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Gregorio Vivanco
Lopes
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“La
Gazette Drouot” é uma revista semanal francesa de ofertas de vendas em leilão.
Entre outras coisas, paga tributo à chamada arte moderna nos objetos que
apresenta. Mas se fosse só isso!
O mais
espantoso é que várias das tais modernidades que oferece, de uma mediocridade
supina, estão à venda por preços astronômicos, como se fossem
preciosidades.
Veja-se
esta escrivaninha de quatro gavetas, um tampo de madeira em forma de ameba
irregular, duas perninhas esguias para sustentação... e só.
O infeliz
que fosse utilizá-la para seus trabalhos, perderia a inspiração se fosse um
poeta, embaralharia os números se um economista, e ficaria propenso ao ateísmo
caso fosse um religioso.
Pois bem,
esse canhestro objeto, ao qual se atribuiu o nome de “Presidência” (autoria de
Jean Prouvè), está sendo oferecido aos simplórios (em 3-12-2015) pela bagatela
de 451.325 euros — perto de 2 milhões de reais, na cotação do momento em que
escrevo.
* * *
Para
estar à altura de escrever sobre esse tampo ameboide, é preciso uma caneta
especial, de 17,6 cm, que o mesmo número da “Gazette Drouot” oferece. Por apenas
(!) 194.060 euros (perto de 850 mil reais).
Trata-se,
explica a revista, de “uma legendária [caneta] Dunhill Namiki,
feita pelo mestre laqueador Kiusai Yoshida, o qual se inspirou na lenda de
Genji, do teatro Nô, retomando a máscara do demônio feminino
Hannya”.
Pernosticismo à parte, se o ingênuo comprador não souber
quem foi Namiki, nem Yoshida, nem Nô, nem mesmo conhecer a lenda de Genji, não
tem a mínima importância, desde que desembolse o dinheiro e saiba que está
adquirindo a figura de um demônio para infestar seus escritos.
A esse
ponto chegamos! A isso se chama “arte”. E haja dinheiro para
esbanjar!
(*)
Gregorio Vivanco Lopes é advogado e colaborador da ABIM
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