sábado, 30 de setembro de 2017

Catalunha mobiliza eleitores para garantir plebiscito

Cerca de 80 mil pessoas participaram de comício em Barcelona


Dezenas de milhares de pessoas tomaram as ruas de Barcelona na noite desta sexta-feira (29) para uma manifestação pacífica em defesa do plebiscito separatista convocado pelo governo da Catalunha para o próximo domingo (1º), votação que é considerada ilegal pela Espanha.
Segundo os organizadores, o ato reuniu cerca de 80 mil entusiastas da independência e representou o último comício da campanha pelo "sim" na consulta popular. Inflamados pelo presidente da comunidade autônoma, Carles Puigdemont, os manifestantes hastearam bandeiras da Catalunha e mostraram que as ações da Justiça espanhola não serviram para aplacar o fervor separatista.
"Chegamos até aqui e temos até domingo para ganhar a independência, para acabar com o processo e começar com o progresso. Sabemos o que as pessoas estão fazendo para proteger as instituições, o governo e sobretudo o direito do povo. Nós já vencemos", disse.
Puigdemont chamou o Estado da Espanha de "autoritário" e afirmou que Madri não queria que os catalães chegassem às vésperas do plebiscito "em paz". "Cada dificuldade nos tornou mais fortes", acrescentou, chamando sua região de "país".
Enquanto isso, as autoridades espanholas mantiveram o cerco para tentar impedir a votação, inclusive por meio de ações na Justiça voltadas à internet. Um magistrado ordenou que o Google tire do ar um email ao qual as pessoas podiam recorrer para descobrir os endereços dos colégios eleitorais, e outro juiz determinou o fechamento de um site de voto eletrônico que seria usado como alternativa às cédulas tradicionais.
Ato reuniu 80 mil entusiastas da independência
Ato reuniu 80 mil entusiastas da independência
Nos últimos dias, mais de 140 páginas na web já haviam sido bloqueadas por causa de envolvimento com o plebiscito, que foi convocado à revelia de Madri. Ao longo da semana, a Procuradoria Federal da Espanha também exigira que os Mossos d'Esquadra, nome da força policial catalã, interditassem os colégios eleitorais.
Em resposta, cidadãos começaram nesta sexta a ocupar alguns desses locais de voto pacificamente, evitando que eles sejam fechados pela polícia. Em um comunicado interno, o major dos Mossos, Josep Lluís Trapero, disse a seus comandados que eles devem evitar o uso da força contra os catalães em 1º de outubro.
De acordo com o jornal regional "La Vanguardia", que cita o documento, os agentes só poderão revidar em caso de agressão "contra a própria polícia ou terceiros". Ainda assim, o major indica que cumprirá a ordem da Justiça espanhola de impedir a abertura dos colégios eleitorais.
Se houver pessoas dentro de um local de votação, no entanto, os Mossos devem adotar a tática da "mediação". Caso não funcione, eles proibirão a entrada de novos cidadãos, deixando a saída livre para os que já estiverem ali. O que ainda não se sabe é qual será o comportamento dos 10 mil agentes da Guarda Nacional e da Polícia Nacional que a Espanha enviou para a Catalunha.
O plebiscito
A consulta popular será realizada entre 8h e 20h de domingo, e cerca de 5,3 milhões de eleitores poderão participar, respondendo a uma única pergunta: "Você quer que a Catalunha se torne um Estado independente, na forma de uma república?".
A Catalunha é uma das mais ricas das 17 comunidades autônomas da Espanha e, com 7,5 milhões de habitantes, responde por 19% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. Com tradições e idioma próprios, a região enfrentou severas restrições na ditadura de Francisco Franco (1939-1975), mas hoje goza de ampla autonomia em matéria de saúde, segurança e educação.
No entanto, o governo catalão tem pouco poder no âmbito fiscal, e uma das principais reivindicações dos separatistas é que a região recebe de Madri menos recursos do que os impostos que paga. Os independentistas também acusam a Espanha de ser um Estado autoritário e dizem que a comunidade seria ainda mais próspera se virasse um país.

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