José Sócrates,
ex-primeiro-ministro de Portugal, hoje às voltas com a lei, assim como
seu amigo Lula, o detento de Curitiba, recebe a "homenagem" de um
cidadão (Luís Reis) no jornal Observador. É a mesma homenagem que podemos fazer ao tiranete Lula:
Obrigado!
Não é fácil elogiar,
acarinhar e reconhecer o mérito de quem outrora foi poderoso e teve a
faca e o queijo na mão, agora que se vê a braços com atribulações as
mais várias e de naturezas distintas – desde as investigações policiais,
passando por dificuldades financeiras, até à perda de reputação e
credibilidade (intelectual, de carácter e política), discutida e
atingida, quotidianamente, na imprensa e nos meandros judiciários.
Esse é, pois, o papel
que me proponho fazer a respeito de José Sócrates. Mais do que elogiar –
quero agradecer. É que não fora o seu empenho, quer público, quer
publicado, no âmbito da estratégia de defesa que adoptou quanto aos
crimes que lhe são imputados, e nunca nos seria revelada uma paleta de
verdades que ninguém supunha. Obrigado, pois, José Sócrates.
Obrigado por nos
mostrar que um primeiro-ministro de um país democrático pode ambicionar
(e quase concretizar) tornar-se um soberano total, abrangente, real.
Enfim, completo.
Obrigado pelos seus
contributos para o aprofundamento da filosofia (ao qual não pude
infelizmente ter acesso, porque sempre que tentei adquirir um exemplar
dos seus livros estavam todos esgotados). Obrigado também por demonstrar
que nada há a censurar na venda explosiva de livros de filosofia – a
vaidade, afinal tão comum em “todos os políticos”, explicará esse
fenómeno.
Obrigado por nos
revelar o maravilhoso e deslumbrante mundo dos arrondissements e dos
restaurantes mais cintilantes de Paris. Sem esse esforço, para sempre se
manteria impenetrável aos nossos olhares esse universo glamouroso.
Obrigado por nos
iluminar o caminho mais curto para obter um grau académico numa
Universidade Portuguesa – é um importante tributo ao valor da
eficiência, para além de nos recordar, a todos, a relevância da
injustamente esquecida disciplina de Inglês Técnico. Thank you very
much!
Obrigado por nos
ensinar que o sistema judicial, que os magistrados, que as polícias –
que a própria lei! – são iníquos, obedecem a propósitos obscuros,
conspirativos, persecutórios e insondáveis e que agem sempre a soldo ou
em conluio com interesses difusos e métodos maléficos, que servem para
tudo excepto para fazer justiça. Só assim nos apercebemos da dimensão da
falácia de que falamos quando falamos de “justiça” em Portugal. Só
assim ganhamos consciência de que o Estado de Direito afinal é um
faz-de-conta.
Obrigado por nos
inspirar e por nos demonstrar como se devem pôr no sítio os magistrados e
os investigadores, para o caso de um dia precisarmos de o fazer.
Ficámos a saber que podemos gritar com eles, destratá-los à vontade,
imputar-lhes manhas e outros vícios, apoucá-los e rir-nos deles. Tudo
impunemente.
Obrigado por
demonstrar que não há mal nenhum em viver com dinheiro emprestado e por
nos recordar o valor da amizade, tão antiquado e caído em desuso. Já
muitos glosaram e gozaram com as suas amizades, restando-me, a mim,
apenas invejá-las. Amigos como os seus – ou como, coincidentemente, os
de Ricardo Salgado, movidos por um ímpeto de liberalidade nunca visto –
não há por aí aos pontapés. Conserve-os por muitos e bons anos!
Obrigado por pôr a nu
o desconforto dos políticos e dos partidos em lidar com acusações de
corrupção a um dos seus. Ninguém reage, ninguém separa as águas
claramente; ninguém se demarca, ninguém se compromete. Governo, PS,
parceiros de esquerda e mesmo políticos de outros quadrantes – calados,
indiferentes, incomodados. Todos cúmplices.
Obrigado, José
Sócrates, em suma, pelo serviço que prestou à democracia e a Portugal.
Iremos dever-lhe muito durante muito tempo.
BLOG ORLANDO TAMBOSI

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