sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Santana economiza na defesa e será facilmente condenado


Reprodução do jornal Zero Hora
Carlos Newton
João Santana é daquele tipo de pessoa insaciável em matéria de dinheiro. Vinha fazendo uma bela carreira no jornalismo, ganhou um Prêmio Esso de carona com os repórteres que entrevistaram o motorista Eriberto França e ajudaram a derrubar Collor, mas em 1993 decidiu largar a profissão, por considerá-la pouco rentável. “Jornalismo não dá camisa a ninguém”, sentenciou, segundo a biografia autorizada dele, “João Santana – um marqueteiro no poder”, escrita por Luiz Maklouf Carvalho, também jornalista.
Hoje, ele a mulher só estão na cadeia por causa da exacerbada avareza. Apesar de já terem ganho do PT o equivalente a R$ 229 milhões, isso “oficialmente”, com registro na Justiça Eleitoral, sem falar no faturamento das muitas campanhas feitas na América Latina e em Angola, tudo pago em dólar, Santana e Mônica decidiram economizaram no preparo da contabilidade, que obviamente precisa ser de altíssimo nível quando se faz sonegação em larga escala.
Embora tenham providenciado junto à Receita Federal a retificação nas declarações dos últimos 5 anos, para encobrir as irregularidades contábeis, o serviço foi mal feito, verdadeiramente amador, chega a ser patético. Os números exibidos nas declarações da empresa Pólis não batem com as declarações pessoais de Santana e de Mônica, que também se contradizem, um verdadeiro festival de burradas.
DEFESA BISONHA
É inacreditável que uma pessoa com o inegável talento de Santana consiga ser tão idiota na vida pessoal, chega a ser chocante. Sua extrema sovinice agora faz com que economize também na contratação dos advogados. Ao invés de estar sendo representado por uma banca de criminalistas que imponha respeito, o marqueteiro e a mulher preferiram escalar um principiante, que começou a viver ontem seus primeiros 15 minutos de fama e deu uma entrevista altamente destrutiva, ao narrar à imprensa os depoimentos de Mônica e Santana.
Ficou claro que a linha de defesa adotada é igual à do marqueteiro Duda Mendonça, flagrado no mensalão por receber em conta no exterior R$ 10,5 milhões, pagos pelo PT em caixa 2. Da mesma forma, Mônica e Santana também confessaram ter recebido dinheiro em conta no exterior, como pagamento de campanha eleitoral via Caixa 2, exatamente como fez Duda Mendonça.
A estratégia até parece adequada. Se saiu vitoriosa com o outro marqueteiro, que no mensalão foi até considerado inocente e apenas pagou uma multa, por que não daria novamente certo agora? Acontece que as aparências realmente podem nos enganar. Na verdade, esta linha de defesa é um erro grotesco dos advogados e vai levar o casal de marqueteiros a uma longa temporada na prisão, por crimes graves.
SITUAÇÕES DIFERENTES
Os casos de Duda e Santana são apenas parecidos, as duas situações têm diferenças abissais. Duda afirmou que o PT não quis pagar, só o faria se fosse no exterior, com Caixa 2. A conta usada estava no nome de Duda, no BankBoston de Miami, não havia paraíso fiscal nem empresa offshore. Por fim, o julgamento foi no Supremo, um tribunal condescendente com os réus do Mensalão, pois os absolveu de formação de quadrilha e até esqueceu de processar os dirigentes do PT (José Genoino e Delúbio Soares) que comprovadamente usaram Caixa 2 para fazer pagamento no exterior, vejam como os ministros do STF são distraídos. Agora, a conversa é outra. Quem julga a  questão chama-se Sérgio Moro, com ele não há embargos infringentes.
A publicitária Mônica Moura disse que os US$ 3 milhões que a empresa do casal recebeu via Caixa 2 da Odebrecht eram pagamentos de dívidas de campanhas realizadas em três países: Angola, Panamá e Venezuela. Alegou que os US$ 4,5 milhões pagos pelo lobista Zwi Skornicki também têm origem em negócios no exterior. Por fim, afirmou estar esperando a Lei da Repatriação para legalizar os dólares. Fiel à companheira, Santana caminhou pela mesma trilha perigosa, achando que está pisando na terra firme por onde trafegou Duda Mendonça, mas trata-se de areia movediça.
É duro imaginar que um marqueteiro experiente como Santana aceite fazer campanha em países como Angola, Panamá e Venezuela, sem receber adiantado. E como justificar o pagamento via Odebrecht? Foi realmente por causa das obras que a empreiteira executava por lá? A própria Odebrecht, será que confirmará essa invencionice, como diz o advogado de Lula? E por que um lobista operador do petrolão se envolveu em pagamentos ao casal de marqueteiros? São perguntas que jamais terão resposta nos autos.
ADVOGADO SÓ FALA BOBAGENS
As informações dadas à imprensa pelo advogado Tofic Simantob confirmam a linha suicida de defesa. Disse que Santanaachava que não tinha problema em ser conta não declarada”, acrescentando que foi em uma auditoria que o marqueteiro teria sido informado de que “havia essa irregularidade” no uso da conta secreta e “estava pensando já em como regularizar esses recursos”. E arrematou: “Se sente inclusive aliviado, ele disse que essa conta para ele é um tormento. Porque quem recebe dinheiro de trabalho honesto quer receber de forma transparente, de forma regular, e não desta forma. Infelizmente esse é um vício que ainda permanece em alguns países, no Brasil não, e vitimiza profissionais que trabalham com marketing eleitoral, como eles”.
Não satisfeito, Tofic Simantob disse que os US$ 4,5 milhõres repassados para a conta da Shellbill Finance, por meio da offshore do lobista Zwi Skornicki, a Deep Sea Oil, foram uma “doação a um partido angolano”.
Com uma estratégia de defesa de tal nível, nem o famoso Mister Houdini conseguiria se livrar de uma enrascada dessas.
FACTOÍDES NA JUSTIÇA
Durante sua vitoriosa carreira, Santana criou tantos factóides que parece ter perdido a noção da realidade. Chega a ser bizarra esta iniciativa de mentir em depoimento à Justiça, pensando enganar com facilidade um juiz como Sergio Moro. Outros já tentaram. Estão hoje na prisão ou usando tornozeleiras.
E la nave va, cada vez mais fellinianamente.

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