Irlanda e da Itália também
exibiam índices altos de criminalidade até que, subindo para a classe
média, descobriram que tal violência havia se tornado flagrantemente
autodestrutiva. Desse modo, a história e experiência de um grupo, não
determinantes biológicos como a cor da pele ou a raça, levam a
comportamentos violentos.
Como
vimos no caso da imigração irlandesa e italiana para os Estados Unidos —
e um dia veremos na população americana negra e latina — a mobilidade
social para a classe média está associada com uma diminuição acentuada
nos crimes violentos. As razões para isso são facilmente apreciáveis. A
pessoa de classe média tem tudo a perder e pouco a ganhar com a
violência interpessoal: lesões, perda de status e sanções penais. Além
disso, a esfera cível oferece alternativas efetivas para resolver
disputas pelas quais indivíduos de classe média podem pagar.
Agora
podemos entender melhor por que tantos criminosos são de baixa renda.
Não é a pobreza que causa o crime, mas, em vez disso, são as pessoas
mais abastadas que evitam o conflito violento, efetivamente cedendo o
campo para os pobres.
A
esquerda e a direita concordam que a mobilidade das minorias para a
classe média reduzirá o crime. Discordam, no entanto, a respeito da
melhor forma de chegar lá. Isso é assunto para outra conversa.
Barry
Latzer é professor emérito de justiça penal no John Jay College of
Criminal Justice, Universidade da Cidade de Nova York. Seu livro mais
recente, O Mito do Punitivismo: Uma Defesa do Sistema de Justiça
Americano e uma Proposta para Reduzir o Encarceramento e Proteger o
Público (trad. livre; Republic Books) está disponível como e-book e será
lançado em edição impressa no próximo mês.
Nenhum comentário:
Postar um comentário