sábado, 26 de dezembro de 2020

Acordo comercial do Brexit com a UE reduz incertezas e pode ser favorável ao Brasil

 


Charge reproduzida do Arquivo Google

Thais Carrança
BBC News Brasil

O acordo comercial firmado nesta quinta-feira (24/12) entre Reino Unido e União Europeia, quase 11 meses após os britânicos deixarem oficialmente o bloco europeu, em 31 de janeiro, elimina uma grande incerteza que pairava sobre a economia internacional e deve ser favorável às exportações brasileiras, avaliam analistas.

Pelo acordo, que passa a valer a partir de 1º de janeiro de 2021, não haverá cobrança de tarifas quando bens cruzarem as fronteiras entre as duas regiões, nem limites para a quantidade de produtos e serviços que pode ser comercializada.

ZONA DE INCERTEZA – Segundo o governo britânico, o acordo abrange trocas comerciais que chegaram a 668 bilhões de libras (R$ 4,7 trilhões) em 2019.

“Esse acordo elimina uma enorme zona de incerteza que pairava sobre o Brexit, principalmente com relação ao comércio”, diz Mauricio Santoro, professor de relações internacionais na UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro).

“Com o acordo, fica estipulado que a maior parte desse comércio vai continuar a acontecer sem barreiras, o que por si só já é muito importante”, diz o especialista, destacando que, no entanto, muitas perguntas ainda seguem sem resposta, principalmente com relação à mobilidade das pessoas — os britânicos que viajarem para países do bloco e vice-versa.

E O BRASIL COM ISSO? – Santoro observa que o Reino Unido é um parceiro comercial importante para o Brasil, embora não majoritário. A corrente de comércio — soma de exportações e importações — entre os dois países foi de US$ 5,29 bilhões (R$ 27,6 bilhões) em 2019, com US$ 2,96 bilhões em exportações do Brasil para o Reino Unido e US$ 2,32 bilhões em importações, num superávit de US$ 639 milhões.

Com o resultado, o Reino Unido foi o 15º maior mercado para as exportações brasileiras. Dentro da União Europeia, o país tem parceiros comerciais mais relevantes, como a Holanda (3º maior destino para exportações brasileiras), Alemanha (8º) e Espanha (9º).

“Agora, vai depender muito de como a economia britânica vai se adaptar a esse novo cenário pós União Europeia”, avalia Santoro.

BOAS PERSPECTIVAS – “Há uma possibilidade interessante de que as exportações do agronegócio brasileiro acabem aumentando para o mercado britânico, tomando espaço que hoje é das exportações da União Europeia. Há expectativas boas nesse sentido.”

Além disso, avalia o professor, o Brasil ganha com uma União Europeia mais estável, sem toda a instabilidade que poderia ser gerada por um Brexit sem acordo.

Emerson Marçal, coordenador do Centro de Macroeconomia Aplicada da EESP-FGV (Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas), lembra que Mercosul e União Europeia tentam finalizar um acordo de livre comércio, cuja negociação está paralisada pelos desentendimentos entre os blocos, principalmente com relação à pauta ambiental.

MAIOR APROXIMAÇÃO – Se não houvesse Brexit, esse acordo incluiria automaticamente o Reino Unido. Com o afastamento britânico, o Reino Unido deve se tornar muito mais receptivo a acordos de livre comércio com outros países e talvez, em algum momento, eles queiram conversar com o Brasil, que é um mercado importante, do qual eles gostariam de se aproximar”, diz.

“Talvez o Reino Unido esteja disposto a fazer mais concessões do que estaria disposto a fazer se negociasse no bloco da União Europeia.”

Santoro lembra que a negociação com o bloco europeu esbarra no protecionismo de alguns países da Europa que têm produção agrícola forte, como a França. Já o Reino Unido não tem um setor agropecuário a proteger, pois importa quase tudo que consome nessa área.


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