sábado, 2 de julho de 2016

Flip: mesa debate 'literatura à flor da pele' de Clarice Lispector e Ana C.


Benjamin Moser e Heloisa Buarque de Hollanda participaram de mesa.
Debate abriu a programação de sábado e foi bastante concorrida.

Shin Oliva SuzukiDo G1, em Paraty
Público na Tenda dos Autores para ver o debate entre Benjamin Moser e Heloisa Buarque de Hollanda na Flip 2016 (Foto: Walter Craveiro/Flip)Público na Tenda dos Autores para ver o debate entre Benjamin Moser e Heloisa Buarque de Hollanda na Flip 2016 (Foto: Walter Craveiro/Flip)
 
Se há dúvidas sobre a popularidade de Clarice Lispector e o interesse crescente por Ana Cristina Cesar, mesmo décadas após suas mortes, a mesa do quarto dia de Flip ajudou a esclarecê-las. O debate ao meio-dia de sábado (2) teve casa cheia para ouvir o norte-americano Benjamin Moser, autor de uma elogiada biografia da escritora de "A hora da estrela" e da ensaísta Heloisa Buarque de Hollanda, que acompanhou de perto Ana C., como era conhecida, objeto de culto de uma nova geração de leitores.
As duas não se conheceram, foram apenas vizinhas de bairro na Zona Sul do Rio na década de 1970, uma era da prosa, a outra da poesia, mas se caracterizam por uma relação obsessiva com suas produções literárias.
Moser, que após o sucesso de "Clarice, " tem sido o responsável por introduzir o trabalho dela em países distantes como a Coreia do Sul, ressaltou bastante a toxicidade no elo da escritora e seu próprio trabalho.
"A arte que mexe com a gente é uma questão de vida e morte. E no caso delas matou-as [Clarice e Ana C.] de certa forma, mas sem esse desejo não chegariam aonde chegaram. Tem gente que diz que Clarice é bruxaria, não literatura", disse o norte-americano.
A mediadora Alice Sant'Anna, o escritor Benjamin Moser e a ensaísta e crítica Heloisa Buarque de Hollanda (Foto: Walter Craveiro/Flip)A mediadora Alice Sant'Anna, o escritor
Benjamin Moser e a ensaísta e crítica Heloisa
Buarque de Hollanda (Foto: Walter Craveiro/Flip)
Intimidade
"É uma sinceridade que dói muito. É construído um intimismo [do leitor] com a Clarice. Se temos uma plateia lotada hoje é porque muitos outros sentem uma força, não só nós."
Buarque de Hollanda Heloísa, sobre a poesia de Ana Cristina César, também ressaltou esse aspecto de "intimidade". "Eu não conheço ninguém que não goste da Ana C. É uma conversa íntima. Eu caí [nessa conversa] e todo mundo cai."
Expoente da geração da Poesia Marginal, que nos anos 1970 se firmou distribuindo edições caseiras no Rio, ao largo do mercado editorial e sob o peso da ditadura militar, Ana C. fundou uma vertente na poesia brasileira contemporânea. O livro que projetou Ana Cristina Cesar entre os leitores brasileiros foi publicado em 1982, pela Brasiliense. Primeiro volume da célebre coleção Cantadas Literárias, "A teus pés" reunia três livros publicados em edição artesanal.
"A Ana escrevia sem parar, parece que veio da infância, um cacoete. Ela não conseguia não falar de outro lugar que não fosse da literatura. É um lugar que ela escolheu e ela não abria mão. Ela não conseguia parar de 'significar'", disse Buarque de Hollanda. "Ela dizia que literatura é fingimento, mas que tem que ser feito em cima do sentimento."
Feminismo
Mais próximo do final os dois debatedores comentaram o papel das duas nas discussões sobre feminismo e fortalecimento da mulher na cena literária. "A Clarice escreveu em todas fases da vida e descreveu a mulher nas mais variadas fases: desde uma garota talentosa até uma mulher de 81 anos que se masturbava", afirma Moser.
Heloisa Buarque de Hollanda declarou que o verso "estou cansada de ser homem", de Ana C., é uma expressão de rejeição dos convencionalismos, da estrutura "começo, meio e fim".
"Se vc disser que Clarice e Ana C. são feministas, muitos vão reclamar.  Feminismo é xingamento hoje", disse a ensaísta brasileira. "As mulheres estão mudando, mas muitas têm medo de ser feministas. Ao menos essas garotas da nova geração estão fazendo bonito."
Veja, abaixo, a programação restante da Flip 2016:
Sábado, 2 de julho
Mesa 15 – Encontro da arte com a ciência, às 15h

Com Arthur Japin e Guto Lacaz
Mesa 16 – Encontro com Svetlana Aleksiévitch, às 17h15
Mesa 17 – "O falcão e a fênix", às 19h30
Com Helen Macdonald e Maria Esther Maciel
Mesa 18 – "O palco é a página", às 21h30
Com Kate Tempest e Ramon Nunes Mello
Domingo, 3 de julho
Mesa 19 – "Síria mon amour", às 10h

Com Abud Said e Patrícia Campos Mello
Mesa 20 – Mesa 21 – "Sessão de encerramento: Luvas de pelica", às 12h
Com Sérgio Alcides e Vilma Arêas
Mesa 21 – Livro de cabeceira, às 14h15
Autores convidados leem trechos de seus livros favoritos
Ingressos
A partir desta quarta-feira (29) de junho, é possível comprar apenas na bilheteria da Flip, em Paraty, que fica na Tenda dos Autores e vai funcionar de quarta a sábado das 9h às 22h e no domingo das 9h às 15h.

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