quarta-feira, 30 de março de 2016

Zika pode usar proteína como entrada para células-tronco neurais, diz estudo


Pesquisa americana foi publicada nesta terça-feira na revista 'Cell Press'.
Conclusão dá pista para explicar por que zika tem efeitos como a microcefalia.

Do G1, em São Paulo
 Imagem mostra minicérebro: células-tronco gliais radiais em vermelho, neurônios em azul e receptores AXL em verde (Foto: Elizabeth Di Lullo) Imagem mostra minicérebro, organoide usado no estudo: células-tronco gliais radiais em vermelho, neurônios em azul e receptores AXL em verde (Foto: Elizabeth Di Lullo)
A razão pela qual o vírus da zika parece ter uma atração especial pelas células-tronco neurais humanas - capazes de formar vários tipos de células cerebrais - pode ter relação com uma proteína abundante em sua superfície: o recetor AXL. A conclusão é de um estudo americano publicado na revista "Cell Press" nesta terça-feira (30).
 
Quando o surto de zika e de microcefalia começou a alarmar o mundo, cientistas da Universidade da Califórnia se lembraram de que vírus parecidos com o zika, como o da dengue, parecem usar o receptor AXL como porta de entrada para infecções, de acordo com estudos feitos anteriormente.
Eles resolveram, então, verificar o quanto esse receptor estava presente em células cerebrais. Para isso, fizeram análises em células de vários tipos presentes no cérebro de camundongos, no cérebro de furões e em organoides derivados de células-tronco humanas, estruturas conhecidas como minicérebros.
Todos esses modelos mostraram a expressão do receptor AXL nas células gliais radiais, que são células-tronco neurais que dão orgiem a várias outras células, como os neurônios, que ajudam a formar o córtex cerebral. Eles também descobriram que o receptor AXL também foi expressado por células-tronco da retina.
"Mesmo não sendo de forma alguma uma explicação completa, acreditamos que a expressão de AXL por esses tipos de célula é uma pista importante para explicar como o vírus da zika consegue produzir casos tão devastadores de microcefalia, e isso se encaixa muito bem com as evidências disponíveis", disse o principal autor do estudo, Arnold Kriegstein, diretor do Centro de Medicina Regenerativa e Pesquisa de Célula-Tronco Eli e Edythe Broad.
Kriegstein observa que o AXL não é o único receptor que pode estar associado ao vírus da zika, por isso o próximo passo da pesquisa deve ser bloquear esse receptor para verificar se isso é capaz de prevenir a infecção.
"Ainda não entendemos por que o vírus da zika, em particular, é tão virulento para o cérebro em desenvolvimento", diz Kriegstein. "Pode ser que o vírus se desloque mais facilmente pela barreira da placenta ou que o vírus entre nas células mais facilmente do que infecções relacionadas."
Os pesquisadores estudam usar a informação de que o AXL pode ser a porta de entrada para o vírus da zika para desenvolver possíveis tratamentos para a infecção.

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