Coluna de Carlos Brickmann, publicada nas quartas-feiras em diversos jornais do país e, aqui, via Chumbo Gordo:
Bolso cheio, eleitor
feliz. Michel Temer reduziu a inflação e baixou a taxa de juros ao menor
nível da História recente. Por que o eleitor o rejeita, mantendo sua
candidatura no chão, apesar das boas notícias da Economia?
Porque as notícias da
Economia só são boas quando lidas. Aplicadas, a coisa muda. É verdade
que a taxa básica de juros é de 6,75% ao ano, mas nos juros do cheque
especial a taxa é de 324,7% ao ano (números oficiais, do Banco Central).
O cidadão não compra nada com a taxa básica; usa a do cheque especial e
é esfolado todos os dias. E, se a taxa básica foi reduzida em 0,24% em 7
de fevereiro, a do cheque especial subiu 1,7% em janeiro.
O eleitor usa também o
cartão de crédito. Os juros são de 241% ao ano. E, se o caro leitor
estiver escandalizado com o aumento de juros do cheque especial em
janeiro, há coisa pior: a taxa do cartão de crédito subiu 7,1% no mesmo
período. Para ver se baixava esses números imorais, o Banco Central
determinou que os juros do cartão de crédito fossem cobrados só no
primeiro mês. O valor da dívida será então pago em crédito parcelado.
Mas quanto custa essa nova modalidade? Outro escândalo: 171,5% ao ano.
Na década de 1970, o
general Emílio Médici, que presidiu o período de maior crescimento
econômico do país, disse uma frase que continua válida: “A economia vai
bem, mas o povo vai mal”. A que situação chegamos, em que é preciso
lembrar uma frase do mais feroz ditador do regime militar?
A Copa dos vizinhos
O presidente
uruguaio, Tabaré Vásquez, tenta formar um bloco com Argentina e Paraguai
para realizar a Copa do Mundo de 2030 e festejar o centenário da
primeira Copa do Mundo, ocorrida em 1930 no Uruguai (que foi o primeiro
campeão mundial). Como na Copa do Japão e Coreia em 2002, a primeira a
se realizar em mais de um país, o evento seria compartilhado entre as
nações do Rio da Prata.
Palavras do
presidente uruguaio que talvez nos soem familiares: “Seria a realização
de um sonho coletivo do país que queremos ser em 2030, assim como um
legado para futuras gerações, com infraestruturas que contribuam para
melhorar a qualidade de vida de todos os uruguaios”. Pois é. Se é assim,
então tá.
A luz no túnel
O Brasil poderia
cooperar amplamente com a Copa platina. Há empresas brasileiras que já
fizeram trabalhos semelhantes na Copa de 2014, também a título de legado
para futuras gerações. Futuras gerações, claro, dos donos das empresas,
cuja capacidade de montar legados ficou aqui comprovada. Levando em
conta que o volume de trabalho que executavam se reduziu, a cooperação
com os vizinhos seria muito bem-vinda para essas empresas.
Caminho de ida
O ministro da
Segurança, Raul Jungmann, disse na hora da posse que sua carreira
política está encerrada. Jungmann aproveitou a oportunidade e resolveu
dois problemas ao mesmo tempo: trocou o Ministério da Defesa, onde muita
gente das Forças Armadas não apreciava sua gestão, por uma nova pasta,
com mais poder de decisão e, espera, verbas mais alentadas; e livra-se
de uma dura campanha eleitoral, ele que nunca foi um campeão de votos e
que, nas últimas eleições, ficou na suplência. Mais, apresenta-se como
patriota: “Ao aceitar este cargo, abro mão da minha carreira política.
Encerro minha carreira política para me integrar integralmente a esta
luta”. Jogada de mestre. E quais seus planos para enfrentar a
insegurança pública? Ora, caro leitor! Ele não pode pensar em tudo ao
mesmo tempo.
A boa saída
O ex-prefeito carioca
César Maia, pai do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e bom analista
político, acha que apesar de tudo a intervenção no Rio fortalece o
presidente Temer. “O policiamento ostensivo deve inibir a bandidagem.
Quem se opôs à intervenção não apresentou nenhuma ideia, nada, para
substituí-la. E a população já não aguentava mais tanto crime”.
Implicância
Quando autoridades e
seus parentes vão a bons hospitais particulares, os adversários reclamam
que não foram se tratar no SUS. Quando, como agora, a mãe do prefeito
carioca Marcelo Crivella vai a hospital público, os adversários reclamam
que está ocupando a vaga de quem precisa mais. As críticas surgem por
um motivo ou outro.
Eris Bezerra
Crivella, no dia 17, fez uma cirurgia no punho, no Hospital Salgado
Filho; no dia 26, foi levada à emergência do Hospital Miguel Couto, com
fortes dores na mão. Nesta internação, diz O Globo, “segundo
testemunhas, ela recebeu tratamento diferenciado e foi prontamente
encaminhada para radiografia”. E que diz a testemunha? “Uma funcionária,
que pediu para não ser identificada, apesar de não ter visto a mãe do
prefeito chegar à unidade, soube por outros profissionais que ela foi
atendida antes de outros pacientes que já estavam no local”.
Ela não se identifica, nem viu, mas acusa e a imprensa a ouve.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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