Reportagem de Tiago Cordeiro, especial para a Gazeta do Povo, mostra que "d
esde 2003, Lula e Dilma adotaram símbolos e práticas ligadas a regimes
de esquerda. Ao chegar ao poder, o novo presidente se diz disposto a
mudar essa situação". Só jornalistas da Globo e da Folha, além de
acadêmicos universitários esquerdistas, negam esse fato: o PT sempre foi
- e continua sendo - socialista, bastando consultar seus documentos
para comprovar. Aliás, o partido sempre deixou claro, também, que
despreza a democracia. Quanto a Lula, enjaulado em Curitiba, jamais
escondeu sua vocação para tiranete:
A cena se tornou corriqueira, e por isso mesmo deixou de chocar. Mas,
em julho 2003, apenas seis meses depois de ser eleito presidente da
República, Luiz Inácio Lula da Silva provocou uma polêmica enorme ao
participar de um evento oficial usando um boné do Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST). O evento da posse, aliás, já havia
sido marcado pela cor vermelha: no vestido da primeira-dama Marisa
Letícia, na gravata do vice-presidente José Alencar, nas bandeiras e nas
camisetas dos militantes que acompanharam o evento.
Já o visual da festa da posse do presidente Jair Bolsonaro foi bem
diferente: o verde e o amarelo predominaram. Ao discursar no Palácio do
Planalto, o presidente agitou uma bandeira do Brasil e declarou: “Esta é
a nossa bandeira, que jamais será vermelha. Só será vermelha se for
preciso o nosso sangue para mantê-la verde e amarela”.
Bolsonaro também afirmou: “É com humildade e honra que me dirijo a
todos vocês como presidente do Brasil. E me coloco diante de toda a
nação, neste dia, como o dia em que o povo começou a se libertar do
socialismo, da inversão de valores, do gigantismo estatal e do
politicamente correto”.
A promessa de livrar o país do socialismo gerou reações irônicas nas
redes sociais, como se o presidente estivesse apenas enxergando
fantasmas do passado.
Na verdade, ao fazer essa promessa, Bolsonaro se refere a um fato: o
Brasil flertou, sim, com o socialismo entre 2003 e 2016. Três fatos
comprovam a tese do presidente.
1. Símbolos visuais
Não foi apenas na cerimônia de posse de 2003. Foi assim também em
eventos de massa envolvendo os presidentes Lula e Dilma, até 2016. Os
dois nunca perdiam a oportunidade de usar bonés vermelhos e broches com a
estrela vermelha do Partido dos Trabalhadores. Ao longo de 2010, Lula
levou Dilma consigo para dezenas de eventos, de forma a anunciar a
candidatura de sua sucessora. Em geral, mesmo quando a bandeira era
brasileira e as roupas tinham tons discretos, a militância comparecia
com bandeiras e cartazes do PT, do MST, da Central Única dos
Trabalhadores (CUT) e de movimentos sociais.
Depois de deixar o cargo, Lula continuou atuando como líder
socialista. Em 9 de setembro de 2014, por exemplo, vestindo uma camisa
vermelha e cercado por bandeiras da mesma cor, participou, no centro do
Rio de Janeiro, de um ato organizado pela CUT em parceria com o
Sindicato dos Bancários e Federação Única dos Petroleiros (FUP). O tema
oficial era a defesa da camada pré-sal, mas o discurso foi inteiramente a
favor da então candidata a reeleição Dilma Rousseff e contra as
campanhas de Marina Silva e Aécio Neves.
2. Apoio a ditaduras de esquerda
Não só o PT divulga notas oficiais frequentes em apoio a Venezuela,
Cuba e Nicarágua, como, durante os governos Lula e Dilma, o Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Banco do
Brasil concederam empréstimos e a Petrobras investiu em obras em países
de regimes de esquerda. Na Venezuela, por exemplo, o Brasil financiou o
metrô de Caracas, a Usina Siderúrgica Nacional e uma ponte construída
sobre o Rio Orinoco – a Ponte Orinoquia é muito pouco utilizada, apesar
de ter custado US$ 1,2 bilhão.
Em Cuba, causou polêmica a construção do Porto de Mariel, inaugurado
em 2014 com a presença de Dilma. Atualmente, a dívida de Venezuela,
Moçambique e Cuba ao BNDES é de R$ 1,7 bilhão em pagamentos atrasados.
O PT segue criticando a mudança nas relações exteriores, promovida
pelo governo Temer e que visa melhorar as relações com os Estados
Unidos.
3. Intervencionismo estatal
Em seu discurso, Bolsonaro também se posicionou contra “o gigantismo
estatal”. Essa também é uma herança do PT. Sob a gestão do Partido dos
Trabalhadores, o Estado ficou maior e liderou uma série de políticas
intervencionistas. Em 2013, o ex-presidente do Banco Central Gustavo
Franco fez o seguinte balanço da gestão econômica do PT:
“Nos últimos 11 anos, houve um descaso dos problemas brasileiros do
lado da oferta, da produtividade, da competição, dos mercados. Fomos
retirados do trilho de uma consolidação da economia de mercado de
verdade. Acabamos nos aproximando de um capitalismo de estado
ineficiente, reproduzindo em parte a política econômica do governo
militar, com grande componente de intervenção, em uma época em que isso
está longe de ter a mesma efetividade dos anos 1970”.
No governo Dilma, em especial, Gustavo Franco enxergava o aumento da
centralização: “No governo Dilma, vieram mudanças em relação à
administração Lula e eles procuraram se aproximar dos ideais históricos
do PT, com muito mais intervenção, mais estatização, mais hostilidade ao
mercado em decisões sobre petróleo ou energia”.
Para Pedro Cezar Dutra Fonseca, professor Titular do Departamento de
Economia e Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul (UFRGS), os governos do PT são intervencionistas.
“O PT era intervencionista e tinha um plano de distribuição de renda,
mas não de desenvolvimento. Os governos Lula e Dilma foram
intervencionistas, com foco no social, na Bolsa Família, na recuperação
do salário mínimo”, afirma ele, que é coautor de um estudo, publicado em
2013 com o título O Brasil na Era Lula: Retorno ao Desenvolvimentismo?
“Tanto o governo Lula quanto a gestão Dilma promoveram um aumento de
gastos públicos, sem mexer na estrutura tributária, nem para distribuir,
nem para concentrar”.
Em tempo: para quem se pergunta onde está o socialismo denunciado por
Jair Bolsonaro, a primeira ação movida no Supremo Tribunal Federal
(STF) contra um ato do novo governo oferece uma resposta: o texto do
processo movido pela Federação Nacional dos Advogados, que questiona a
extinção do Ministério do Trabalho, cita: “Marx e Engels já nos
advertiam há dois séculos que as relações entre trabalhadores e
proprietários do capital tendem a ser dramaticamente conflituosas".
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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