Após 2 anos, o governo atual se encontra, mais ou menos, onde Dilma nos deixou. Coluna de J. R. Guzzo para o Estadão - no alvo:
Uma
das palavras mais ouvidas no governo federal nesses últimos meses é
“governabilidade”. O que seria esse bicho? Segundo nos contam, trata-se
daquele balaio de decisões moralmente lamentáveis e tecnicamente ineptas
que os governos, coitados, são obrigados a tomar para conseguirem
governar – ou fazem essas coisas feias, mas tidas como indispensáveis,
ou não governam nada (em política, argumentam os que estão mandando, a
prática deliberada do erro nem sempre é uma desvantagem). O governo do
presidente Jair Bolsonaro, como sabem até as crianças com dez anos de
idade, decidiu tempos atrás tornar-se governável em modo extremo – está
fazendo tudo o que lhe pedem, e muito do que não lhe pedem, com o
elevado propósito de governar o Brasil. Está dando certo para os
governantes, ao que parece. E para os governados?
A
“governabilidade” pode ser uma coisa admirável na teoria política, mas
na vida prática a pergunta que se tem de fazer é a seguinte: governar
para quê? Se for para dar ao Brasil uma espécie de Dilma-2, o Retorno,
com anos de crescimento zero que se alternam com anos de recessão, e com
a população escalada para exercer a mesmíssima função, como escrava que
trabalha dia e noite para sustentar a máquina estatal – bem, muito
obrigado. É onde se encontra, após dois anos inteiros no comando, o
governo atual: mais ou menos onde Dilma Rousseff nos deixou. O Estado
continua a engolir (e a gastar) a maior fatia da renda nacional. A
economia está onde estava em 2018. A alta burocracia deita e rola. O
Centrão, o inimigo número 1 do erário nacional, é de novo a grande
estrela do governo. As leis continuam servindo para proteger os
políticos dos cidadãos, em vez de fazer o contrário. Praticamente nenhum
índice de “performance”, salvo no agronegócio, saiu do lugar. O que
adianta governar desse jeito?
Nesses
dois anos, o governo não fechou, não de verdade, uma única empresa
estatal – uma meia dúzia de subsidiárias foram vendidas por suas
controladoras, e ficou nisso. De concreto, a única coisa que aconteceu
foi a demissão do secretário-ministro encarregado da privatização, que
nunca teve o que fazer. Não conseguiram fechar nem a empresa do
“trem-bala”, um dos maiores contos do vigário do governo Dilma – o
ministro dos Transportes acha que a empresa, que jamais colocou um metro
de trilho no chão, é indispensável. Outra joia da coroa petista, a TV
Brasil inventada por Lula, continua intacta.
Não
foi cortado nenhum privilégio nas altas castas do funcionalismo. A
população continua sendo extorquida pela mesma carga de impostos de
sempre – 30%, ou mais, numa conta de luz, de telefone ou de farmácia. A
economia permanece como uma das mais fechadas e menos capazes de
competir do mundo. Na hora de fazer a indicação mais importante de seu
governo, a de um novo ministro para o STF, Bolsonaro veio com o dr.
Kassio, o preferido do Centrão e de um senador processado por corrupção.
O
governo está no seu quarto ministro da Educação em dois anos, e não se
mexeu um milímetro nos índices brasileiros na área, que continuam entre
os piores do planeta; falaram o tempo todo de política, e os livros
didáticos lidos nas escolas continuam insultando abertamente os
militares, chamados de “torturadores”, os agricultores, acusados de
viverem às custas do “trabalho escravo”, e o próprio governo eleito em
2018, que é denunciado nas aulas como fascista, racista, homofóbico,
genocida e destruidor da Amazônia.
Quando
lembrado de qualquer dessas coisas, Bolsonaro diz: “Então vota no
Haddad”. É melhor mudar o disco. Uma hora dessas ele ainda vai ouvir: “E
daí? Qual é a diferença?"
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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