Juan Ramón Rallo,
diretor do Instituto Juan de Mariana (Espanha), escreve sobre a
tentativa do multimilionário George Soros, financiador de teses
"progressistas", de controlar as redes sociais. Soros é o último suspiro
do establishment esquerdista:
O multimilionário George Soros, o principal financiador de todas as causas progressistas ao redor do mundo, está em campanha aberta contra as redes sociais. Em um artigo para o jornal britânico The Guardian, que vem causando grande repercussão, ele alertou que a sociedade aberta corre perigo por causa das redes sociais.
[Curiosamente, na mesma semana, a Folha de S. Paulo também defendeu a regulação das redes sociais].
O argumento de Soros é, essencialmente, o seguinte:
a) as redes sociais estão sendo monopolizadas por poucas e grandes empresas, como Google e Facebook;
b) tornou-se
extremamente simples para essas plataformas utilizar seus enormes
volumes de informação para manipular seus usuários;
c) os usuários podem
ser manipulados pelas redes não só em relação a suas preferências
comerciais, como também em relação a suas preferências políticas;
d) esta capacidade de
manipulação política pode se tornar especialmente danosa caso tais
"monopólios" privados se aliem a estados autoritários para sabotar os
valores das sociedades abertas ocidentais;
e) exatamente por
tudo isso, os estados democráticos devem destruir as plataformas das
redes sociais mediante impostos e regulações asfixiantes.
Uma parte do
diagnóstico de Soros até está correta: as redes sociais de fato têm a
capacidade de influenciar politicamente seus usuários e,
consequentemente, de torná-los instrumentos de estados autoritários que
querem insuflar sua propaganda com o propósito de impor sua ideologia
específica, o que pode até destruir as bases da convivência pacífica.
Desconsiderar a existência deste perigo seria ingênuo e até desonesto.
No entanto, é
igualmente ingênuo e desonesto acreditar — como faz Soros — que estes
perigos podem ser resolvidos por meio de uma canetada que outorgue aos
"estados democráticos" (na prática, apenas aqueles aprovados por Soros) a
competência de controlar as plataformas das redes sociais.
Com efeito, tal ideia não é apenas ingênua e desonesta: ela é extremamente ameaçadora.
Problemas elementares
Soros diz temer uma aliança entre governos autoritários e os grandes "monopólios"[1]
das redes sociais, mas, ao mesmo tempo, defende entregar o controle das
redes sociais a outros governos — desde que sejam "democráticos".
Haverá aqueles que
não vêem contradição — ou mesmo contra-indicação — nenhuma nessas
sugestões: afinal, dirão eles, se as redes sociais forem administradas
pelos governos e forem manipuladas a favor da democracia, então a
sociedade aberta poderia até mesmo sair reforçada. Ou, em outras
palavras, se nós somos bons e morais, não há o que temer em utilizar
nosso poder para impor o bem perante o mal.
Por razões elementares, esta tese é totalmente problemática.
Primeiro, comecemos
pelo mais básico de tudo: o que ocorrerá se, após tomarem o controle das
redes sociais, os governos democráticos se tornarem autoritários? Neste
caso, a principal proposta de Soros para combater o mal irá se
converter em sua principal força-motriz: querendo vetar a influência de
governos autoritários sobre as redes sociais, Soros estará lhes
entregando o poder em uma bandeja de prata.
Mas qual a
probabilidade de um governo democrático se tornar autoritário ou
quase-autoritário? Enorme. De um lado, há o explícito exemplo da
Venezuela (e, em menor grau, de Equador e Bolívia). De outro, da
perspectiva do próprio Soros, governos como o de Trump e o de Viktor Orbán (Hungria) seriam quase-autoritários. E há também o exemplo da França, que quase foi para Marine Le Pen, de quem Soros é inimigo declarado.
Sendo assim, a
pergunta inevitável é: por acaso Soros ficaria entusiasmado se Trump,
Orbán ou Le Pen passassem a controlar o Facebook e o Google? É certo que
não. No entanto, é exatamente isso o que ele está propondo ao defender
que o estado controle as redes sociais.
A segunda razão por
que esta tese é insensata: como determinar quais ideologias o governo
deve tolerar em seu controle das redes sociais? Se o estado irá utilizar
as plataformas das redes sociais para impor 'valores corretos' aos
cidadãos, será o próprio governo quem irá estabelecer a fronteira entre
os valores corretos e os incorretos.
É certo que Soros —
progressista inflexível — tem sua opinião sobre quais são esses valores
corretos. Com efeito, é até mesmo provável que ele tenha sua opinião
sobre o quanto as pessoas podem se desviar desses valores corretos sem
que a sociedade aberta se desmorone. Porém, banir de todas as redes
sociais aqueles valores que o governo considere disfuncionais equivale a
instaurar uma censura digital.
Além dos vários e
óbvios perigos derivados de se outorgar ao governo o poder de censurar
aquelas idéias que lhe são incômodas, resta a pergunta: como
possibilitar um pensamento verdadeiramente crítico quando certos valores
(no caso, os progressistas) são decretados como intocáveis ou
inquestionáveis?
Se Soros estivesse,
junto a Obama, no controle das redes sociais nos EUA, teria ele dado
algum tipo de cobertura midiática a Trump ou teria distorcido as redes
em favor de Hillary Clinton (de quem ele é amigo fiel)? E por que deveríamos supor que todas as idéias e propostas de Hillary eram preferíveis às de Trump?
Não há espaço para
preferir honestamente alguém como Trump em relação a alguém como
Hillary? Em que medida um governo democrático com poder de vetar várias
opções políticas não irá se converter em um governo autoritário?
Em definitivo, na
mais benevolente das hipóteses, George Soros erra mão ao, de maneira bem
intencionada, querer propor um maior controle governamental sobre as
redes sociais. Já na pior das hipóteses — que é a mais provável —, ele
quer alimentar um alarmismo anti-redes sociais com o intuito de
legitimar que os governos as controlem e as utilizem para aprofundar sua
agenda progressista.
A real intenção
É fato que as redes
sociais, ao se transformarem em meios de comunicação em massa e para as
massas, se transformaram também em potenciais meios de manipulação das
massas. No entanto, no que isso difere da grande mídia?
As redes sociais são
hoje o que já foram os grandes jornais, o rádio e a televisão. No
entanto, diferentemente do que ocorreu a essas outras tecnologias, o
custo para o usuário de uma rede social é extremamente baixo: ele pode
mudar de meio de comunicação, recorrer simultaneamente a vários meios de
comunicação, ou até mesmo se tornar ele próprio um meio de comunicação —
e tudo isso a um custo quase nulo.
E a verdade é que,
mesmo sendo suscetíveis a manipulações, as redes sociais atualmente
proporcionam ao cidadão comum muito mais armas para contra-atacar o
risco de manipulação das notícias do que jamais proporcionaram a
imprensa escrita, o rádio e as televisões.
Sendo assim, então de
onde vem este atual pânico em relação às redes sociais? Dado que o
eleitor sempre esteve à mercê da manipulação dos grandes meios de
comunicação, e dado que a internet proporciona ao cidadão comum muito
mais armas para contra-atacar essa manipulação do que jamais
proporcionaram os outros meios de comunicação, então por que tantas
vozes influentes estão gritando contra as redes sociais, e exatamente
com a desculpa de ajudar ao cidadão comum?
É fácil: porque os
meios de comunicação tradicionais eram muito mais facilmente
controláveis e manipuláveis pelos governos. E é esse arranjo que Soros
quer recriar.
Ninguém em sã
consciência pode dizer que a mídia tradicional sempre foi de uma
imparcialidade e ponderação inflexíveis, e que jamais espalhou notícias
falsas (as 'fake news'). Ao contrário: a mídia tradicional sempre foi
claramente percebida pela população como um meio alinhado aos interesses
dos governantes da vez.
Logo, o estridente
ataque de Soros às redes sociais busca reverter exatamente isso: ele
quer recolocar as descentralizadas redes sociais sob as ordens do estado
para, assim, restabelecer seu controle político sobre os meios de
comunicação — e, com isso, tornar dominante o status quo progressista e
social-democrata que ele sempre financiou. (Mises Brasil).
[1]
O termo 'monopólio' está entre aspas porque não há monopólio nenhum
neste setor. Não há nenhuma regulação estatal proibindo o surgimento de
redes sociais concorrentes. A proibição estatal à concorrência é a
definição precípua de monopólio.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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