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Péricles Capanema
Dissolve-se o clima festivo das Olimpíadas e a vida
quotidiana retoma seus direitos. O que nos espera? O que aguarda o Brasil? João
Domingos, jornalista, questionou o senador Lindbergh Farias sobre as
manifestações populares pró-Dilma. “Não estamos mais conseguindo
mobilizar ninguém”, admitiu o petista. João Domingos foi até
Miguel Rossetto, o mais próximo conselheiro de Dilma e indagou por que havia
sido relativamente fácil afastar a Presidente: “Por que não temos
10% de apoio. Não temos as ruas”. Alvejou ao constatar o óbvio:
“Porque os golpistas têm mais força do que nós”. Dizem
os espanhóis, la confesión de parte, relevo de pruebas.
Convém
recordar que a enorme impopularidade da administração petista decorreu da queda
do padrão de vida, da carestia, do desemprego crescente. Veio ainda da sensação
de roubalheira generalizada. Os senadores favoráveis ao impeachment,
provavelmente mais de 54, ao votar NÃO terão em vista apenas os crimes
de responsabilidade. Seu olhar se fixará também no destruidor conjunto da obra
petista.
Tudo o
indica, Dilma será esquecida e logo respiraremos outra atmosfera, cada vez menos
relacionada com o clima anterior.
* * *
Provavelmente o governo novo terá até dezembro de 2018
para executar seu programa. Se o TSE reprovar as contas de campanha da chapa
Dilma-Temer antes de 31 de dezembro próximo, o que é difícil acontecer, o
presidente terá o mandato cassado, assumiria Rodrigo Maia e em 90 dias haveria
nova eleição presidencial. Se a referida condenação do TSE acontecer após 31 de
dezembro próximo, mesma situação, mas, em eleição indireta o Congresso elege
outro presidente. Nesse caso, o provável é a eleição de alguém com programa de
governo parecido ao de Temer. O rumo pouco mudaria.
* * *
Agora,
o decisivo. Na atmosfera renovada, qual a proporção de oxigênio, qual a de gases
tóxicos? Claro, são suposições; caminhamos longe das ciências exatas, pisamos o
volúvel terreno das realidades humanas. A anunciada política econômica desperta
esperanças. Há intenção confessada e gestos favoráveis à menor intervenção do
Estado, estímulo à livre iniciativa, amplo programa de privatizações, seriedade
no manejo das contas públicas. Para levar adiante tais objetivos, foi escolhida
equipe de gente conhecida e testada, competente. Ademais, está a postos um time
de articuladores políticos com condições de viabilizar a aprovação das medidas
necessárias e amargas no Congresso. Haveria freio no aumento dos gastos públicos
e a retomada ascensional da atividade econômica, com fundamentos razoavelmente
sólidos, presságio de anos de crescimento.
Tudo
aqui é esperança? Infelizmente, não. De pronto, preocupam três pontos xodós da
esquerda: reforma agrária, meio ambiente e relações com a China, tumores de
estimação, tocados com temor reverencial na mídia e no público em
geral.
Reforma
Agrária
O
governo federal faz circular a ideia de que o ministério do Desenvolvimento
Agrário será recriado. É gesto simbólico de mau agouro. Pior, aproxima-se da FNL
(Frente Nacional de Lutas Campo e Cidade). O governo recebeu em palácio com
grande publicidade seu dirigente Carlos Lopes, que exigiu a aceleração da
reforma agrária. Pleito histórico dos comunistas e de suas linhas auxiliares,
esta tem sido no Brasil um poço sem fundo para torrar dinheiro público, foco de
agitação, roubalheiras e incompetência, em nada contribuindo para melhorar a
situação dos pobres. É infecção que afugenta investidores, atemoriza fazendeiros
e prejudica e produção.
No dia
22 de agosto, tira-gosto do que vem por aí, baderneiros da FNL e de outros
movimentos subversivos invadiram o Ministério do Desenvolvimento Social e
Agrário em Brasília. Quebraram vidros, destruíram armários. No mesmo dia,
aproximadamente 300 agitadores da FNL invadiram a Fazenda Esmeralda, em
Duartina. Eles reclamam mais rapidez nas desapropriações e na reforma agrária.
Esse namoro com agitadores não conseguirá novos aliados nem popularidade; pelo
contrário, afastará amigos atuais e potenciais.
Em
fevereiro do corrente ano, o mencionado Carlos Lopes, agora próximo ao governo
federal, foi um dos dirigentes do Carnaval Vermelho. A agitação ocupou prédios
públicos em dez Estados. Seus líderes exigiam assentamento imediato das famílias
acampadas, imissão na posse das áreas já desocupadas, demarcação imediata das
terras indígenas, extinção da PEC 215 (transferição do Executivo para o
Legislativo a decisão sobre remarcação de terras indígenas), reconhecimento dos
quilombolas e de seus territórios. Em outras palavras, a pauta da esquerda mais
radicalizada do PT, na prática passos no trajeto já enveredado por Venezuela e
Cuba rumo à miséria extrema.
Meio
ambiente
Michel
Temer entregou o ministério do Meio Ambiente ao deputado Sarney Filho, que já há
anos adotou como sua a agenda dos ambientalistas mais extremados. Entre outras
tomadas de posição, combateu até o fim a reforma legislativa do Código
Florestal. O excesso de legislação ambientalista também prejudica os negócios e
a efetiva melhoria da situação dos pobres. Não vou me estender a respeito por
falta de espaço.
Relações com os chineses
A China
já é o primeiro parceiro comercial do Brasil. Equipes da State Grid e
da China Three Gorges, duas gigantes estatais chinesas, estão
percorrendo o País para comprar empresas. Têm caixa e possibilidade de escolher
negócios. De momento, procuram empresas elétricas, que facilitarão a atuação de
companhias chinesas de engenharia e fabricantes de equipamentos. Visam ir
empurrando o Brasil para a área de influência da China. Contribuem para o
objetivo chinês de enfraquecer os Estados Unidos na região. Com o tempo, o
Brasil corre o risco de ser reduzido a inconfessado, mas efetivo, protetorado
chinês. Limitados em nossos movimentos, só teremos para garantir nossa
independência os Estados Unidos, internamente cada vez mais divididos entre um
internacionalismo concessivo e acomodatício e um isolacionismo míope e
reducionista, ambas situações prejudiciais aos interesses brasileiros. Sobre tal
avanço apocalíptico reina o silêncio. Em muitos é decisivo o temor de
retaliações em nossas exportações para a China. Em resumo, faltam prudência e
coragem, sobram otimismo e irreflexão em assunto
delicadíssimo.
* * *
Existem
outras preocupações. Como se posicionará o governo na educação, na saúde, no
direito de família, política dos gêneros, homossexualismo? Ficam para outra
ocasião.
(*)
Péricles Capanema é escritor e colaborador da Abim
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