Em vez de destilar pânico e pregar um isolamento quase eterno,
destruindo a economia no processo, talvez fosse o caso de exigir cautela
e cuidados, mas enfrentando a vida – e o risco inerente a ela. Rodrigo Constantino:
“A princípio, as pessoas tinham aceitado estarem isoladas do exterior
como teriam aceitado qualquer outro inconveniente temporário que apenas
perturbasse alguns dos seus hábitos. Mas, subitamente conscientes de
uma espécie de sequestro, sob a tampa do céu em que o verão começava a
crepitar, sentiam confusamente que esta reclusão lhes ameaçava toda a
vida e, chegada a noite, a energia que recuperavam com o frescor
lançava-os por vezes a atos de desespero”.
O trecho de “A Peste”, de Albert Camus, retrata bem a sensação que
muitos começam a ter em meio ao isolamento radical. O apoio à medida vem
caindo, segundo pesquisas, e não é para menos. Falta confiança nas
previsões das autoridades, que sabem menos do que confessam. A exceção é
o novo ministro da Saúde, que foi humilde ao admitir a ignorância. Seu
antecessor preferia ficar adiando eternamente o pico da curva.
Muitos esquecem que o isolamento servia a um só intuito: achatar a
curva e ganhar tempo. E nesse período, claro, construir novos leitos
hospitalares. O que tem sido feito muito aquém da velocidade necessária.
Os “isolacionistas” ignoram tudo isso e colocam na conta do presidente a
contagem mórbida de cadáveres, sendo que ainda não falta leito no país.
É como se o isolamento fosse uma panaceia para curar a doença, o que é
absurdo.
Enquanto isso, é o sistema econômico que ameaça implodir. Nos Estados
Unidos, país bem mais rico do que o Brasil, algo como 30 milhões de
pessoas pediram seguro-desemprego nas últimas semanas. É uma quantidade
sem qualquer precedente, mesmo considerando a Grande Depressão. O
empreendedor Elon Musk chegou a clamar por libertação para salvar
empregos e chamou de “fascistas” as medidas drásticas de isolamento.
Alguns podem achar que a palavra sequestro é exagerada para nossa
realidade atual. Mas o empresário Abílio Diniz chegou a afirmar que a
crise do coronavírus é pior do que o sequestro que sofreu. Os
empresários, que criam riqueza e empregos, estão apreensivos com a
situação, pois sabem do caos econômico que virá em breve. Enquanto isso,
sem a devida robustez científica, muitos repetem apenas o mantra
“fiquem em casa”, sendo que o desespero vai se alastrando pela
sociedade.
Gente desesperada é sempre um perigo. Aumentam os casos de agressão
doméstica, certamente teremos mais suicídios, infartos, surtos
psiquiátricos e outras doenças como efeito desse confinamento
angustiante. Em vez de destilar pânico e pregar um isolamento quase
eterno, destruindo a economia no processo, talvez fosse o caso de exigir
cautela e cuidados, mas enfrentando a vida – e o risco inerente a ela.
Não podemos sucumbir a essa peste do desespero. Isso leva à paralisia, não só da atividade produtiva, mas dos nossos espíritos!
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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