sábado, 2 de julho de 2016

Flip: mesa sobre sexo falha na 'hora H' e provoca 'vergonha alheia'


Encontro entre Gabriela Wiener e Juliana Frank foi caótico.
Peruana e brasileira defenderam poliamor e sexualidade feminina.

Cauê MuraroDo G1, em Paraty
A peruana Gabriela Wiener (à esquerda) e a brasileira Juliana Frank na mesa 'Sexografias', última desta sexta-feira (dia 1º) na Flip (Foto: Walter Craveiro/Divulgação Flip)A peruana Gabriela Wiener (à esquerda) e a brasileira Juliana Frank na mesa 'Sexografias' última desta sexta-feira (dia 1º) na Flip (Foto: Walter Craveiro/Divulgação Flip)
 
"Agradeço a vocês que não estão fazendo sexo em suas pousadas e estão aqui para assistir a nossas autoras convidadas", brincou o curador antes do início da mesa sobre literatura, sexo, erotismo e pornografia que encerrou a programação desta sexta-feira (dia 1º) na 14ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip). De repente era melhor ter feito a primeira opção...
O encontro, que reuniu a jornalista e escritora peruana Gabriela Wiener (que de fato estava ali para falar da própria obra) e a autora brasileira Juliana Frank (leia declarações abaixo), foi meio caótico e meio que falhou "na hora H". Teve várias passagens de provocar vergonha alheia.
E teve uma quase discussão, quando o mediador, Daniel Benevides, ironicamente comentou que Wiener, embora "depravada", também se preocupava com a família, uma vez que tem filha pequena. A convidada ignorou a ironia e rolou constrangimento. Mais tarde, alguém na plateia perguntou se havia problema em conciliar devassidão com vida familiar, e Benevides pediu desculpas.

Já Juliana, que em certo momento tirou o casaco e ficou com uma roupa curta ("estou com calor, tá? não quero seduzir ninguém"), provocou risos com suas alterações de voz, risos e um espelho que apontava para o público de tempos em tempos.
Enquando duas atrizes liam um texto seu, a escritora virou a cadeira para ficar de costas para a plateia e fez evoluções com as mãos ou algo assim.
Quando Benevides (que se esforçou bastante para manter algum nível de coerência na conversa) perguntou por que escrever sobre sexo, ela respondeu que "escrever é sempre sobre sexo, porque o sexo é um problema e não dá para não escrever sobre". Ela acha que a pornografia foi marginalizada e que ali na mesa da Flip estava "desmarginalizada". Também disse que é gótica.
'Sou uma estrela'
Dentre as obras da Juliana Frank, estão “Quenga de plástico”, que saiu em 2011 e é narrado por uma ex-atriz pornô, e “Uísque e vergonha”, que ela acaba de lançar. Este é protagonizado por uma garota de 14 anos que mora na rua e vive dopada por cola de sapateiro. Tem momentos bem pornográficos.
E desde quando escreve sobre sexo, Juliana?, quis saber o mediador. A escritora devolveu: "Eu comecei a escrever em taurus alfa, antes de eu nascer, sou uma estrela. A minha mãe disse que eu tinha um problema com a fala, por isso escrevi. Tenho muita dificuldade, não sei falar, dificuldade lacaniana, não preciso organizar esses segredos, que são segredos da minha vida".
A mãe voltou a ser mencionada no momento em que a escritora contou da época em que se mudou para Buenos Aires (onde os homens "são muito lindos", assegurou) e que casou com um morador local no "quinto dia inútil". Questionada se era seu terceiro casamento, devolveu dizendo que "aí tem que perguntar para minha mãe".
A propósito, ela contou que foi até a capital da argetina porque é fã do escritor Júlio Cortazar. Lá constatou: "Claro que não encontrei o Cortázar vivo, e nem morto, porque ele não está enterrado lá. Mas encontrei vários argentinos".
Juliana comentou que em seus livros mistura "imaginação memória, intelectualidade, razão sexualidade" e mais um monte de coisa. E faz o que ela chama de pesquisa. Defendeu se estilo de vida descrito como "nômade" e os estudos de campo. Nessa hora, citou o escritor francês Marcel Proust e "a experiência proustinana, de estar na rua, então eu sou uma 'proustituta'". Ela mesma riu bastante na sequência.

Jornalismo com o corpo
Gabriela Wiener é conhecida por reportagens em que coloca a si mesma e o próprio corpo como protagonistas. Lançou em 2008 o livro "Sexografias", que batizou a mesa na Flip.
O livro é uma coletânea de reportagens sobre assuntos como atores pornô, clube de suingue, polígamos. E a autora lá, sempre dando um jeito de se colocar no meio da narrativa. Para ela, tal imersão permite abordar assuntos como violência de gênero, por exemplo.
Durante um tempo, a jornalista viveu uma relação de "poliamor": moravam na mesma casa ela, o então marido, Jaime, e a namorada que o casal dividia. A filhinha de Gabriela e Jaime inventou o termo “trisal” para se referir ao arranjo.
'Mundo de calças que é o mundo literário'
Ao abordar "essa possibilidade de viver de uma forma diferente", a escritora reconheceu as dificuldades implícitas. "Teoricamente, o poliamor é maravilhoso, até o momento em que a vida real bate na sua porta, em que você tem vários amores e trem de fazer equilibrismo", afirmou.
"Sou um ser humano, que tem muitos medos, ciúme, posse. Nós somos frágeis e faz parte estar nessa relação plural. Às vezes tentamos equilibrar a nossa liberdade e ocuidado com os outros, que é a coisa mais importante em uma relação."

No fim, Gabriela fez um discurso celebrando o aumento do número de mulheres entre as convidadas da Flip. "Me encanta estar entre mulheres", disse. "Especialmente num mundo de calças que é o mundo literário. Que isso mude para sempre e não volte a ser como antes."
Juliana quis completar: "Posso fazer uma promessa? Quando tudo estiver menos pior, eu paro de escrever, juro".
Veja, abaixo, a programação restante da Flip 2016:
Sábado, 2 de julho
Mesa 13 – Encontro com Leonardo Fróes, às 10h

Mesa 14 – "De Clarice a Ana C", às 12h
Com Benjamin Moser e Heloisa Buarque de Hollanda
Mesa 15 – Encontro da arte com a ciência, às 15h
Com Arthur Japin e Guto Lacaz
Mesa 16 – Encontro com Svetlana Aleksiévitch, às 17h15
Mesa 17 – "O falcão e a fênix", às 19h30
Com Helen Macdonald e Maria Esther Maciel
Mesa 18 – "O palco é a página", às 21h30
Com Kate Tempest e Ramon Nunes Mello
Domingo, 3 de julho
Mesa 19 – "Síria mon amour", às 10h

Com Abud Said e Patrícia Campos Mello
Mesa 20 – Mesa 21 – "Sessão de encerramento: Luvas de pelica", às 12h
Com Sérgio Alcides e Vilma Arêas
Mesa 21 – Livro de cabeceira, às 14h15
Autores convidados leem trechos de seus livros favoritos
Ingressos
A partir desta quarta-feira (29) de junho, é possível comprar apenas na bilheteria da Flip, em Paraty, que fica na Tenda dos Autores e vai funcionar de quarta a sábado das 9h às 22h e no domingo das 9h às 15h.

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