quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

68% dos adolescentes já consumiram bebidas energéticas


A Organização Mundial da Saúde (OMS) adverte que o aumento do consumo de bebidas energéticas pode causar um problema de saúde pública

Tribuna da Bahia, Salvador
29/01/2020 10:19 | Atualizado há 34 minutos
   
Foto: Reprodução

Por: Poliana Antunes

Há alguns anos o mercado está sendo invadido por bebidas denominadas energéticas por seus produtores, que segundo eles foram criadas para incrementar a resistência física, proporcionar reações mais rápidas e maior concentração, aumentar o estado de alerta mental, evitar o sono, proporcionar sensação de bem estar, estimular o metabolismo e ajudar a eliminar substancias nocivas ao corpo. Contudo, a Organização Mundial da Saúde (OMS) adverte que o aumento do consumo de bebidas energéticas pode causar um problema de saúde pública.
Segundo a OMS, 30% dos adultos, entre 18 e 65 anos, 68% dos adolescentes, entre 10 e 18 anos, e 18% das crianças, entre 3 e 10 anos, consomem bebidas energéticas pelo menos uma vez por ano. Além disso, 11% dos consumidores adultos e 12% dos adolescentes consumiram mais de um litro desse tipo de bebida em um só dia.
O cardiologista Eduardo Guimarães explica que a cafeína é um estimulante do sistema nervoso central e, por isso, ajuda a deixar as pessoas mais alertas. “Cada latinha de energético equivale a cerca de três xícaras de café, bebida que também é rica na substância. Por isso, o ideal é que a pessoa consuma, no máximo, uma lata e meia por dia, porque cafeína em excesso pode intoxicar o organismo, levando a náuseas, taquicardia, tremores, insônia, irritabilidade e zumbidos”, alerta.
De acordo com estudos, o médico lembra que, a overdose de cafeína pode provocar, entre outros sintomas, palpitações, hipertensão, convulsões e, em raras ocasiões, morte. “Entretanto, é difícil avaliar a parte desses problemas causados pelas bebidas energéticas, já que esses produtos nem sempre tiveram seu protocolo próprio nos centros dedicados a atender intoxicações e falta informação sobre os efeitos negativos de seu consumo excessivo”, avalia.
BEBIDA ALCOÓLICA
Eduardo diz que este consumo, ainda mais quando misturado com bebidas alcoólicas, está se tornando um costume, transformando-se em um coquetel novo e perigoso para a saúde. “Outra questão que surge é que, com o uso das bebidas energéticas, o padrão de uso das bebidas alcoólicas, especialmente as destiladas, estaria se alterando, já que, com a mistura e a melhora do sabor, maiores quantidades de álcool estariam sendo consumidas”.
O cardiologista alerta que, o risco associado aos altos níveis de cafeína parece ser o problema mais comum destas bebidas, em comparação a outras substâncias que a compõem. Ele explica que os principais ingredientes da maioria destas bebidas são: taurina, cafeína, guaraná, ginseng, glucuronolactona e vitaminas.
“Algumas possuem minerais, inositol e carnitina, entre outras substâncias. Muitos destes componentes são de origem vegetal. Alguns ingredientes são classificados como adaptógenos, pois ajudam a normalizar funções de sistemas do corpo alteradas pela tensão”, lembra.
O especialista demonstrou preocupação com a crescente associação entre os jovens: “o energético pode esconder os sinais de intoxicação do álcool, evitando que a pessoa perceba que já bebeu demais, podendo levá-la ao coma alcoólico, seguido de morte. Em longo prazo, esta combinação é um fator de risco para o desenvolvimento de dependência química do álcool”.
DEPENDÊNCIA
O médico frisou que o consumo de bebidas energéticas industrializadas deve ser limitado, afinal, “não é um isotônico”. Além disso, a cafeína pode viciar, levando à necessidade de doses cada vez maiores para se obter o mesmo efeito. “Tem gente que fica até com síndrome de abstinência”, afirmou. “É preciso deixar claro que, apesar de as bebidas energéticas conterem cafeína, não devem ser ingeridas como o café na rotina diária”.
Guimarães afirmou que, nutricionalmente falando, não há recomendação do consumo de bebidas energéticas, principalmente para pessoas enfermas, crianças, gestantes, idosos etc. “Os efeitos variam de acordo com a dose ingerida e a sensibilidade de cada um. A quantidade que deixa o jovem eufórico, para um idoso hipertenso pode levar ao aumento dos batimentos cardíacos e da pressão arterial, com maior risco de morte”, explicou.
Ele citou o guaraná e o gengibre como estimulantes naturais, que podem ser usados por aqueles que objetivam se manter mais despertos. Destacou o café, fonte de cafeína; chocolate (principalmente aqueles com maior teor de cacau); chás verde, mate e preto; e alguns refrigerantes, “cabendo a possibilidade de efeitos adversos no consumo de todos eles”.
Embora leve a má fama, o médico contou que a cafeína não é de todo ruim, visto que está presente em alguns medicamentos e estudos demonstraram que entre quatro e seis xícaras de café, grande fonte da substância, por dia são capazes de promover uma melhora do desempenho físico, estado de alerta e melhora neurocognitiva em atletas.
Mas, ele também pode ter efeitos negativos, visto que acelera o metabolismo, tem ação diurética (pode levar à desidratação), entre outros. “Além da substância, os energéticos também são ricos em açúcares e este é mais um motivo para controlar o consumo: podes colaborar com o aumento do peso”, lembra.

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