Idosos são algemados por falar contra a quarentena, policiais arrastam
banhistas solitários, tuítes sobre a cloroquina são censurados. Estado
de Direito é isso? Flavio Gordon, coluna na Gazeta do Povo:
“A sociedade é um inferno de salvadores” (Emil Cioran, Genealogia do Fanatismo)
Em Caldas Novas (Goiás), uma cidadã brasileira, dona de casa,
aparentando ter algo perto dos 65 anos, pôs-se a discursar sobre a
pandemia que ora nos assombra. Aproximando-se de uns poucos transeuntes
em frente a uma agência bancária, disse mais ou menos o seguinte: “Quem
tiver de ficar em casa se resguarde. Grupo de risco, se resguarde. Mas
serviços essenciais têm de voltar, senão vai acontecer o pior. Vai
faltar arroz, feijão, remédio, produto de limpeza”.
Ato contínuo, foi cercada por três policiais, detida e algemada. Sim,
algemada! Seus protestos desesperados, ademais de ignorados pelos
agentes da lei, como se não mais que o ruído incômodo de uma máquina
enferrujada que é preciso manusear, também não encontraram ouvidos
solidários na massa de curiosos ao redor, que a tudo assistiu,
bestializada.
Numa cidade do Pará, um barbeiro dava os últimos retoques com a
máquina no cabelo de um cliente quando um grupo de policiais militares
entrou na barbearia e, obedecendo a um decreto autoritário do governador
emedebista Helder Barbalho (filho de Jader Barbalho, de quem herdou a
capitania), determinou o seu fechamento e conduziu o trabalhador à
delegacia.
Em Poços de Caldas (Minas Gerais), um padre fazia uma transmissão
on-line da missa. Foi quando a igreja vazia, na qual se encontrava
apenas uma pequena equipe de cinco pessoas, incluindo o cinegrafista e
auxiliares do sacerdote, foi invadida por agentes da lei, que ordenaram a
interrupção imediata do culto.
Em Barra de Guabiraba (Pernambuco), uma internauta registrou
policiais militares fazendo um bloqueio na entrada de supermercado,
impedindo o acesso dos cidadãos a produtos essenciais de subsistência.
No Guarujá (São Paulo), numa praia vazia, uma banhista que saía do
mar foi violentamente agarrada e arrastada por três policiais e um
salva-vidas, seus gritos por socorro ecoando em vão no ar salgado. Uma
matéria jornalística reportou o caso em tom distante, não o suficiente,
todavia, para disfarçar a aprovação da ação, que cumpria determinação da
prefeitura.
Na Praia da Galheta, em Florianópolis, banhistas foram surpreendidos
com a aproximação brusca de um helicóptero da Polícia Civil, que, com
voos rasantes, e a fim de evacuar o local, envolveu-os numa tempestade
de areia. Mais uma vez, uma reportagem do telejornal local chancelou
acriticamente a ação. O apresentador chegou a dizer que o rasante do
helicóptero tinha por objetivo “tentar orientar ainda mais essas
pessoas”.
No Rio de Janeiro, o governador Wilson Witzel, com patética pose de
Mussolini e um frasco de álcool gel junto ao corpo (um ditador com
consciência epidemiológica é outro papo!), ameaçou prender os cidadãos
que saírem às ruas para protestar “contra o que quer que seja”. Dias
depois, redobrou as ameaças, dizendo que ficar em casa era uma ordem.
Ademais, sugeriu denunciar o presidente da República ao Tribunal Penal
Internacional pelo crime de desobedecer a OMS.
No ambiente virtual, tuítes de personalidades do mundo político, a
exemplo do ex-prefeito de Nova York Rudolph Giuliani (que mencionava a
eficácia da hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19) e do presidente
Jair Bolsonaro (que defendia o fim do confinamento total e também fazia
menção à cloroquina), foram sumariamente censurados, sob a alegação de
representar uma ameaça à saúde pública.
Num conjunto de diretrizes verdadeiramente orwellianas, o Twitter
informou que irá “atuar em conteúdos que vão diretamente contra as
informações globais e locais de saúde pública orientadas por fontes
oficiais” a fim de “instituir um rigoroso sistema global de triagem de
conteúdo, por isso priorizamos as possíveis violações de regras que
apresentam o maior risco de danos, reduzindo, assim, a carga das pessoas
em denunciá-los”.
Em particular, toda menção ao sucesso do uso da hidroxicloroquina no
tratamento da Covid-19 tem sido vetada por integrantes do Ministério da
Verdade global. E não apenas na imprensa e nas redes sociais. Na França,
por exemplo, o médico e microbiologista Didier Raoult, talvez o maior
apologista mundial do uso de cloroquina no tratamento da Covid-19,
chegou a ser ameaçado por conta de suas posições.
Em suma, a pandemia de coronavírus é também uma epidemia de
totalitarismo como há muito não se via em nações ocidentais e (ao menos
formalmente) democráticas. Sob o pretexto de salvar vidas, políticos,
jornalistas e formadores de opinião têm se permitido defender toda sorte
de arbítrio. Cenas que, não faz muito tempo, costumávamos ver apenas em
países como China, Rússia, Coreia do Norte, Venezuela e Cuba hoje viram
rotina ao lado de casa. Enquanto a maioria das pessoas anseia
desesperadamente pela cura, alguns torcem para a doença. No futuro,
talvez se venha a notar que, para uma certa elite política, financeira e
intelectual, o combate não era contra o vírus – mas contra você.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
Nenhum comentário:
Postar um comentário