O dinheiro dá sinais da transformação. Os maiores doadores para a campanha de Trump foram trabalhadores da construção civil, fazendeiros e membros do Exército. Joe Biden foi financiado por bancos e grandes corporações. Ana Paula Henkel, via Oeste:
Como
se não bastassem todos os acontecimentos do ano, 2020 com certeza será
um capítulo à parte nos livros de História. Para coroar um ano repleto
de eventos marcantes para a humanidade, a cereja do bolo ficou por conta
das eleições presidenciais norte-americanas. Mas na controversa disputa
pela Casa Branca já há um vencedor: o Partido Republicano. Goste-se ou
não da figura do atual presidente, o efeito transformador que Donald
Trump produziu no Partido Republicano moldará a instituição nos próximos
anos, independentemente do resultado das eleições de 2020.
Graças
às políticas de Donald Trump e ao entusiasmo que ele engendra, o
Partido Republicano está mais saudável, mais vigoroso (com recorde de
jovens filiando-se ao partido), mais unificado e tem um alcance mais
amplo do que teve em décadas. O partido da dinastia Bush, ou de homens
sérios e engessados como Mitt Romney, sem nenhuma comunicação com o
público mais jovem ou a classe operária americana, ficou para trás.
Em
2016, talvez Donald Trump tenha sido eleito porque do outro lado da
cédula havia Hillary Clinton, figura tóxica até para democratas. Trump
também recebeu votos em massa de evangélicos e cristãos em geral que
depositaram no republicano a confiança de indicações conservadoras para a
Suprema Corte norte-americana, na esperança de que o tribunal possa
reverter um dos maiores ativismos judiciais da História na decisão Roe
vs. Wade (1974), que legalizou o aborto no país. E isso aconteceu. Em
quase quatro anos, Trump colocou na Suprema Corte três juízes
conservadores e originalistas (apenas a Constituição como está escrita é
o norte jurídico). Entre eles, uma mulher, Amy Coney Barrett.
Mas
as vitórias da administração de Donald Trump, apesar de toda a gritaria
de grande parte da mídia, censura das plataformas digitais e
perseguição constante pelo Partido Democrata, não param por aí. Há
várias críticas que podem ser feitas ao presidente norte-americano, isso
é verdade. Sua retórica agressiva, sua fama de brigão, seus tuítes
malcriados, sua língua afiada sempre vencendo a diplomacia do cargo. No
entanto, quase quatro anos sob pesadas críticas, xingamentos diários e
ameaças de impeachment, desta vez os maiores cabos eleitorais de Trump —
e por isso a transformação do partido — foram suas políticas domésticas
e internacionais e seus sólidos resultados.
Há
vários aspectos na política externa de Donald Trump que resultaram em
acordos de paz históricos entre Israel e países árabes, aproximação das
duas Coreias, renegociação de acordos comerciais que não eram bons para
os norte-americanos e redução do Estado Islâmico a pó. Mas talvez essas
medidas não tenham sido as razões pelas quais se alteraram alguns
ponteiros do mapa eleitoral norte-americano, de modo que importantes
grupos tradicionalmente eleitores do Partido Democrata migraram para as
hostes republicanas.
O
Estado da Flórida é uma importante peça no jogo do Colégio Eleitoral,
não apenas por seus 29 delegados na corrida pelo “mágico 270”, número
necessário de delegados para a eleição de um presidente nos EUA, mas por
ser considerado uma “mini-América” em razão de sua diversidade de
etnias, classes sociais e faixas etárias. E foi exatamente na Flórida,
mapeada em todas as pesquisas como território democrata, que a retórica
de vitrola quebrada parece não ter funcionado.
Durante
quase quatro anos, Donald Trump foi chamado de racista, homofóbico e
xenófobo por seus oponentes. Tantos xingamentos pela “turma do amor e da
tolerância” tinham obviamente alguns alvos: as minorias. Negros,
latinos, homossexuais, mulheres e asiáticos são constantemente
empacotados pelos democratas em balaios coletivistas e expostos à única
salvação de suas almas, o voto no bom e caridoso Partido Democrata.
Enquanto a judicialização da eleição mais importante do mundo parece
inevitável, como esses grupos votaram em 2020 também parece difícil de
ignorar.
Joe
Biden está muito perto de conseguir o “mágico 270”, mas há pontos
importantíssimos nesta eleição que os democratas não podem deixar de
admitir. Eles não apenas tropeçaram feio na Flórida, um campo de batalha
fundamental, principalmente entre os latinos, mas perderam um bloco de
construção crucial da coalizão que agora está se voltando para o Partido
Republicano. Para o partido cada vez mais esquerdista dos senadores
Bernie Sanders, Elizabeth Warren, da deputada Alexandria Ocasio-Cortez e
da vice de Joe Biden, Kamala Harris, essa derrapagem na Flórida
representa um problema de longo prazo.
Em
2016, a candidata democrata à Presidência, Hillary Clinton, venceu no
condado de Miami-Dade, por exemplo, por cerca de 30 pontos porcentuais.
Os democratas não esperavam que Joe Biden se saísse tão bem no maior
condado da Flórida como Hillary, que perdeu no Estado; no entanto, eles
não poderiam imaginar que Trump não apenas venceria, mas que a vitória
seria por uma margem de mais de 20 pontos. Em Miami Gardens, a maior
cidade negra da Flórida, Trump obteve quase 16% dos votos. Em 2016, não
ultrapassara os 6%. Nelson Diaz, presidente do Partido Republicano em
Miami-Dade, assim avaliou os resultados: “Estamos vendo uma revolta
contra candidatos que apoiam as agendas socialistas”.
Mas
esse movimento dos imigrantes não é o único fator que explica o avanço
dos republicanos. No distrito de Robeson County, na Carolina do Norte,
onde os nativos norte-americanos são a maioria dos eleitores, Barack
Obama obteve 59,4% dos votos em 2012 e o republicano Mitt Romney, 39,2%.
Em 2020, 70% dos votos foram para Donald Trump e apenas 30% para Joe
Biden. Entre os negros, Donald Trump já é o segundo presidente
republicano com o maior número de votos da História.
A
famosa Blue Wall, uma imaginária parede azul (cor do Partido
Democrata), por muitas décadas cercou o Cinturão da Ferrugem (Rust
Belt), evitando que republicanos atuassem com robustez na região. No
entanto, Estados considerados decisivos em eleições, como Michigan,
Wisconsin e Pensilvânia, foram capturados pelas políticas de cortes
tributários, incentivos fiscais, desregulações, desburocratização e
investimentos na indústria da administração de Donald Trump. A parede
azul hoje está no chão — e, de acordo com o Centro de Doações
Eleitorais, em 2020 os maiores doadores para a campanha presidencial do
republicano foram exatamente trabalhadores da construção civil,
fazendeiros, caminhoneiros, membros do Exército e pessoas físicas,
enquanto Joe Biden recebeu suas maiores doações de bancos, grande
corporações e da indústria farmacêutica.
Para
muitos dos eleitores latinos da Flórida, a adesão quase cega dos
democratas às reformas esquerdistas radicais lembra os regimes
socialistas opressores dos quais eles ou seus familiares fugiram para
vir para os Estados Unidos. Liberdade. As promessas de assistência
médica gratuita, inclusive para imigrantes ilegais, faculdade gratuita e
a expansão do Estado de bem-estar na vida das pessoas (welfare state),
junto com bloqueios draconianos em nome da segurança pública, foram
recebidas com ceticismo entre eleitores que já viveram experiências
comunistas na América Latina. Deu certo a retórica de Trump e dos
republicanos segundo a qual a agenda radical do Partido Democrata poderá
levar os Estados Unidos ao mesmo caminho sombrio.
A
guinada perigosa para a extrema esquerda dos democratas não é exclusiva
de sua ala socialista. Biden se mostra de joelhos para a turba do
politicamente correto. A obsessão dessa turma com a política identitária
e seu apelo quase segregacionista aos negros corroeram a posição dos
democratas entre latinos e a classe trabalhadora em geral. O partido que
ajudou a empurrar os direitos civis nos anos 1960 para um patamar
histórico vive hoje uma obsessão perigosa, quase tribalista, que não se
dissolverá após a semana das eleições.
Os
precursores da cultura do cancelamento que estão no comando do Partido
Democrata, diante do fiasco nas urnas com seus grupos para manipulação,
agora partem da lógica de que todas as minorias estão hipnotizadas (por
empregos e progresso?) e operando com a maioria branca em uma sociedade
sistematicamente racista. A realidade das ações públicas eficientes
mostra uma experiência muito diferente da narrativa retratada pelos
apoiadores do movimento marxista Black Lives Matter. Muitos imigrantes
vieram para os Estados Unidos sem absolutamente nada, mas trabalharam
seu caminho para o sucesso, ilustrando que o sonho americano ainda está
muito vivo.
Os
democratas também tiveram um desempenho muito inferior nas disputas
pelo Senado e pela Câmara nesta semana, perdendo terreno em áreas
críticas como Iowa e Flórida. Houve um número significativo de mulheres
conservadoras, algumas das quais veicularam anúncios de campanha
destacando que seus oponentes apoiavam o socialismo, o corte de fundos
para a polícia e pautas identitárias.
Certa
vez, Ronald Reagan disse: “O melhor programa social é um emprego”.
Talvez Donald Trump não seja comparável ao cowboy que conquistou seu
segundo mandato vencendo em 49 dos 50 Estados norte-americanos. Talvez
Donald Trump não tenha o mesmo carisma ou a mesma diplomacia que o 40º
presidente dos Estados Unidos. Mas se há algo em comum entre Ronald
Reagan e Donald Trump é a transformação do Partido Republicano por meio
do contato direto com a classe trabalhadora, pilar forte desta nação que
foi deixado à margem, trocado pelo discurso barato de políticas
sentimentalistas vazias e platitudes dos sinalizadores de virtude.
Joe Biden, democrata, está com um pé na Casa Branca. O Partido Republicano? The Republican Party is great again.
blog orlando tambosi
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