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De Jacinto Flecha | ||
Já são bem mais numerosos do que você
imagina, e continuam crescendo, os motivos para muitos jovens não incluírem o
casamento nos seus planos. Ninguém confia que será honesta e fiel ao marido quem
chafurdou em relações sexuais pré-matrimoniais, como você escreveu, e muitos
outros costumes recentes podem figurar ao lado disso, mas parecem ter escapado à
atenção e às flechadas do amigo Jacinto.
Este foi o comentário de um leitor da minha crônica Prostituição em processo de extinção. E ele não se fez de rogado, passou logo a mencionar os tais costumes recentes. Reconheço que me escaparam alguns deles, e sem dúvida se incorporam à atual marcha acelerada da decadência. O atento e prestativo leitor se limitou a enumerá-los, sugerindo-me disparar sobre eles flechadas certeiras e bem calibradas. Atendo esse desejo, apesar dos aspectos repugnantes de alguns desses costumes.
Até bem pouco tempo
atrás, as moças dedicavam horas reverenciando-se num espelho, com o fim
específico de aprimorar a própria imagem. A decadência atual exige delas as
mesmas reverências, porém com a finalidade oposta. Ou seja, querem parecer
desleixadas, usando maquilagem intencionalmente desfigurante. Observe ao seu
redor, e notará a multiplicação de roupas maltrapilhas e manchadas, sapatos
sujos, cheiros nauseantes, palavras e expressões porcas, tudo se juntando numa
verdadeira conspiração contra a limpeza, a ordem, a honestidade.
Os pervertidos
ditadores da moda estimulam a decadência dos costumes, como o ensebamento
proposital dos cabelos, e sujeiras equivalentes em roupas, calçados, bolsas,
enfeites diversos. É como se mãos mágicas quisessem transformar cinderelas em
gatas borralheiras – bruxas maldosas fazendo o contrário de uma fada, salões de
beleza produzindo feiura. Número crescente de jovens embarca nessa moda
sujovem, que você pode entender como jovem sujo ou sub-jovem, é a mesma
coisa.
Se você tem
intenções matrimoniais, não deve esperar que o uso ostensivo de “ornamentos” e
maquilagem sujovem possa conviver harmonicamente com um lar limpo e bem cuidado.
Algumas realidades são diferentes da aparência, mas não seja ingênuo em imaginar
uma gata borralheira mantendo em sua casa a limpeza e o bom gosto que você
deseja. Sonhe com uma cinderela numa casa limpa, ordenada, digna, mas examine
antes com atenção os costumes, tendências e habilidades da futura consorte, pois
seu projetado refúgio doméstico, idealizado com-sorte, pode tornar-se com-azar.
Desculpe o jogo de palavras, mas não posso conceber que resulte em sorte o
casamento com uma jovem habituada a mostrar-se maltrapilha, desgrenhada, com
gaforinhas ensebadas e cara de quem saiu diretamente da cama para a
rua.
Se o jovem tem a
ilusão de que o casamento com uma gata borralheira dessas vai introduzi-lo numa
casa de cinderela, é melhor desistir. É um desafio à prudência e ao bom senso
achar que uma esposa de aparência propositalmente desleixada vai manter sua casa
na mais perfeita ordem. Móveis ensebados, objetos jogados pelo chão, filhos e
animais domésticos deixados “ao deus dará”, alimentos deteriorando-se ou
deteriorados em lugares imprevisíveis... A lista é muito longa, e você mesmo
pode enumerar outras consequências como essas. Um vício atrai outro, da mesma
forma que os maus costumes se atraem e se reforçam mutuamente.
Não pode ser esquecido o outro lado da
moeda, pois os costumes masculinos sofrem também a influência demolidora da moda
sujovem. Meu leitor citou como exemplo aquelas barbas que dão a impressão de
vários dias sem comparecerem diante do espelho. Não são barbas respeitáveis como
as antigas, nem engrouvinhadas e mal intencionadas como as de políticos, o que
transparece mesmo é desleixo, desalinho, cara suja. Sei bem que os barbeadores
já são fabricados para deixar uma “barba de três dias”, daí concluir que a
intenção seja mesmo dar a impressão de cara suja.São previsíveis, para futuro próximo ou remoto, muitas outras perversões contrárias às preferências naturais das pessoas pelo belo, bom, limpo, elevado. Meu leitor não as incluiu na sua lista, mas vou apontar apenas uma, que ensaia seus primeiros passos. Ao longo da marcha civilizadora da humanidade, grandes esforços foram dedicados a requintar os perfumes, como também desenvolver recursos para eliminar os maus odores. Vários indícios me fazem supor que um próximo passo na ladeira da decadência seja a substituição dos perfumes por substâncias malcheirosas.
Você duvida? Acha
que estou exagerando? No filme O cheiro do ralo, o personagem-título é
o leitmotiv, tudo gira em torno do mau odor exalado por um ralo. Ao
ressaltar e valorizar esse “personagem”, sem dúvida a intenção foi acostumar as
pessoas a tomar o mau odor como natural, aceitável. Nos mais variados assuntos,
tentativas como essa são elaboradas e aplicadas. Se a aceitação é boa, seguem-se
novos passos mais ousados, até vencerem as objeções ou resistências. No momento
atual, parece estar temporariamente afastada essa ameaça do ralo com seu mau
odor, devido à fraquíssima bilheteria que o filme atraiu. Mas os fabricantes de
decadências não descansam, e podemos aguardar novas tentativas.
Meus comentários visam evitar que
gatas borralheiras adeptas da moda sujovem consigam iludir
pretendentes incautos. Há gosto para tudo, mas nossos antepassados não deixaram
dúvidas sobre essa decadência: Quem ama o feio, bonito lhe
parece.
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Jacinto Flecha é médico e colaborador da Abim
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