Agradeço ao leitor
os lúcidos comentários, e passo a analisar exemplos por ele apontados como
fatores da atrofia mental, instrumento para a ditadura digital
global.
Um caso muito elucidativo é o Twitter,
com suas mensagens limitadas a 140 caracteres, pouco mais que um grunhido.
Entende-se que um animal possa externar seus instintos de sobrevivência com
grunhidos significando estou com fome, por exemplo. Quantas ideias
humanas cabem em 140 letras? Talvez ninguém tenha feito ainda esse cálculo, mas
acredito que não cheguem muito além das mensagens que os instintos animais
conseguem expressar. No entanto, presidentes da república têm sido eleitos pela
manipulação de grunhidos coletivos assim.
Se uma multidão
repete em uníssono yes, we can, do ponto de vista intelectual isso não
passa de um grunhido, por maior que seja a multidão. Se um capataz manda, e os
escravos repetem yes, we can, a situação é exatamente a mesma. Pense em
um ditador eleito com base em grunhidos coletivos, e verá como são válidos e
coerentes meus comentários sobre multidões mentalmente atrofiadas, que se tornam
joguetes de manipuladores. Não pensam, apenas manifestam seus instintos por meio
de grunhidos.
Vêm de longa data os artifícios para
reduzir, bitolar, dominar os meios de expressão do pensamento humano. No tempo
em que a avaliação estudantil se fazia através de textos descritivos, os alunos
demonstravam neles sua inteligência, seu aprendizado. Disseminaram-se os testes
de múltipla escolha, mas será que eles fazem avaliação equivalente? Longe disso,
pois o aluno atilado pode acertar grande número de respostas sem saber o que foi
ensinado. Um salto qualitativo nos testes de múltipla escolha são os ícones do
computador e dos brinquedinhos dele derivados. Ninguém escreve uma ordem, basta
acionar um botão. E cada comando digital que não exige pensamento gera atrofia
mental, reduz a capacidade de raciocínio.Quando as crianças aprendem na escola que 3x5=15, adquirem também uma noção espacial, tridimensional, de tamanhos, quantidades, proporções. Limitando o aprendizado às calculadoras, essas noções passam longe, tornando as crianças ineptas para cálculos mentais. Nos relógios e hodômetros digitais, perde-se a noção visual de quantidades, distâncias, comparações. Por exemplo, se o relógio marca 3:35, não se tem a noção visual de quanto falta para 5:58, coisa facílima nos relógios com ponteiros. Faça você mesmo esta comparação do analógico com o digital. Quando vejo um jovem ou um grupo deles cutucando ícones em um tablet, smartphone ou qualquer brinquedinho desses, lembro-me de macacos pulando de galho em galho. Nenhum pensamento, nenhum objetivo sério na vida, apenas a sensação do momento. Estão prontos a obedecer as ordens de quem comanda os chips e os ícones. Veja como é acertada a sugestão do meu leitor: dictatorchip = chip ditatorial. Evidentemente não se trata apenas do chip, aquela pecinha do computador. O que importa é a ditadura dos capatazes ou seus patrões, que enviam aos chips as ordens adequadas para comandar multidões, já contaminadas pela atrofia mental. Os chips e seus comandantes exercem papel fundamental na mídia, dominam obstinadamente a ampla rede moderna de informações, comunicações e notícias. Normas de vida e conduta, costumes tradicionais, verdades reconhecidas como tais, tudo se desmancha no ar e é substituído, quando algum desses ditadores informáticos decide que já não valem mais. Assim se destroem famílias, culturas, costumes, leis sagradas. Nada permanece de pé quando mentes atrofiadas, comandadas pelos dictatorchips, não conseguem elaborar raciocínios saudáveis, assumir atitudes firmes, manter coerência dentro de convicções mentais bem estruturadas. Você pode pensar que estou exagerando, ao mostrar o quadro aterrorizante de uma digitadura ou dictatorchip. Seriam preconceitos contra a internet, a informática, a robótica, as redes sociais, que facilitam a vida e as comunicações. Pode até parecer exagerado, mas são muito claras as três etapas do processo rumo à dictatorchip: 1) primeiro reduzem a necessidade de raciocinar; 2) não raciocinando, os cérebros se atrofiam; 3) sem o pleno funcionamento do cérebro, ditadores conduzem as multidões como carneiros, para onde quiserem. Mantendo-se o atual ritmo frenético de imbecilização coletiva, uma ditadura se torna natural, sem parecer ditadura.
Estas considerações
teóricas poderiam dar a impressão de meras possibilidades, por isso advirto que
os chips humanos, ou biochips, já estão em fase avançada de testes. A ideia por
trás disso é implantar um chip em cada ser humano imbecilizado (muito
sugestivamente, já se prende algo assim no gado). Por esse meio as pessoas
estarão em contato com centrais digitais, podendo receber ordens e ser
controladas minuciosamente. Qual a diferença disso para ditadura? Muito claro,
não é?
Parece a você uma boa ideia ser
dominado à distância por uma central, que lhe ordene o que fazer ou não fazer?
Por favor, inclua-me fora dessa.
(*)
Jacinto Flecha é médico e colaborador da Abim
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