Depois de ir às alturas e travar o consumo de produtos importados, o dólar inverteu neste ano o movimento para queda brusca, saciando o apetite do consumidor pelas delícias que vêm de fora, como vinhos e azeites. Os empresários que trabalham com produtos importados aproveitam a valorização de 10,7% do real sobre o dólar, no confronto com dezembro, para repassar o ganho aos clientes como estratégia de alavancar as vendas e driblar a crise.
O diretor comercial da rede de supermercados Supernosso, Rodolfo Nejem, garante que a queda do dólar contribui para a redução dos preços dos produtos importados. O ganho para a empresa vem do aumento do tíquete médio (valor médio de vendas). E ele diz que a redução de preço impacta inclusive produtos que estão sendo entregues agora, mas que tiveram a compra contratada antes da mudança no câmbio.
“Nossos pedidos são constantes e o prazo para pagamento é dilatado. Coisas que pedi lá atrás estou recebendo agora, com preço melhor, acompanhando a cotação”, afirma Nejem.
60 dias prazo que a maioria dos entrevistados acredita que levará para que os impactos do dólar cheguem às prateleiras
Vinhos
Com três lojas em shoppings da cidade e um restaurante em Lourdes, a Mon Caviste também comemora o recuo da moeda norte-americana. Embora a casa seja especializada em vinhos franceses, o proprietário Felipe Lins explica que o desembaraço dos contêineres no Brasil fica mais barato.
“Conseguimos internalizar a mercadoria por um preço melhor e o imposto também fica menor. Repassamos tudo ao consumidor, esperando conquistar mais clientes”, diz.
“O ideal é que a pessoa que irá viajar compre moeda estrangeira em datas diferentes. Assim, ela faz uma taxa média”
Alexandre Fialho
Diretor da casa de câmbio Cotação

Na Mon Caviste é possível encontrar vinhos franceses a partir de R$ 49. “Como trabalhamos com pequenos produtores, normalmente conseguimos preços melhores. Nossa propósito é mudar a ideia de que vinho francês é caro”, diz.
Os descontos na Enoteca Decanter, que chegam a 40% em épocas de promoções, tendem a ficar ainda mais atrativos se os vinhos forem comprados com dólar em queda. Segundo o proprietário da casa, localizada na Savassi, Flávio Morais, 2016 foi um ano duro devido à crise, e promoções foram realizadas constantemente para estimular as vendas.
“Passamos o ano inteiro em promoções. Estamos reduzindo a margem de lucro para que o consumidor possa levar o produto para casa. Com a retração do dólar, é possível intensificar as promoções. Além disso, essa queda pode recompor a margem de lucro”, diz.
Ele acredita que em 60 dias o recuo na cotação da moeda norte-americana comece a aparecer nas gôndolas com mais intensidade. “Estamos começando a comprar para o inverno, que é uma época mais forte de vendas. Se o dólar se mantiver em queda, os preços serão ainda melhores”, afirma.
“Ainda temos estoque do Natal, mas a nova remessa de produtos chegará com preço melhor. Acredito que o impacto nas prateleiras venha em dois meses”
Gustavo Batista
Gerente da Gujoreba
Procura pela moeda estrangeira sobe 40% em duas semanas
O recuo na cotação do dólar fez com que pessoas que estão com viagens marcadas para o exterior corressem às casas de câmbio. Nas últimas duas semanas, a Câmbio Cotação registrou aumento de 40% nas negociações com moeda norte-americana, conforme o diretor da empresa, Alexandre Fialho.
Ele explica que o ideal para quem vai viajar é comprar a moeda estrangeira aos poucos. “Assim, a pessoa não vai comprar nem o dólar mais caro nem o mais barato. Ela acaba alcançando uma cotação média”.
Comércio
Na Gujoreba, lojas de artigos diversos importados, as encomendas são constantes. Segundo o gerente, Gustavo Batista, a retração na cotação do dólar tem efeito direto no preços dos produtos que são comercializados na loja.
“Como os nossos preços são bem baixos, qualquer queda representa muito. Fazemos questão de repassar a queda aos clientes, que são muito sensíveis aos preços. Eles acabam levando mais produtos”, afirma.
Na loja é possível encontrar cerca de 20 mil itens, a maioria importada da China. Batista comenta, no entanto, que demora cerca de dois meses para que a queda do dólar chegue às prateleiras. “Ainda temos estoque do Natal. Assim que pedirmos nova remessa, o preço será menor”, afirma.
Além de o consumidor ser beneficiado com produtos mais baratos, o dólar em queda faz com que a inflação seja pressionada para baixo, conforme observa o professor de economia do Ibmec Reginaldo Nogueira. Em contrapartida, ele pondera que as empresas exportadoras são prejudicadas pela cotação em baixa. “Como o faturamento das empresas é em dólar, e o dólar está mais baixo, elas acabam lucrando menos”, diz.