Em artigo publicado pelo Poder360,
o professor e agrônomo Xico Graziano afirma que não existem registros
sobre doenças causadas, que as pesquisas científicas não atestam efeito e
que incutir medo na população é uma irracionalidade:
Existe, na matemática, uma espécie de prova ao contrário. Ela é
possível de ser aplicada à questão dos agrotóxicos. Se é verdade que
tudo está envenenado, onde se verificam os efeitos?
A situação nos hospitais deveria ser alarmante. Milhares de pessoas
estariam procurando as unidades de saúde para notificar e tratar doenças
variadas, incluindo tumores cancerosos, causados por resíduos de
agrotóxicos. Muitos casos seriam conhecidos.
Nada disso se encontra. As mioplasias estão crescendo, é verdade. Mas
os pesticidas pouco têm a ver com isso. Quem garante é a Agência
Internacional para a Pesquisa do Câncer, ligada à Organização Mundial da
Saúde (OMS): agrotóxicos não constam entre as 10 principais causas, ou fatores de risco, da doença.
Nas áreas especializadas em medicina toxicológica, notórios
especialistas como Flávio Zambrone e Ângelo Trapé (UNICAMP), Rosângela
G. Peccinini (USP) e Álvaro Pulchinelli Jr (Escola Paulista Medicina),
tampouco confirmam essa (dita) tragédia. Nas unidades em que trabalham,
inexistem registros sobre doenças causadas pela ingestão de alimentos
contaminados por agrotóxicos.
Na aplicação em campo, lá nas lavouras, aí sim ocorrem problemas. São
eles anotados pelo SINITOX, ligado ao Ministério da Saúde.
Analisando-se as ocorrências no correr do tempo, verifica-se uma queda
das intoxicações causadas por contato com agrotóxicos no Brasil. Ao
contrário do esperado.
Entre os anos de 2000 a 2005, a média anual foi de 5.680
notificações; entre 2005 a 2010, de 5.688; e entre 2010 a 2016, de
4.238. (Rodapé: Em 2013 foram registradas 1907 notificações; por
incongruência dos dados, excluí esse dado do período).
Nesse mesmo período, houve um grande aumento no consumo de
agrotóxicos na agricultura brasileira, passando de 140 mil toneladas
(2000) para 551 mil toneladas (2016), acréscimo de 294%. O crescente
uso de agrotóxicos não ocasionou mais intoxicações por contato.
O professor Wanderlei Pignati (UFMT) lidera a campanha permanente
contra os agrotóxicos. Segundo ele, a exposição das pessoas aos venenos
no estado, Mato Grosso, campeão agrícola do país, é 10 vezes acima da
média nacional. Supõe-se, em decorrência, que na zona rural do Mato
Grosso as doenças cancerosas estejam altíssimas.
A hipótese não é confirmada pelo Instituto Nacional contra o Câncer
(INCA). Na estimativa, para homens, de “casos novos” da doença, a
capital, Cuiabá, apresenta 299 casos por 100 mil habitantes; no
interior, aparecem 253 casos.
Comparando-se os dados com o estado vizinho, do Mato Grosso do Sul,
descobre-se que, neste estado, os casos de câncer estimados pelo INCA
são 30% acima dos de Mato Grosso. Mais curioso é notar que os índices
mato-grossenses são semelhantes aos notados no Ceará, onde o agro é bem
mais fraco.
As avaliações médicas, portanto, coletadas da realidade em todo o
país, deixam claro que o uso de mais agrotóxicos não elevaram a
incidência de câncer no interior do Brasil.
O herbicida glifosato está na mira do ambientalismo mundial, pois
poderia ter efeito cancerígeno. Como se utiliza muito desse agrotóxico
nas lavouras do Mato Grosso, o fato deveria estar influenciando o
surgimento do Linfoma não Hodgkin. Só que não.
A taxa de incidência em homens, para cada 100 mil habitantes, é de
5,6 em Cuiabá, contra 4,2 no interior; nas mulheres, são 5,5 na capital,
contra 2,7 na roça. Deu ao contrário do esperado.
No relatório do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em
Alimentos (Anvisa/PARA), referente aos anos de 2013 a 2015, detectou-se
134 amostras, entre 12.051 coletas de 25 alimentos frescos, com
“potencial risco agudo” para a saúde humana. Dá um índice de 1,1% das
amostras.
Entre as 134 amostras problemáticas, encontravam-se 90 amostras de
laranja e 12 de abacaxi, frutas que mostraram resíduos acima dos
permitidos em 12,1% e 5% das amostras, respectivamente. Felizmente ambas
as frutas precisam ser descascadas, ou espremidas, para o consumo.
Diminui o risco real.
Se fossem excluídas essas amostras, de laranja e abacaxi, tomando-se
em consideração a avaliação sobre as restantes 23 frutas e legumes, o
grau de contaminação que traz “potencial risco agudo” cairia para 0,3%,
ou seja, 32 amostras entre 11.067 coletadas. Muito menor que se apregoa.
Mesmo assim, como existe grande margem de segurança, geralmente de
100 vezes, acima dos limites estabelecidos pela legislação, somente
haveria dano real à saúde se a ingestão do alimento ocorresse em elevada
quantidade.
Por exemplo, considerando o inseticida deltametrina, no cenário de
que toda batata, de uma determinada lavoura, fosse vendida contendo o
máximo de resíduo permitido, seria necessário ingerir 80 quilos de
batata, por pessoa e por dia, para afetar a saúde. Impossível.
Só falta uma possibilidade de se comprovar o envenenamento geral
causado por agrotóxicos no Brasil: aceitar a ideia de que existe um
efeito acumulativo dos resíduos no organismo humano. Sendo verdadeiro,
demorariam anos para se manifestarem os perversos efeitos na saúde das
pessoas.
Dediquei-me a pesquisar sobre esse ponto. A despeito de encontrar
inúmeras publicações sobre o efeito crônico dos resíduos de agrotóxicos,
não encontrei nenhuma referência científica, na literatura recente,
comprovando tal hipótese para os princípios ativos mais modernos.
Repito: nenhuma publicação científica atesta o efeito crônico.
Antigamente, para os agrotóxicos do grupo dos “organoclorados”, a
situação era muito séria, pois suas moléculas eram persistentes no
ambiente. Mas eles foram proibidos em todo o mundo há décadas. No
Brasil, DDT e BHC foram banidos em 1985.
Conclusão: a análise balizada pelo método científico não confirma que
a população brasileira esteja sendo envenenada por resíduos de
agrotóxicos. Supõe-se, mas não se evidencia. Felizmente.
Investir na tecnologia e nos cuidados da aplicação, nas lavouras, é
sempre recomendável. Aprimorar a fiscalização, obrigatório. Alimento
saudável é uma ótima causa, capaz de unir agrônomos, médicos,
agricultores, governo, empresas e a sociedade. Todos deveríamos nos unir
na defesa do alimento saudável.
Agora, botar medo na população inventando teses absurdas afronta a
racionalidade. Quem falar, que mostre a prova. Eu não as encontrei.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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