domingo, 31 de janeiro de 2021

O Jogo da Glória do "cartilheiro" socialista

 



Nas mãos de loucos, para cúmulo loucos mentirosos, para cúmulo mentirosos incompetentes, Portugal lançou-se à maluca para um desastre sanitário, uma pobreza sem fim e uma repressão sem regresso. A crônica semanal de Alberto Gonçalves no Observador, surrupiada com exclusividade neste blog:


3. O dr. Costa e o prof. Marcelo culpam os abusos natalícios pelo aumento de casos de Covid. Você desabafa no Twitter que os portugueses não têm emenda e que isto só se resolve através de restrições mais duras e da concessão de mais poder aos únicos portugueses esclarecidos: os que por sorte estão no Governo. Você avança duas casas e ganha seiscentos novos seguidores.

12. Por óbvia ordem do dr. Costa, o ministro da Educação cancela as aulas e proíbe o ensino à distância nas escolas públicas e privadas. Você comove-se com o zelo igualitário do governante e lamenta, “muito sinceramente”, a crueldade dos que desprezam os desfavorecidos. Avança três casas e é sondado para uma coluna regular no popular DN.

17. O governo anuncia mais restrições, calamidades, emergências e falências. Você apoia todas, apela ao pânico geral para combater a Covid e aplaude o trabalho dos “media” na difusão da histeria. Avança quatro casas e é chamado a emitir opiniões ocasionais nos noticiários da TVI.

24. O vídeo em que um eurodeputado espanhol arrasa as trapaças do Governo português no caso do procurador europeu é visto por milhões. Você garante que nunca viu e não sabe do que se trata, embora partilhe o vídeo em que uma eurodeputada do PS, incapaz de dizer coisa com coisa, responde ao espanhol com orgulho patriótico. Avança uma casa, mas pequenina, T0 ou assim.

35. O número de casos e mortos mantém-se em queda livre – se virarmos o gráfico de cabeça para baixo. Além de elogiar os esforços da ministra Marta, que propõe para duas ou três comendas e um busto, você assina no “Público” um texto no qual prevê a necessidade de oito a dez meses de confinamento e demonstra especial preocupação com a “estirpe inglesa” do vírus. Avança cinco casas e direito a aparecer no programa da Cristina, na qualidade de “especialista”.

39. A vacinação contra a Covid, que até aí não lhe chamara a atenção por obedecer a um plano espectacular e uma aplicação que demorará anos, desperta-lhe o interesse no momento em que os políticos passam à frente de toda a gente na prioridade de acesso à vacina. Você corre para o Facebook, a defender os fura-filas e condenar a “demagogia” e o “populismo” dos respectivos críticos. Avança três casas, amealha 300 “likes” e conquista um espaço no novo painel de analistas imparciais da SIC.

46. O prof. Marcelo vence as eleições presidenciais, porque os portugueses prezam a estabilidade e precisam da singular lucidez do homem para continuar a derrotar a pandemia. Já na SIC, você confirma estas evidências e acrescenta alguma preocupação com a inédita ascensão do fascismo, que no seu entender não ascendia por cá desde a última vez em que ascendeu. Avança duas casas e aceita um convite para intervir num debate (via Zoom) organizado pelo BE, subordinado ao tema “Estás-te a passar? Racismo em Tempos de Pandemia”.

50. Com os casos e mortes “com” ou “de” Covid a baterem máximos internacionais, o dr. Costa vai à “Quadratura do Não Sei Quê” gargalhar um bocado e desfilar mentiras cabeludas (incluindo nas orelhas). Desmentindo o ministro e o próprio Conselho de Ministros, o dr. Costa nega que alguma vez tenha sido proibido o ensino à distância. Você corrobora freneticamente a patranha e escarnece dos que, para efeitos de chicana política, fingiram entender o contrário. De brinde, elogia a liderança do Primeiro-Ministro e a exuberância capilar do Primeiro-Ministro. Avança seis casas e é contratado para uma coluna semanal no “Expresso”.

56. Ladrões avulsos roubam vacinas a velhinhos para consumo próprio. Dado que alguns ladrões são naturalmente filiados no PS, você estreia-se no “Expresso” a acusar a oposição (?) de querer “desviar o foco dos assuntos que verdadeiramente importam aos Portugueses”, tendo o cuidado, em quatro mil caracteres, de não referir que assuntos são esses. Avança duas casas e candidata-se a um “podcast” no “online” do prestigiado semanário.

64. O “Público” publica uma notícia acerca da “descoordenação” na campanha de vacinação – no Brasil. Você adere a uma manifestação por Skype a reclamar a impugnação do “assassino” Bolsonaro. Avança uma casa e recebe um convite do Fórum TSF seguinte, onde participa a título de “perito em relações internacionais”.

68. Ao lado daquela ministra que está sempre a rir ou a dormir, o ministro da Educação acha um “ultraje” a acusação de que ele, que fala português tão bem quanto o chefe, proibiu o ensino à distância. Na SIC, ou na TVI, ou num FaceTime com um primo, que você já nem sabe a quantas anda, você sugere que os anti-patriotas sejam reparados em campos de reeducação, de preferência presencial. Avança duas casas e é o recente titular de uma página ensaística no “Record”.

75. As televisões continuam a mostrar o caos hospitalar, fruto de um SNS invencível e longos meses de preparação a cargo da tutela. Receando que as imagens do pandemónio perturbem a popularidade do dr. Costa, em vez de lhe reforçar o poder como até aqui, você faz dois artigos e um TikTok a achar escandalosa a insistência nessas matérias. Avança três casas e abre, com sucesso imediato, conta no Instagram.

78. O prof. Marcelo informa o país que: a) a nova “vaga” começou a Ocidente, o que é uma anedota gira; b) o fundamental “é não perder a linha de rumo”, já perdida há muito; c) a vacinação tem de continuar, embora mal tenha começado; d) a culpa é da irresponsabilidade dos cidadãos, que quando não são os melhores do mundo são umas bestas; e) há que confinar até Abril, de facto decretando o óbito social e económico da nação e f) só podemos sair de casa para o imprescindível, ainda que ele saia unicamente para dizer coisas destas. Você elogia tudo e em toda a parte: rádio, televisão, jornal e Instagram. Avança três casas e atende um telefonema da Casa Civil, a convidá-lo para uma conversa em Belém, “após a pandemia ou depois de amanhã”.

83. A preparação do ensino à distância, adequadamente assegurada em Abril, consolidou-se há uma semana, com a compra de uma data de computadores no refugo. Você desvaloriza o ligeiro atraso (como outros desvalorizam o seu ligeiro atraso) e concede uma entrevista ao JN em que compara a acção intrépida do Governo ao desembarque na Normandia (caso este tivesse ocorrido em 1957). Avança três casas e almoça, no restaurante da AR, com um alto dirigente socialista, que lhe faz avanços, presumivelmente de ordem partidária.

90. Nas mãos de loucos, para cúmulo loucos mentirosos, para cúmulo mentirosos incompetentes, Portugal lançou-se à maluca para um desastre sanitário, uma pobreza sem fim e uma repressão sem regresso. A economia sumiu, as fronteiras fecharam, o ensino aboliu-se, os hospitais desabaram. No estrangeiro, olham estupefactos para nós. E, homenageadas pela aprovação parlamentar da eutanásia, demasiadas pessoas morrem, com Covid e com o que calha. Das que sobram, muitas sentem-se exaustas e sabem-se condenadas, à morte ou à miséria. Você não. Você avança até à casa final, inventa um currículo à pressa e torna-se num nome a considerar em próxima remodelação governamental ou na administração de uma empresa pública. Na sua ridícula cabeça, é a glória. Parabéns!
 
BLOG  ORLANDO  TAMBOSI

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