Coluna de Carlos Brickmann, publicada nos jornais de quarta-feira, 29 de setembro:
Acredite
se quiser: o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, pediu ao Governo
que demita por suspeita de corrupção as pessoas que ele mesmo indicou
para a diretoria do Banco do Nordeste. Costa Neto foi condenado e
cumpriu pena como mensaleiro, quando era ligado ao Governo Lula. Foi ele
que, por uma divergência de, digamos, contabilidade, com o então
ministro José Dirceu, homem forte do Governo, denunciou o Mensalão (e
acabou vítima dele – quem o acusou mais duramente foi sua ex-esposa,
Maria Christina Mendes Caldeira). Ficou famosa sua frase sobre Dirceu,
que segundo ele “despertava seus mais baixos instintos”.
E
agora? Bolsonaro o consultou sobre a denúncia de contratação, pelo
Banco do Nordeste, por R$ 583 milhões, de uma ONG que, dizia, era ligada
ao PT. Costa Neto disse que a contratação era suspeita e inaceitável e
encaminhou ao ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, seu colega de
Centrão, ofício em que pede a demissão do presidente do Banco do
Nordeste, Romildo Rolim, e de toda a diretoria.
O
problema de Costa Neto certamente não é a ligação da ONG com o PT,
partido do qual já foi próximo; provavelmente não concorda com a fórmula
de distribuição das verbas, já que leva a aritmética muito a sério. E,
para que não haja dúvidas sobre sua posição, além de mandar o ofício
gravou em vídeo o pedido de afastamento de seus indicados.
A próxima crise
Lembre-se:
nas duas vezes em que enfrentou paralisações de transporte de carga,
Bolsonaro concordou com os donos de frotas e os caminhoneiros em que o
diesel estava muito caro e oscilava demais, e era preciso dar um jeito
nisso. O pessoal dos caminhões acreditou – e o diesel acaba de subir
mais de 8%. É o nono aumento dos combustíveis em oito semanas. E um dos
diretores da Petrobras (subordinado ao general que Bolsonaro nomeou para
a presidência da empresa) informa que a petroleira, que neste ano já
lucrou mais de R$ 40 bilhões, verifica a possibilidade de novos
aumentos. Haveria a possibilidade de criar um fundo que, sem prejudicar a
empresa, amenizasse a flutuação de preços? Sim – mas dá trabalho
formatá-lo, e trabalhar cansa.
Donos de frotas e caminhoneiros aceitarão mais promessas para o futuro?
Gás explodindo
E
há o caso do gás engarrafado a R$ 120,00. Se houver algo para cozinhar,
com a inflação dos alimentos, como arcar com o gás a esse preço?
Janaína e o passaporte
A
deputada mais votada do país, Janaína Paschoal, uma das políticas mais
lúcidas do bolsonarismo, está preocupada com o passaporte sanitário e as
medidas que obrigam os cidadãos a se vacinar, mesmo não sendo
obrigatória a vacinação. “A maioria dos brasileiros quer se vacinar”,
diz Janaína, “mas não há respaldo jurídico para a obrigatoriedade”.
E
completa: “Estão criando em nosso país uma forma de discriminação
politicamente correta”. É sempre bom e prudente ouvir as opiniões de
Janaína Paschoal.
A guerra tucana
Começam
a esquentar as prévias tucanas para escolher o candidato do PSDB à
Presidência da República. Há hoje três candidatos: os governadores de
São Paulo, João Doria; do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite; e o prefeito
de Manaus, Arthur Virgílio. Doria e Leite são os favoritos. Leite
conquistou o apoio do cacique tucano do Ceará, Tasso Jereissati, que
desistiu em seu favor. É o favorito no seu Estado, no Paraná e Minas
Gerais, e cresce, com o apoio de Tasso, no Nordeste.
Doria
é favorito em São Paulo (Estado com o maior número de votos),
Tocantins, Distrito Federal e Pará. Virgílio corre por fora. A votação
deve ocorrer em 21 de novembro, em primeiro turno, e 28 de novembro, em
segundo. A decisão é de um colégio eleitoral que reúne quatro grupos,
com pesos iguais: filiados; prefeitos e vice-prefeitos; vereadores,
deputados estaduais e distritais (os de Brasília); governadores, vices,
deputados federais, senadores, presidente e ex-presidentes do PSDB.
Vale tudo
A
zona rural de Santa Filomena, Piauí, já tem Internet banda larga para
estudantes e professores. Mas, a cada vez que usam Internet, todos são
expostos a 30 segundos de propaganda do Governo Federal. Diz o
Ministério das Comunicações que é para balancear “as notícias contra o
presidente”.
Poder x poder
Grandes
empresários preocupados com o meio ambiente (e não apenas com isso: com
a possibilidade de que a má gestão ambiental crie um clima favorável ao
boicote de produtos brasileiros) assinaram documento em que defendem
que o Brasil apresente objetivos ambiciosos de redução de emissões de
gás carbônico e de defesa da floresta amazônica. O estudo será enviado
ao Governo brasileiro e levado para a conferência da ONU a respeito de
mudanças climáticas, a COP 26, em Glasgow, Escócia.
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