domingo, 31 de maio de 2015

Em seis dias, engenheiro percorre correndo Serra da Mantiqueira


Brasileiro percorre o mundo realizando corridas de aventura.
Na Mantiqueira, percurso de 397 quilômetros na mata foi debaixo de chuva.

Daniel Corrá Do G1 Vale do Paraíba e Região
“O mundo é vasto”. A afirmação parece óbvia, mas serve como lema para o engenheiro de riscos Pablo Bucciarelli, de 40 anos, explorar o planeta sozinho em corridas de aventura. Seus trajetos incluem florestas, cordilheiras e vilarejos dentro e fora do Brasil. Recentemente, ele cruzou a Serra da Mantiqueira em seis dias sob condições extremas, e fez da experiência uma descoberta pessoal: encontrar a si mesmo. 
Ele cruzou os estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro no trajeto chamado Transmantiqueira. A viagem aconteceu em fevereiro deste ano, quando ele trocou a agitação da capital pelo som apaziguador da natureza. Foram 397 quilômetros percorridos em quase uma semana com apenas 18 horas de sono. Das cidades paulistas, o aventureiro passou por Campos do Jordão e chegou ao pico da Pedra do Baú, em São Bento do Sapucaí.
“Estamos falando de uma travessia selvagem, sem demarcações ou mapas atualizados. Posso dizer que 65% se deu em sua crista [da Serra] e mais de 80% em matas fechadas ou maciços montanhosos”, explica Bucciarelli, adepto a esportes desde criança. O trajeto, considerado um dos mais difíceis no país, já havia sido realizado por ele há dois anos com um amigo. Desta vez, ele foi sozinho.
Travessia Transmantiqueira foi realizada em fevereiro  (Foto: Arquivo Pessoal/André Dib)Travessia Transmantiqueira foi realizada em
fevereiro (Foto: Arquivo Pessoal/André Dib)
“A Mantiqueira para mim é um santuário. Quando me refugio nela sinto uma paz incrível. Tenho uma relação espiritual muito forte com suas montanhas e matas. Existe uma magia em toda sua extensão que me conecta com a sua história, tradição e folclore. Quando estou triste, busco nela conforto”, afirma Bucciarelli.

Quase todo o trajeto do engenheiro em meio à mata foi regado por chuva, dificultando o percurso e exigindo ainda mais resistência. “Minha intenção é chamar a atenção para a preservação da Mantiqueira, principal fonte hídrica de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, atualmente enfrentando sua principal crise no abastecimento d'água. Eu amo a Mantiqueira em qualquer época do ano, mas eu prefiro quando ela chora”, diz em alusão à maneira como o local era chamado por índios, por conta das nascentes em suas encostas.
Mundo
O tamanho do mundo parece não intimidar o paulista, que é formado em física. Seus percursos incluem lugares exóticos, entre eles a montanha Monte Elbrus, a mais alta da Europa. Somente no ano passado, foram 70 destinos, 10 deles fora do Brasil. Neste ano, além da Mantiqueira, Bucciarelli também cruzou o Oceano até ao Paquistão, de onde chegou há poucos dias.

“Quando estou viajando, busco sempre realizar algum desafio pessoal. A maioria deles realizo de forma particular, sem divulgar. Aproveito assim para expandir meu conhecimento sobre o nosso país ou outras regiões”, conta o engenheiro. Os custos com o trajeto são bancados por ele mesmo, com o apoio de amigos. Alguns deles o acompanham em pontos estratégicos fazendo registros em fotos e vídeos dos caminhos percorridos. Adepto a corrida de aventura, Pablo ainda trabalha no mercado de seguros quando não está na estrada.
A busca é infinita e o caminho longo. Não procuro atalhos"
Bucciarelli
Mal colocou os pés cansados no Brasil e Bucciarelli já está pronto para uma nova aventura. No mês que vem, inclusive, deve voltar à Mantiqueira para realizar a travessia Marins-Itaguaré, que marca a divisa de São Paulo e Minas Gerais, novamente com passagem pelo Vale do Paraíba. Serão centenas de novos quilômetros em uma experiência que oferece condicionamento físico e mental. Uma imersão na natureza e dentro de si mesmo.

“Nessas andanças, acabo entrando mais a fundo nas minhas buscas pessoais. Às vezes encontro respostas, as vezes mais perguntas. Mas, a busca é infinita e o caminho longo. Não procuro atalhos, quero viver cada momento com sabedoria e aprender lições”.
Em seis dias, engenheiro percorre correndo Serra da Mantiqueira  (Foto: Arquivo Pessoal/André Dib)Engenheiro passou pela Pedra do Baú em São Bento do Sapucaí (Foto: Arquivo Pessoal/André Dib)

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