Pela segunda vez, em
menos de seis meses, os militares estão preocupados com a posição em que
foram colocados, diante da população, por conta de uma nova crise,
agora provocada pela paralisação dos caminhoneiros, que no domingo, 27,
entrou no sétimo dia, provocando um caos em todo o País. Um integrante
do Alto Comando das Forças Armadas disse ao jornal O Estado de S. Paulo,
sob a condição de anonimato, que o governo jogou a crise “no colo”
deles de novo, como quando foi decretada a intervenção de segurança
pública no Rio de Janeiro.
Ele considera que a
situação atual poderia ter sido evitada se o governo tivesse agido com
antecedência. A grande preocupação das Forças Armadas é parecer que os
militares querem um protagonismo, o que, diz ele, não procede. Além
disso, fontes consultadas pela reportagem se queixam que em casos como
esses é atribuída uma responsabilidade às Forças Armadas para resolver
problemas que não estão apenas nas mãos do Exército, Marinha e
Aeronáutica, porque dependem de determinação e pedido de auxílio para
cada missão, em cada Estado.
A avaliação da cúpula
militar, que tem feito pelo menos duas reuniões diárias, por
videoconferência entre todos os comandos do País, incluindo as três
forças, é que “a situação é muito delicada” e o “quadro se agravou muito
nas últimas horas (durante o domingo)”, mesmo com a desobstrução de
rodovias em muitos pontos do Brasil.
Um dos
oficiais-generais consultados explicou que não adianta liberar estrada,
sair do acostamento, se o caminhoneiro continuar parado como está e não
fizer a mercadoria circular. A segunda-feira está sendo considerada um
dia crucial para se medir a temperatura do que está por vir, mas os
militares lembram que surgiu um problema crítico: a greve de 72 horas
dos petroleiros, anunciada para a zero hora de quarta-feira.
Militares mantêm disposição de ajudar
Os militares
reiteram, no entanto, que estão à disposição para ajudar, no que for
preciso, sempre dentro do respeito aos preceitos constitucionais e
agindo seguindo os pedidos do Planalto, e não por iniciativa própria.
O maior incômodo
deles é que quando o presidente Temer anunciou que estava convocando as
forças federais para ajudar a restabelecer a ordem e retomar o
abastecimento do País, ficou parecendo que os militares iam chegar e,
como se fosse função deles, resolver o problema da paralisação dos
caminhoneiros no fim de semana. “Não é nosso papel”, reclamou outro
integrante do alto comando das Forças, lembrando que eles atuam para
apoiar outras ações.
Este mesmo militar
lembrou que, no caso do Rio, a forma como foi colocada a questão, deu a
impressão de que os militares, ao assumirem a segurança pública do
Estado, iam resolver o problema da criminalidade em um mês, devolvendo a
tranquilidade da população, que foi destruída ao longo de décadas, com
contaminação de todos os poderes locais.
Medidas tomadas de afogadilho
A avaliação é de que,
no processo dos caminhoneiros, todas as medidas foram tomadas de
afogadilho, atirando para todos os lados e, ao final, se tornando refém
da categoria, deixando claro para o País a péssima sensação de que “está
dando tudo errado”.
Os militares observam
ainda que é muito ruim o governo estar negociando com a faca no
pescoço. De acordo com vários integrantes da cúpula consultados, o
governo parece “estar perdido” na condução desse processo porque não
sabe quem é o interlocutor certo e com quem está negociando. (Gazeta do
Povo).
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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