A ‘Justiça Eleitoral’ joga para o contribuinte uma despesa R$ 7,5 bi por ano mesmo quando não há disputa alguma. J. R. Guzzo, via Estadão:
Todas
as vezes que você ouvir alguma dessas peças de propaganda pró-virtude
da “Justiça Eleitoral”, dando aulas de moral e cívica e ensinando como o
eleitor deve votar nas eleições para prefeito que vêm ai, lembre-se que
isso não está apenas enchendo a sua paciência – também está custando
dinheiro, e esse dinheiro sai todinho do seu bolso. Os gestores da
excelência eleitoral brasileira já devem ter tentado lhe demonstrar, em
outras ocasiões, que o custo das eleições no Brasil é pouca coisa,
levando-se em conta os ganhos extraordinários que elas trazem para a
sociedade. O que se ganha, na vida real, são esses políticos que estão
aí – e cada cidadão que faça o juízo que quiser sobre a sua qualidade.
Mas na questão do dinheiro não há dúvida nenhuma: é mentira o que estão
dizendo. Eleição custa uma fortuna.
A
“Justiça Eleitoral”, coisa que não existe em nenhuma democracia séria
do mundo – simplesmente por que se considera, ali, que um negócio desses
não tem a menor utilidade – transformou-se, no Brasil, num mamute
burocrático cada vez mais caro. Sua influência na melhoria do nível dos
políticos eleitos é igual a três vezes zero. Em compensação, joga para
cima do contribuinte uma despesa exorbitante: R$ 20 milhões por dia, ou
perto de R$ 7,5 bilhões por ano, mesmo em anos em que não há eleição
alguma. (Estas são as últimas cifras disponíveis; pode ser mais, é
claro.)
O
mais curioso é que, embora haja uma quantidade fixa de eleições – uma a
cada dois anos – as despesas não param de crescer. Em 2017, por
exemplo, quando não foi feita nenhuma eleição, o custo do aparato
eleitoral foi 50% maior que o de 2016, quando o País teve suas últimas
eleições municipais – essas que vão se repetir agora em novembro de
2020. E onde eles conseguem gastar tanto dinheiro? Acertou: 90% de tudo
vai para pagar a folha de funcionários.
A
organização das eleições poderia, é claro, ficar nos limites de uma
repartição pública modesta (sobretudo numa realidade cada vez mais
digital), encarregada de expedir títulos de eleitor, convocar mesários,
registrar candidatos e realizar outras tarefas de baixa complexidade.
Nem pensar. Deram um jeito de criar uma estrutura XXXX-L, incluindo nela
até mesmo um “Tribunal Superior Eleitoral”, uma espécie de Supremo Tribunal Federal
do setor; naturalmente o TSE dispõe do seu próprio palácio-sede (aliás,
já está no segundo prédio desde a construção de Brasília) e custa cerca
de R$ 2 bilhões por ano para o público pagante. É claro que arrumaram
também 27 “tribunais regionais”, um para cada estado – cada um com a sua
sede, etc. etc.
A
“Justiça Eleitoral” tem grandes planos para você. Foram autorizados,
neste 2020 de covid-19 e de economia em processo de destruição,
concursos para contratar mais de 1.000 novos funcionários (1.002, mais
exatamente) para diversos dos “Tribunais Regionais”. Salários? Estamos,
aí, em pleno Brasil-Suécia. O salário inicial para “técnico”, o cargo
mais modesto, é de R$ 8.500. Para funções de “segurança” a remuneração
mínima é R$ 9.600. Já um “analista” começa a vida com R$ 13.500.
Conseguiram inventar, acredite se quiser, nada menos que um “oficial de
justiça”, como os que a justiça comum utiliza para servir notificações
de despejo, etc. Salário inicial: cerca de R$ 15.000.
Entende-se perfeitamente, aí, o medo-pânico de todo esse mundo quando ouve falar no fim do voto obrigatório.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
Nenhum comentário:
Postar um comentário