Coluna de Carlos Brickmann, publicada nesta quarta-feira em diversos jornais do país:
Agora é hora de começar a campanha verdadeira: sábado, 1º de
setembro, começam os 35 dias de propaganda política na TV. O horário
gratuito e os anúncios espalhados pela programação normal vêm sendo, a
cada eleição, as armas decisivas da campanha. Sim, muita gente hoje se
limita à TV aberta; e a força da Internet nunca foi tão sensível. Mas a
TV aberta tem acesso a maior número de pessoas do que tevês fechadas e
redes sociais, somadas. TV mexe com as emoções do público e, na hora H,
são as emoções que decidem o voto.
Neste mundo de imagens e sombras, o rei é Geraldo Alckmin, da
coligação liderada pelo PSDB, com 44,2% do tempo. O PT (com Lula, ou com
o boneco de ventríloquo que falará em seu nome) tem 18,9%. Bolsonaro,
que vem bem nas pesquisas, tem 1,2%. Em números absolutos: Alckmin tem
11 minutos de programa por dia, mais 433 anúncios de 30 segundos em 35
dias. O PT tem 4m44s de programa, mais 185 anúncios. Bolsonaro, 11,6
segundos, mais 11 anúncios – pouco menos de um a cada três dias. Quem
ganha? Nunca se sabe: boca de urna pode ser surpreendente. Mas este
colunista, que já viu elefante voar e coelho atacar onça, que viu o
Santos de Pelé, Pepe e Zito perder de 6×4 para o Jabaquara, desde que há
horário gratuito nunca viu vitória sem boa TV.
Alckmin é o rei da TV, mas também pode ser surpreendente. Vestiu-se
de garoto-propaganda de estatais para debater com Lula, estatizante
consagrado. E foi surrado no segundo turno com menos votos do que teve
no primeiro.
Temer? Quem é? 1
Romero Jucá chegou ao Governo ao lado de Temer, como seu amigo de fé e
irmão camarada. Romero Jucá faz parte do Governo porque para ele esta é
a condição natural: esteve em todos os governos desde Figueiredo até
hoje, com a única exceção do período de Itamar Franco, e sempre em altos
cargos.
Mas fim de mandato é fim de mandato: Jucá acaba de deixar o Governo e
abandonar Temer, segundo diz por divergências – ele, que nunca divergiu
de Figueiredo e Collor, de Fernando Henrique e Lula, de Dilma e Temer.
Dizem que quer se dedicar à campanha da reeleição, já que as pesquisas o
colocam em terceiro quando só há duas vagas, e para ele perder o foro
privilegiado não é saudável. Fim de governo é fim de feira. Nem a xepa
quer ficar exposta.
Temer? Quem é? 2
Henrique Meirelles, solidamente ancorado na parte de baixo das
pesquisas, girando em torno de 1%, já tem pronto aquilo que chama de seu
primeiro programa eleitoral. Veja só, caro leitor, que descuido! Vazou
na Internet!
Meirelles, que foi até há pouco ministro da Fazenda de Temer, se
coloca na faixa de Lula. Pois é: lembra que foi presidente do Banco
Central no Governo Lula, de 2003 a 2010, desenterra duas antigas
gravações em que Lula o elogia, coloca fotos e vídeos de Lula. Temer não
aparece. Aliás, quem é esse Temer?
Promessa ou ameaça?
Ciro foi bem na entrevista a William Bonner e a Renata Vasconcelos,
no Jornal Nacional. Os dois o entrevistaram com competência, levantando
uma série de perguntas difíceis, e Ciro, tranquilamente – calmo! –
respondeu sem problemas. Mas fez uma promessa que soa como ameaça: disse
que tem cega confiança no presidente de seu partido, Carlos Lupi, PDT.
“Lupi terá no meu governo a posição que quiser, porque tenho a convicção
de que é um homem de bem”. Pois é: pegou mal. Conforme Bonner lembrou
(e Ciro manteve sua opinião), Lupi responde a inquérito no Supremo sobre
compra de apoio político para Dilma, é réu por improbidade
administrativa no Distrito Federal, foi demitido do Ministério do
Trabalho de Dilma por recomendação da Comissão de Ética da Presidência.
Ciro negou que ele fosse réu. Ciro violou uma regra básica da política:
para mentir, é preciso combinar, e mentir juntos.
Botar a mão no foto por Lupi é namorar o apelido de Capitão Gancho.
Pagando sempre
A coisa foi discreta, passou meio despercebida, mas aquela antipática
taxa cobrada pelas companhias aéreas para transportar a bagagem de seus
clientes acaba de ser autorizada também para as empresas de ônibus
intermunicipais. O decreto 9.475, de 16 de agosto de 2018, assinado pelo
presidente Michel Temer, autoriza as empresas a cobrar meio por cento
do valor da passagem a cada quilo de bagagem acima de determinada
franquia, Mas há uma concessão ao politicamente correto: cadeira de
rodas pode ser levada sem taxa extra.
É impressionante como as más ideias se espalham rapidamente. A
cobrança da taxa por bagagem foi criada para baratear a viagem de quem
viaja só com a maleta de mão; e acabou encarecendo a viagem de todos os
outros, sem baratear a de ninguém. Ônibus é pior: nele vai quem não pode
pagar o avião.
Bem brasileiro
Frase do pensador de língua alemã Georg Lichtenberg (1742-1799),
lembrada pelo jornalista Linoel Dias, e que por algum motivo nos fez
lembrar do Brasil de hoje: “Quando os que comandam perdem a vergonha, os
que obedecem perdem o respeito”
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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