BLOG ORLANDO TAMBOSI
Imagens chocantes mostrando resultado de caçada fechada na Espanha e de futebolista francês agredindo seu pet provocam revolta geral. Vilma Gryzinski:
Ser
legal não significa ser justo, argumentou uma organização de proteção
dos direitos dos animais diante do vídeo feito numa fazenda da região de
Córdoba.
As
imagens mostram 447 cervos e javalis enfileirados – para cumprir,
ironicamente, normas sanitárias -, depois de ser abatidos por caçadores
que pagaram 1 000 euros por cabeça. Detalhe: a propriedade rural onde
aconteceu a caçada é cercada, o que impossibilita a fuga de qualquer
animal. A caçada vira “caçada”.
A
associação de caçadores disse que, além de legal, a matança mantém o
equilíbrio ambiental e controla espécies que não têm mais predadores
naturais. A carne dos animais abatidos é aproveitada, para consumo local
ou exportação.
Todos os argumentos estão certos – o que não significa que ver tantos animais silvestres sacrificados seja menos chocante.
Evitar
o sofrimento animal é um dos imperativos morais mais complicados que
existem, pois o “rei das feras”, como o provavelmente vegetariano
Leonardo da Vinci chamava o homem, tem uma alimentação mais eficiente
com o consumo da carne.
Às
vezes, a exigência não tem complicação nenhuma. É o que está
acontecendo com Kurt Zouma, jogador do West Ham e da seleção francesa.
Filmado pelo irmão, Yoan,que também é jogador, agredindo um de seus dois
gatos da raça bengal – delicados leopardos em miniatura -, Zouma
provocou reações em cadeia que ainda estão se propagando.
O
gato aparentemente faz alguma coisa fora da caixa de areia. Zouma o
agarra, dando um chute que faz o animal atravessar a cozinha de sua casa
em Essex, na Inglaterra. Depois joga dois pés de tênis no bicho,
refugiado debaixo da mesa de jantar. Quando uma criança pega o gato, o
jogador dá um tapa que faz o gato voar.
Poucas
coisas provocam reações tão unânimes na Inglaterra quanto maltratar
animais. O abaixo-assinado de protesto não para de aumentar. O West Ham
tentou administrar a revolta avisando que o jogador seria multado em
duas semanas de salário – 250 mil libras, oito vezes mais em reais,
dinheiro que seria destinado a entidades de proteção aos animais.
Também
mandou Zouma divulgar um pedido de desculpas daqueles escritos por
advogados. “Não há justificativas para o meu comportamento”, diz a nota.
“Posso
garantir que nossos gatos estão perfeitamente bem e com saúde. São
amados e queridos por nossa família e este comportamento foi um
incidente isolado que não se repetirá”.
Não
mesmo: a Real Sociedade de Proteção aos Animais tirou os gatos da casa
do jogador e abriu uma investigação própria, como permite a lei.
Na
França, a Fundação 30 Milhões de Amigos, a maior do gênero, mobilizou
advogados para entrar com uma queixa contra o jogador, mesmo que a
agressão tenha acontecido fora do país. O crime de maus tratos a animais
pode ser punido com até quatro anos de prisão segundo legislação em
vigor desde o ano passado.
O
West Ham, um time do povão da zona leste de Londres, demorou para
perceber o tamanho da encrenca e escalou Zouma para um jogo no domingo. O
jogador foi vaiado cada vez que tocou a bola, tanto pelos adversários,
do Watford, quanto pelos próprios torcedores.
Agora, ele está fora da próxima partida. Perdeu o contrato com a Adidas e dois patrocinadores do time caíram fora.
Zouma,
um francês de Lyon, filho de emigrantes da República Centro-Africana,
provocou uma crise por motivo nunca visto no mundo do futebol, onde
geralmente é o envolvimento abusivo com gatas humanas que causa
escândalos.
“Muitas
pessoas estão dizendo que este jogador não pode mais usar as cores da
França”, disse uma porta-voz do Partido Animalista francês – existe e
tem uma candidata a presidente com 2% das preferências.
Outra
candidata, Marine Le Pen, a direitista simpática à causa animal,
disparou: “É uma vergonha. Continuo a achar que os que praticam
crueldade contra animais que não podem se defender são igualmente
capazes de crueldade contra os homens. A violência nunca é anódina”.
Na
Espanha das cenas chocantes do resultado da caçada fechada aos cervos e
javalis, existe um precedente enorme de desastre de imagem que a
questão animal pode causar. O rei Juan Carlos começou a desabar em 2012,
quando sofreu uma queda durante uma caçada em Botsuana, um luxo bancado
por um xeque árabe, na companhia da amante alemã.
Por
causa do incidente, começaram a circular fotos de caçadas com grandes
animais abatidos – tudo legalmente, embora desastroso em termos de
relações públicas.
Dois
anos depois, ele abdicou em favor do filho. Hoje, vive em Abu Dabi,
impedido de voltar ao país pelo peso negativo que isso teria para o
sucessor, embora tenham sido encerradas as investigações por corrupção
passiva e evasão fiscal.
Imagens
que falam por si são poderosas e quando mostram abusos, de qualquer
tipo, provocam uma revolta moral que não é fácil de controlar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário