domingo, 8 de novembro de 2020

Candidatos do PSL que não receberam repasse do fundão eleitoral se ‘rebelam’ contra dirigentes

 


Charge do Bira Dantas (humorpolitico.com.br)

Natália Portinari
O Globo

No PSL, partido com a segunda maior fatia do fundo eleitoral, a tensão gerada pela busca de financiamento se agravou na reta final das eleições. Candidatos se queixam abertamente por não terem recebido parte dos R$ 199 milhões a que a legenda tem direito nacionalmente.

Postulantes em São Paulo deflagraram guerra contra Junior Bozzella, presidente do partido no estado. Eles criaram um grupo de WhatsApp (“Cadê o fundo?”) e dizem que Bozzella não cumpriu o que prometeu com os candidatos. Joice Hasselmann, com intenção de votos de 2% no Ibope, acumula R$ 5,9 milhões na capital, revoltando os correligionários.

INDIGNAÇÃO  – No grupo, criado por um candidato a prefeito que não quis se identificar e que inclui deputados federais, candidatos de Garça, Cerquilho, Conchal, Ribeirão Preto e da capital paulista manifestam indignação. “Deputados que estão nesse grupo vão ficar omissos até quando? 2022 tá chegando quero ver vocês conseguirem nosso apoio assim”, escreveu o perfil anônimo.

Bozzella diz que é “humanamente impossível” atender a todos e que a verba é um pouco menor do que o previsto porque o partido precisa atender ao repasse mínimo para mulheres e negros. Frisa, porém, que o partido nunca prometeu verba, apenas assistência jurídica e materiais gráficos:

“As pessoas não entendem que tem um recurso escasso para atender uma gama enorme de projetos políticos estratégicos. O cara recebe material, mas além do material quer o recurso na conta. É humanamente impossível contemplar todas as expectativas. Material não nasce na árvore”, afirma.

DISPUTAS –  O partido tem sido palco de disputas pela verba no país inteiro. Rodrigo Zambrano Paulo, ex-presidente do diretório municipal de Alvorada (RS), se queixa do dirigente estadual, Ruy Irigaray, por não ter repassado verba para 13 candidatos a vereador da cidade que não apoiaram uma aliança com o PSB. Procurado, Ruy disse que assumiu o partido recentemente e está organizando a burocracia interna para liberar os repasses.

Levantamento do O Globo no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostra que, dos 20,4 mil candidatos a vereador do PSL no país, apenas 3,7 mil (18%) receberam recursos do fundo eleitoral até agora. Apenas 15 candidatos, inclusive, receberam 32% dos R$ 124 milhões distribuídos pela legenda.

O presidente do partido, Luciano Bivar, disse ao O Globo que a distribuição cabe aos diretórios estaduais e que a Executiva Nacional tem apenas a responsabilidade de cumprir os repasses para mulheres e negros:

CRITÉRIO –  “Somente as estaduais, através de seus diretórios municipais, conhecem a realidade e potencial eleitoral de cada candidato ou candidata. Por conseguinte, o critério de distribuição de recursos é exclusivo dos diretórios”, diz.

Na capital paulista, 28 dos 83 candidatos a vereador do partido receberam fundos. Coronel Castro, um dos que tenta vaga na Câmara Municipal e está sem receber, diz que o atraso prejudicou sua campanha. Segundo ele, o partido promete resolver a situação, mas sem especificar como e quando.

“Está faltando dez dias para as eleições e não chegou nada na conta dos candidatos. A maioria não recebeu mesmo e isso está dificultando muito a campanha. Você não pode assumir compromisso, porque não tem como honrar. Eu deixei de contratar pessoas, de fazer ações que eu queria fazer”, afirma.

REPASSES – Em São Lourenço da Serra (SP), o candidato a prefeito Vanderlei PM e os candidatos a vereador não receberam repasses do partido. Também não foi enviado o auxílio prometido em materiais de campanha, de acordo com Itamar do Nascimento, que tenta vaga pela legenda na Câmara Municipal:

“A gente tinha a certeza de que vinha alguma coisa, porque tem essa quantidade de valor que vinha para o partido. Fui duas vezes ao comitê e não consegui ser atendido pelo Bozzella, fomos atendidos pelo tesoureiro. Cansei de mandar áudio para ele dizendo que nosso prefeito está bem cotado aqui na cidade e não recebemos nem material, nem nada”, diz.

JOICE HASSELMANN – Rodrigo Junqueira, impedido de se candidatar a prefeito de Ribeirão Preto (SP) pela direção estadual do partido, diz que Bozzella está “destruindo o PSL em São Paulo” e “lançou uma candidata bizarra, sem a menor chance de pontuar em São Paulo, que é a Joice Hasselmann”.

Os candidatos a vereador na cidade aliados a Rodrigo Junqueira, removido também da direção municipal do partido após a intervenção da direção estadual, estão sem receber. Após a destituição do diretório, o PSL está apoiando a candidata do MDB na eleição para prefeito da cidade.

LIMADO –  Bozzella diz que Junqueira foi “limado do partido por ser um estelionatário” e que a direção estadual o removeu do diretório após ele tentar “extorquir” o partido: “Na convenção (municipal), a maioria foi contra ele justamente por saber que ele estava tomando dinheiro dos outros usando o nome do partido”.

Antes nanico, o partido viu sua bancada na Câmara dos Deputados aumentar de oito para 52 deputados ao abrigar o presidente Jair Bolsonaro nas eleições de 2018. Por isso, ganhou direito a uma fatia expressiva do fundo eleitoral — cujo valor total é R$ 2 bilhões — que atraiu candidatos para a sigla, mesmo após ter sido abandonada pelo próprio Bolsonaro em 2019.

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