domingo, 28 de fevereiro de 2021

Trump se submete ao Facebook, mas a imprensa descobre que pode vencer as redes sociais

 


An Internet Without Trump | WIRED

A imprensa dos EUA não se interessa mais por Donald Trump

Nelson de Sá
Folha

O cancelamento de Donald Trump em mídia social, a partir da primeira semana de janeiro, sobretudo por Facebook e Instagram, foi completado por sua supressão no noticiário americano. Trump sumiu de canais como CNN e MSNBC e até da Fox News de Rupert Murdoch, que se distanciou mais e mais. Também dos jornais.

Compreende-se assim, porque mal se noticiou, nesta semana, o apelo humilde que o ex-presidente dos Estados Unidos fez à chamada “suprema corte” do Facebook, para restaurar seu acesso.

NÃO HÁ PRESSA – Foi preciso que o site Insider, do grupo alemão Axel Springer, destacasse o trecho de uma entrevista da presidente da “corte” ao inglês Channel 4, confirmando ter recebido o pedido do “usuário” e dizendo não ter pressa para divulgar sua recomendação, talvez em abril.

Mark Zuckerberg, dono do Facebook, decidirá então se Trump pode voltar a ter voz em suas plataformas. Decisões semelhantes vêm espalhando tensão por outros países. Na quarta-feira (24), por exemplo, o Facebook decidiu derrubar todas as páginas ligadas ao novo governo de Mianmar.

No dia anterior, restaurou os links dos veículos jornalísticos australianos —que havia derrubado uma semana antes— depois de obter mudanças no projeto que regula a remuneração por uso de notícias pelas plataformas.

BLECAUTE DE NOTÍCIAS – “O Facebook agora pode oferecer a quantia que quiser, inclusive nada, sem risco de multa”, resumiu o Nieman Lab, de Harvard. Mas o blecaute de notícias serviu também para abrir os olhos das redações australianas e de outras pelo mundo.

Um dado chamou a atenção, de imediato: assim que os links da rede estatal de televisão ABC deixaram as plataformas, seu aplicativo disparou nas lojas de Apple e Google, tomando o primeiro lugar na Austrália.

No meio do confronto, o Instituto Reuters para o Estudo do Jornalismo, ligado à agência, foi entrevistar Sinead Boucher, executiva que desde 2017 comanda o Stuff, grupo noticioso neozelandês de maior audiência. São 400 jornalistas, a maior redação da Nova Zelândia, com diversas marcas, inclusive alguns dos principais diários do país.

FORA DAS REDES – Diante do blecaute na vizinha Austrália, a entrevista questionou-a sobre os efeitos da decisão do Stuff, em julho do ano passado, de retirar todo o seu conteúdo do Facebook e do Instagram.

A saída, na verdade, havia começado em 2019, quando o grupo parou de gastar com publicidade nas plataformas depois do massacre de Christchurch — quando um australiano matou 51 muçulmanos em duas mesquitas, com transmissão ao vivo pelo Facebook. Aquela primeira medida, conta Boucher, já mostrou “efeito zero no nosso tráfego”.

Na segunda iniciativa, ao retirar todo o conteúdo, o tráfego até aumentou, em 5%, embora o dado deva ser relativizado porque foi ano de eleição e pandemia, que resultariam em crescimento maior.

NÃO HOUVE A QUEDA – “Nós achamos que podíamos ter crescido mais, mas não foi desastroso, de forma alguma”, diz A diretora Boucher. “Estávamos preparados para uma grande queda, e isso não aconteceu.”

Voltando à Austrália, uma constatação paralelafoi que as plataformas se tornaram menos polarizadas com o blecaute, sem os comentários furiosos sobre as notícias.

“Facebook não é lugar para notícias ou para organizações noticiosas” concluiu Emily Bell, da Universidade Columbia, de Nova York.

 

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