BLOG ORLANDO TANBOSI
Jornalistas da Folha de S.Paulo assinaram uma carta aberta em protesto a conteúdos considerados racistas publicados no veículo. Eis a íntegra (61 KB). A adesão foi de 186 jornalistas, sendo 164 assinaturas nominais. É o mesmo que reivindicar censura. Que escolinhas "formaram" essa gente?
No
documento, os profissionais expressam preocupação com a publicação
recorrente de conteúdos racistas nas páginas do jornal. A carta foi
entregue à Secretaria de Redação e Conselho Editorial da Folha.
“Sabemos
ser incomum que jornalistas se manifestem sobre decisões editoriais da
chefia, mas, se o fazemos neste momento, é por entender que o tema
tenha repercussões importantes para funcionários e leitores do jornal e
no intuito de contribuir para uma Folha mais plural”, diz o texto.
O
motivo para a carta teria sido o artigo de opinião intitulado “Racismo
de negros contra brancos ganha força com identitarismo”. O texto de
Antonio Risério, publicado no domingo (16.jan.2021), “identifica
supostos excessos das lutas identitárias, que estariam levando a
racismo reverso”, diz o texto.
Leia a carta na íntegra
Carta aberta de jornalistas da Folha à direção do jornal
Caros membros da Secretaria de Redação e do Conselho Editorial da Folha,
Nós,
jornalistas da Folha aqui subscritos, vimos por meio desta carta
expressar nossa preocupação com a publicação recorrente de
conteúdos racistas nas páginas do jornal.
Sabemos
ser incomum que jornalistas se manifestem sobre decisões editoriais da
chefia, mas, se o fazemos neste momento, é por entender que o tema
tenha repercussões importantes para funcionários e leitores do jornal e
no intuito de contribuir para uma Folha mais plural.
O
episódio a motivar esta carta foi a publicação de artigo de opinião
intitulado “Racismo de negros contra brancos ganha força com
identitarismo” (Ilustrada Ilustríssima, 16/1), em que Antonio Risério
identifica supostos excessos das lutas identitárias, que estariam
levando a racismo reverso.
Para
além de reafirmarmos a obviedade de que racismo reverso não existe,
não pretendemos aqui rebater o que afirma o autor —pessoas mais
qualificadas do que nós no tema já o fizeram, dentro e fora do jornal.
No entanto, manifestamos nosso descontentamento com o padrão que vem se repetindo nos últimos meses.
Em
mais de uma ocasião recente, a Folha publicou artigos de opinião ou
colunas que, amparados em falácias e distorções, negam ou relativizam
o caráter estrutural do racismo na sociedade brasileira. Esses textos
incendeiam de imediato as redes sociais, entrando para a lista de mais
lidos no site. A seguir, réplicas e tréplicas surgem, multiplicando a
audiência. A controvérsia então se estanca e morre, até que um novo
episódio semelhante surja.
Antes do artigo em questão, colunas de Leandro Narloch e Demétrio Magnoli cumpriram esse papel.
Acreditamos
que esse padrão seja nocivo. O racismo é um fato concreto da
realidade brasileira, e a Folha contribui para a sua manutenção ao dar
espaço e credibilidade a discursos que minimizam sua importância.
Dessa forma, vai na contramão de esforços importantes para enfrentar o
racismo institucional dentro do próprio jornal, como o programa de
treinamento exclusivo para negros.
Reconhecemos
o pluralismo que está na base dos princípios editoriais da Folha e a
defesa que nela se faz da liberdade de expressão.
No
entanto estes não se dissociam de outros valores que o jornalismo deve
defender, como a verdade e o respeito à dignidade humana. A Folha não
costuma publicar conteúdos que relativizam o Holocausto, nem dá voz a
apologistas da ditadura, terraplanistas e representantes do movimento
antivacina.
Por que, então, a prática seria outra quando o tema é o racismo no Brasil?
Se
textos como o de Antonio Risério atraem audiência no curto prazo, sua
consequência seguinte é minar a credibilidade, que é, e deve ser, o
pilar máximo de um jornal como a Folha.
Por
esses motivos, convidamos a uma reflexão e uma reavaliação sobre a
forma como o racismo tem sido abordado na Folha. Acreditamos que buscar
audiência às expensas da população negra seja incompatível com
estar a serviço da democracia. (Poder360).
BLOG ORLANDO TAMBOSI
Nenhum comentário:
Postar um comentário