O título constitui, creio, uma síntese em cores e consequências fortes, que se pode extrair da excelente reportagem de Daniel Pereira, publicada na edição da Revista Veja que está nas bancas, a respeito do episódio do mensalão e a ponte entre aquele escândalo de ontem e o assalto gigantesco de hoje praticado contra a Petrobrás. A matéria abrange o papel representado por Marcos Valério, o grande condenado de 2005, uma entrevista com declarações entre aspas de José Dirceu, além de afirmações do senador Delcídio Amaral, que presidiu a CPI dos Correios, onde tudo começou, do deputado Osmar Serraglio, relator, e do alte. Roberto Carvalho, ministro da Marinha de 2003 a 2007, primeiro governo Lula.
Todas as versões publicadas convergem para uma questão básica; o presidente Luis Inácio tinha conhecimento do esquema articulado por José Dirceu e operado por Marcos Valério, ambos condenados, aliás, pelo STF. Especialmente Valério, punido a mais de 40 anos em regime de prisão fechada. Deve estar vivendo tempos de desespero.
Outro preso solitário no peso da pena imposta, hoje sem amigos solidários, extremamente preocupado, na véspera de um descontrole emocional, é o ex-ministro José Dirceu, como revela Daniel Pereira.
Temendo ser novamente preso por sua suposta participação no esquema de roubo a Petrobrás, ele agora emite sinais de que pode contar o que sabe sobre os dois esquemas de corrupção, mensalão e petróleo, usados pelo governo – acrescenta a reportagem – para comprar o apoio de partidos aliados. Dirceu, assim, pode-se deduzir, focaliza a passagem do falso sistema político de um governo para outro, já que o de Dilma Rousseff começou em 2011. Amigos de Dirceu garantem que, se cumprir a promessa, diz Daniel Pereira (ameaça, digo eu), José Dirceu vai expor o antigo chefe.
MUDANÇA PARA PORTUGAL
O ex-primeiro ministro de Lula, o capitão do time, comunica que, se não for preso de novo, tem planos de se mudar para Portugal com a esposa e sua filha mais nova. A reportagem possui grande importância política e deve ser lida, na íntegra, por todos. Pois afirmações convergentes surgem em seus capítulos.
O reflexo mais importante, claro, no caso da ameaça vir a ser cumprida, será a fatal explosão definitiva do PT, produzindo uma avalanche contra o governo, abalando ainda mais sua estabilidade. Dilma Rousseff ficará sozinha no campo da luta partidária. Isso porque, pelo menos, o Partido dos Trabalhadores terá sua divisão interna mais exposta à opinião pública.
CENÁRIO IMPREVISÍVEL
Mais exposta porque, atingido, Lula partirá para o início de sua campanha as eleições presidenciais de 2018, buscando suceder no Palácio do Planalto a antecessora que elegeu por duas vezes. Curioso tal panorama. Mas quem poderia prever tal desfecho? Ninguém. Aliás, em matéria de política, pessoa alguma pode prever qualquer coisa. Quem poderia prever o suicídio de Vargas, renúncia de Jânio, cassação de Lacerda pelo movimento de 64 do qual foi o principal líder, a morte de Tancredo Neves que levou José Sarney à presidência da República? Para não estender demais a lista de exemplos, quem poderia pensar que a cassação de José Dirceu representaria o surgimento da candidatura de Dilma Rousseff em 2010?
Os fatos, portanto, são imprevistos, as consequências nem tanto. Dependem da concretização dos compromissos e promessas. No caso de Dirceu, agora, da ameaça com a qual ele acena, registrada por Daniel Pereira nas páginas imperdíveis da Veja desta semana.
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