Coluna de Carlos Brickmann, publicada nos jornais de quarta-feira, dia 26 de maio:
A
todos os caros leitores, parabéns! A todos os cidadãos, parabéns! Neste
sábado, dia 29, acaba seu período obrigatório de trabalhar só para
encher os cofres do Governo (todos os governos: municipal, estadual,
federal). Apenas a partir da semana que vem poderemos trabalhar para nós
e nossas famílias. É neste sábado que se encerra o período de
escravidão, 149 dias em que tudo o que produzimos se destina
exclusivamente ao pagamento de tributos.
O
cálculo é sério, de uma entidade respeitada, o Instituto Brasileiro de
Planejamento e Tributação. Está no Estudo sobre os dias trabalhados para
pagar tributos. Mais um detalhezinho? Este estudo é realizado
anualmente desde 2006 – na época, trabalhávamos um pouco menos para
sustentar os lá de cima, 145 dias. Ah, sim: ontem, 25, foi o Dia
Nacional do Contribuinte. Imaginemos Suas Excelências, cercados de
seguranças, olhos cobiçosos de desejo, salivando e esfregando as mãos:
“Contribuinte... hoje é o seu dia”.
Há
outros países em que os impostos são altos. Na Suécia, por exemplo, há
poucos médicos particulares: o serviço de saúde pública os torna quase
desnecessários. O cidadão é cuidado “do berço ao túmulo”. Nos EUA, em
escolas públicas, há alunos normais e alguns que se destacam. Estes, os
gifters, vão para uma classe especial, onde o ensino é mais puxado. Se
um aluno se destaca muito, o Governo o coloca numa escola para
superdotados. Em Portugal, o seguro-saúde custa € 4,50 ao mês.
Brasil acima de todos!
Gasta-se muito, gasta-se mal
Há
poucos dias, Fernando Schuler, diretor do Insper, contou uma visita à
Suécia. Perguntou a uma deputada quantos assessores cada deputado tinha.
Ela respondeu: um. Mas a assessoria é coletiva.
No
Brasil, deputado federal tem 25 assessores. No Senado, mais de 50. Há
as consultorias legislativas e os 28 mil funcionários do Congresso. É o
segundo parlamento mais caro do mundo. A Justiça também é cara: custa
1,8% do PIB, contra 0,33% da média europeia. Claro: onde mais haverá
funcionários para puxar a cadeira de Suas Excelências, e mais garçons do
que ministros ou desembargadores? E 13% do PIB são gastos com
servidores públicos, mais do que se gasta na Alemanha e na Suécia, onde
há muito mais serviços estatais à população.
Os números por inteiro
Quer o retrato completo de como os lá de cima desperdiçam seu dinheiro? Está em https://go.shr.lc/34eEgIn, por Alexandre Schwartsman.
Palácios, lagostas...
Angela
Merkel, a política mais importante da Europa, mora no mesmo local em
que vivia antes de chegar ao poder na Alemanha, um dos países mais ricos
do mundo. Já foi vista por um jornalista brasileiro no Feinkost, um
supermercado, comprando queijo, presunto, pó de café, algumas frutas:
típica compra de lanche noturno. Sem pompa nenhuma. Não tem empregada em
casa.
No
Brasil, o presidente da República trabalha num palácio, mora em outro,
tem um palácio no Rio; o governador de São Paulo mora e trabalha no
mesmo palácio, mas tem outro no Horto Florestal, onde a temperatura no
verão é mais amena. Cada desembargador tem carro oficial e motoristas.
Na Justiça americana, só o presidente da Corte Suprema tem carro
oficial. E os ministros da Corte não têm imóveis públicos para morar. Em
Londres, o prefeito recebe de graça um vale-transporte para os
transportes públicos. A esposa de um novo primeiro-ministro israelense
foi convidada para visitar a Embaixada americana, aceitou e perguntou
qual ônibus passava por lá.
Lagosta,
picanha de R$ 1.800,00 o quilo, com o churrasqueiro viajando dois mil
quilômetros para prepará-la... ok, alguns dirigentes de outros países
devem se dar a esses luxos. Mas pagam suas contas com seu dinheiro. Na
Casa Branca, o presidente come de graça em recepções oficiais. No dia a
dia, recebe a conta de suas refeições e de sua família. País pobre é
pão-duro.
Águas passadas
O
presidente Bolsonaro é muito jovem para ter visto o que é volubilidade.
No dia 23 de agosto de 1954, multidões se manifestavam no Rio pedindo a
deposição do presidente Getúlio Vargas. Vargas se suicidou e multidões
se manifestaram no Rio querendo linchar seus adversários políticos.
Em
13 de março de 1964, diante de uma multidão imensa, o presidente João
Goulart comandou o Comício das Reformas. Assinou decretos em meio a
aplausos, fez o que queria. Confiava em seu “dispositivo militar”: o
general Jair Dantas Ribeiro, ministro da Guerra, o general Assis Brasil,
chefe da Casa Militar, os comandantes dos quatro Exércitos (um deles
seu velho amigo, o general Amaury Kruel), dezenas de generais (os
“generais do povo”) que se alojavam nas estatais, almirantes,
brigadeiros, milicianos (os Grupos dos 11, de Leonel Brizola, as Ligas
Camponesas, de Francisco Julião). Em 25 de março, cabos e sargentos se
rebelaram contra seus comandantes, com o apoio discreto do presidente
Goulart.
Em 31 de março, sem qualquer resistência, Goulart estava deposto – inclusive por seu amigo Amaury Kruel.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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