O título reflete, creio eu, o clamor das ruas que vem do sentimento popular de repúdio à gigantesca corrupção que se orquestrou no país e, sem dúvida, criou a atmosfera para o afastamento da presidente Dilma Rousseff do Planalto. A reportagem de Paulo Celso Pereira, O Globo, edição de quinta-feira, ilumina nitidamente essa percepção projetada no recuo do vice-presidente Michel Temer em convidar o advogado Antônio Cláudio Mariz de Oliveira para o Ministério da Justiça. O advogado foi um dos signatários do documento publicitário publicado na imprensa tecendo restrições à atuação do juiz Sérgio Moro.
O quase futuro presidente acentuou inclusive que aquele que ocupar a pasta da Justiça deverá preservar a independência dos investigadores da Operação Lava-Jato. A frase, sem dúvida, tornou-se uma ducha fria em diversos aliados de Michel Temer que constam de delações premiadas e de listas de suborno como a que se atribui existir na esfera da Odebrecht. Tal relação possui cerca de 330 nomes abrangendo os que têm direito à foro especial e os que vão ser processados na Justiça Federal de Curitiba.
A Odebrecht, assim, parece ter-se transformado numa legenda multipartidária. Não surpreende. Basta lembrar que a empreiteira chegou ao ponto de colocar em prática em sua estrutura um departamento voltado para administrar assuntos relativos a propinas.
DIFICULDADES PELA FRENTE
Vê-se, portanto, que Temer encontrará dificuldades pela frente, na medida em que não poderá atender a esse tipo de reivindicação. Não há clima possível, mesmo se aceitasse examinar os casos que são muitos. A atmosfera reinante no país representa um obstáculo intransponível.
O principal personagem, todos sabem, chama-se Eduardo Cunha. Mas seu processo já se encontra no STF, que, por dez votos a zero aceitou a denúncia do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra o presidente da Câmara. Isso sem falar no processo no Conselho de Ética que Cunha se empenha para tornar interminável.
DILM A NÃO ENTENDEU
Também não conseguirão êxito os demais acusados envolvidos na série de assaltos entre os quais o praticado contra a Petrobrás e, de longe, o de maior vulto e de maiores consequências. Três delas foram as principais: abalaram ao mesmo tempo a empresa estatal, o governo Dilma Rousseff, além de apagarem a ação do ex-presidente Lula no contexto político nacional.
Dilma, como já escrevi antes, não compreendeu em momento algum que os assaltantes eram seus maiores inimigos. Foi esta contradição antagônica que a fez submergir no mar revolto da corrupção alucinada e múltipla. Como salvar os ladrões no meio da tempestade? Impossível.
Michel Temer terá dificuldades pela frente. A aliança PMDB-PSDB-PP não lhe garante independência absoluta, mesmo porque as forças represadas especialmente do PMDB e do PP estão sempre condicionadas a uma participação fisiológica no governo – melhor dizendo nos governos – nem sempre possível. O senador Romero Jucá, eis um exemplo, foi líder do presidente FHC, do Presidente Lula, da presidente Dilma e agora do quase presidente Michel Temer.
FAZER CONCESSÕES
Tarefa difícil, portanto, a escolha dos nomes dentro da dúvida permanente de fazer ou não concessões além do limite do possível. Qualquer gesto voltado para aliviar a pressão da Justiça e da Polícia Federal desabará quando tocada por uma onda semelhante a que derrubou a ciclovia Tim Maia. Um desastre.
Temer, que pelo seu temperamento, reflete cautelosamente antes de agir, seguramente levará em conta todos esses aspectos antes de qualquer comprometimento.
Agora sua caminhada para o Planalto vai passando sem problemas pelo Senado. A aceitação do julgamento de Dilma é fato até admitido por ela própria. Questão de maioria simples, não há problema.
Seis meses estão assegurados para o futuro ex-vice. Mas para a investidura definitiva, o voo sem escalas até 2018, é necessário ter os votos de 54 dos 81 senadores. Para ele, a prioridade é esta. Nada tem a ver com a Lava Jato. Nem poderia ter.
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