terça-feira, 31 de maio de 2016

Haja dinheiro para esbanjar




 
Gregorio Vivanco Lopes  
 
 


“La Gazette Drouot” é uma revista semanal francesa de ofertas de vendas em leilão. Entre outras coisas, paga tributo à chamada arte moderna nos objetos que apresenta. Mas se fosse só isso!
O mais espantoso é que várias das tais modernidades que oferece, de uma mediocridade supina, estão à venda por preços astronômicos, como se fossem preciosidades.
Veja-se esta escrivaninha de quatro gavetas, um tampo de madeira em forma de ameba irregular, duas perninhas esguias para sustentação... e só.
O infeliz que fosse utilizá-la para seus trabalhos, perderia a inspiração se fosse um poeta, embaralharia os números se um economista, e ficaria propenso ao ateísmo caso fosse um religioso.
Pois bem, esse canhestro objeto, ao qual se atribuiu o nome de “Presidência” (autoria de Jean Prouvè), está sendo oferecido aos simplórios (em 3-12-2015) pela bagatela de 451.325 euros — perto de 2 milhões de reais, na cotação do momento em que escrevo.
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Para estar à altura de escrever sobre esse tampo ameboide, é preciso uma caneta especial, de 17,6 cm, que o mesmo número da “Gazette Drouot” oferece. Por apenas (!) 194.060 euros (perto de 850 mil reais).
Trata-se, explica a revista, de “uma legendária [caneta] Dunhill Namiki, feita pelo mestre laqueador Kiusai Yoshida, o qual se inspirou na lenda de Genji, do teatro Nô, retomando a máscara do demônio feminino Hannya”.
Pernosticismo à parte, se o ingênuo comprador não souber quem foi Namiki, nem Yoshida, nem Nô, nem mesmo conhecer a lenda de Genji, não tem a mínima importância, desde que desembolse o dinheiro e saiba que está adquirindo a figura de um demônio para infestar seus escritos.
A esse ponto chegamos! A isso se chama “arte”. E haja dinheiro para esbanjar!
                     (*) Gregorio Vivanco Lopes é advogado e colaborador da ABIM
  
 

 
 
 
Fonte: Agência Boa Imprensa – (ABIM)

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