A economia brasileira em 2016 deve sofrer o impacto de questões políticas que travam a atividade, mas não deve repetir o desempenho de 2015, acreditam professores de Economia consultados pelo JB. O cenário econômico vai começar a respirar e, se questões como a CPMF forem resolvidas e boas surpresas surgirem, como uma alta nas exportações, haverá alguma recuperação. No setor de energia, da mesma forma, a situação não deve piorar, mas a melhora esperada deve ficar para 2017.
Carlos Frederico Leão Rocha, professor do Instituto de Economia da UFRJ, acredita que o pior já passou. Não deve haver um crescimento considerável na economia brasileira em 2016 mas, se a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) for aprovada e se não houver impeachment, haverá alguma recuperação. A perspectiva de um cenário um pouquinho melhor, diz Rocha, fica para 2017.
"Espero que nesse ano [2016] a gente vá conseguir cumprir a meta de 0,5% do superávit primário. Seria um cenário positivo", explica o professor.
De acordo com ele, o nível de atividade econômica vai continuar baixo em 2016, a não ser que haja alguma surpresa, que poderia vir, por exemplo, pelas exportações. Nesta semana, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Armando Monteiro, manteve a projeção de superávit de US$ 35 bilhões para a balança comercial no ano que vem.
"Não creio que o governo vá ousar na parte do investimento, ainda que o [ministro da Fazenda] Nelson Barbosa talvez gostasse de ousar um pouco, mas acho que não vai. Se tiver alguma boa notícia, será pelo lado das exportações", comentou Rocha.
Rocha destaca que o dólar não deve disparar mais e que a inflação deve caminhar para o centro da meta dentro de dois anos. "A inflação brasileira tem uma inércia grande. Até convergir para o centro da meta leva um pouco de tempo."
É preciso, contudo, torcer para algumas coisas acontecerem, como a aprovação da CPMF, que, se não for aprovada, pode trazer alguns problemas para a economia, pois é ela que vai poder impedir um corte maior nas despesas do governo. Com a CPMF aprovada, o setor público ganha fôlego e o impacto no nível de atividade fica menor. Vale contar ainda, salienta Rocha, com um cenário sem impeachment. Se tudo isso der certo, a economia em 2017 deve ser um pouquinho melhor.
Francisco Lopreato, professor de Economia na Unicamp, destaca, inclusive, que o grande problema da economia brasileira é a questão política. Perspectivas melhores virão conforme o cenário político for destravado. "A situação [política] de hoje já não é a mesma de dois meses atrás. Está ficando mais claro que o impeachment é cada vez mas difícil. Mesmo parecendo que [a situação do governo] é mais complicada, não vai ser tão simples fazer impeachment", argumenta o professor.
O processo de impeachment aberto na Câmara contra a presidente Dilma Rousseff, contudo, ainda deve se arrastar por boa parte de 2016 e, desta forma, também segurar a atividade econômica. Apesar deste cenário, Lopreato acredita que o desempenho da economia não deve repetir o visto ao longo deste ano. Mesmo que não seja positivo, não será tão negativo. O PIB pode até ficar próximo de zero, o que já "vai ser muito bom", considerando a queda de 3,5% no PIB em 2015, em um quadro de crise política, crise na Petrobras, efeitos da Lava Jato, situação internacional muito ruim e preço de commodities no fundo do poço.
Lopreato vê a possibilidade de o país retomar alguns gastos com infraestrutura. "O ano que vem terá uma situação um pouco melhor, longe de ficar boa. Talvez em 2017 possamos respirar um pouquinho."
O professor da Unicamp espera ainda que o novo ministro da Fazenda reveja ou aponte para algumas alteração na política econômica, com mudanças de longo prazo, e não faça cortes em investimentos de curto prazo como o antecessor. Lopreato concorda, por exemplo, com a intenção apresentada por Barbosa de estipular uma idade mínima para aposentadoria.
No setor de energia, da mesma forma, a situação não deve piorar, mas a melhora esperada ficará para depois. Luciano Losekann, professor de Economia na UFF e membro do grupo de Economia da Energia, destaca que a tempestade já chegou, e ainda não está certo como vai ser possível sair dela.
A situação da Petrobras merece atenção. A superação da crise envolve uma redefinição da empresa que leva um tempo para ser concluída. Na parte do setor elétrico, o mesmo cenário de crise. "A situação não piora, mas a perspectiva de melhora ainda demora."
Relatório do Banco Central (BC) divulgado nesta quarta-feira (23) apontou para uma queda 3,6% no PIB de 2015. Para 2016, a estimativa de queda do PIB é de 1,9%.
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