Fala-se muito, nestes
dias, em reduzir impostos, como se o Estado estivesse entesourado ou
entesourando. E se deixa de lado o gasto público em seu longo e
persistente crescimento. O diabo da ficha não cai! Percival Puggina, em
seu blog:
Sabe aquela ficha que
você insere na fenda adequada e volta para a sua mão por haver seguido
percurso errado? Pois é. Lembrei-me muito dela ao acompanhar os recentes
acontecimentos nacionais. Passavam-se os dias, a vida tornou-se uma
verdadeira sala de aula, a conta crescia e a ficha era devolvida. Aliás,
a festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, etc., etc.. Mas a ficha
ainda não caiu. “E agora, José?”, perguntaria novamente Drummond.
A aritmética
financeira do Estado é muito simples porque o bem-amado ente político
que denominamos Estado só tem um bolso, o do cidadão. Mediante uma
sutileza chamada imposto, em vez de nos punguear diretamente, ele nos
obriga a lhe entregar dinheiro. Nesses atos – não sem certo sarcasmo -
os cidadãos recebem do erário o gratificante e honroso título de
“contribuintes”. Contribuintes das cotidianas coletas coercitivas
organizadas nos diversos níveis do assim chamado poder público (outro
sarcasmo da linguagem política), desta feita aplicado a si mesmo.
Sendo tão simples a
aritmética oficial, se quem manda gasta e quem obedece paga, parece
inacreditável que a maior parte da população não demonstre qualquer
interesse em protestar contra os gastos do Estado. Obviamente, é a
despesa pública que determina quanto tempo por mês trabalharemos para o
Estado. Imposto é o preço da vida civilizada, disse alguém, e é também o
preço do gasto público, complemento eu. Tudo piora quando o lado
perdulário dessa relação perde o controle e começa a pedir dinheiro
emprestado. Nessas circunstâncias, muitos “contribuintes” passam a
imaginar que o aumento da despesa não está impactando os impostos que
paga. É como se se tratasse um dinheiro novo, que logo ali adiante,
salgado pelos juros, não fosse buscado nos bolsos de sempre. Nessas
horas, não faltam vozes para exigir "auditorias", ou pregar calote.
Gasto, déficits e
empréstimos, por essas forças inexoráveis do destino, têm que ser pagos.
Greves com reivindicação salarial, subsídios públicos, custeio de
empresas estatais, luxos e mordomias, obras suntuosas e supérfluas como
as da Copa e dos Jogos Olímpicos, penduricalhos de categorias funcionais
e toda a despesa incumbida ao Estado oneram o lado pagador dessa
relação. Mesmo assim, nunca falta quem se perfile ao lado da criação de
tais contas e por elas pressionem como exigências da justiça e dos mais
nobres impulsos do coração humano. Onde estavam tais vozes enquanto a
Petrobras era saqueada e o preço do combustível usado para proselitismo
eleitoral?
Deveria ser o povo,
então, o primeiro a se insurgir contra novas despesas, especialmente as
não virtuosas, contra a irresponsabilidade fiscal e contra a velha
prática de conceder benefícios a alguns à custa de todos. De longa
observação, e com raras exceções, a atribuição de qualquer ônus ao poder
público se faz em meio a ruidosos e incompreensíveis aplausos.
Fala-se muito, nestes
dias, em reduzir impostos, como se o Estado estivesse entesourado ou
entesourando. E se deixa de lado o gasto público em seu longo e
persistente crescimento. O diabo da ficha não cai!
BLOG ORLANDO TAMBOSI
Nenhum comentário:
Postar um comentário