terça-feira, 28 de abril de 2015

Psicopatia: transtorno irreversível

Os psicopatas têm geralmente a inteligência acima da média, são sedutores, manipuladores, calculistas, visam ao ganho individual e sentem prazer em fazer os outros sofrerem
 
 
Jaísa Gleice

A psicopatia é diagnosticada a partir dos 18 anos; antes disso, é ‘transtorno de conduta’
A psicopatia é diagnosticada a partir dos 18 anos; antes disso, é ‘transtorno de conduta’
A psicopatia, também conhecida por transtorno antissocial da personalidade, é uma anomalia psíquica onde o portador vê as pessoas como objetos e nutre quase ou nenhuma emoção ou sentimento para com elas. A conduta do psicopata não se preocupa com a desaprovação social ou o bem comum. Por isso, dependendo do grau de psicopatia, alguns portadores devem viver em constante vigilância da família ou ser afastados da mesma. Dhin Ally Untar, médico psiquiatra, membro da Associação Brasileira de Psiquiatria, é ainda diretor clínico da Casa de Eurípedes. Em conversa com o jornal O HOJE, deu mais detalhes sobre o assunto que, vez por outra, aparece na mídia.
Apesar de irreversível, e longe de ser considerada loucura – já que os psicopatas sabem o que estão fazendo –, o transtorno de personalidade antissocial é mais comum do que se pensa. Acomete mais os homens do que as mulheres e a grande maioria tem grau leve. “Importante lembrar que somente 2% dos psicopatas matam, a sua grande maioria está sob a pele de traficantes, políticos corruptos, líderes religiosos que se enriquecem com a ingenuidade humana, empresários que usam de especulação financeira e falsificadores de medicamentos entre outros”, cita o psiquiatra.
As causas da psicopatia podem ser por disfunção neurobiológica e/ou um conjunto de influências sociais e educativas recebidas ao longo da vida. O diagnóstico é clínico e feito por meio do histórico do indivíduo e observações de comportamento a partir de uma entrevista padronizada. A psicopatia só pode ser diagnosticada a partir dos 18 anos. Antes disso, em crianças e adolescentes, o problema é denominado ‘transtorno de conduta’.

Entrevista Dhin Ally Untar

No que consistem as psicopatias?
O transtorno de personalidade antissocial, ou simplesmente psicopatia, consiste em transtorno mental em que a pessoa portadora é destituída de emoções positivas ou negativas decorrentes das situações vivenciadas por outras pessoas, ou seja, não possuem empatia, são incapazes de colocarem-se no lugar de seu semelhante. Os psicopatas têm geralmente a inteligência acima da média, são sedutores, manipuladores, calculistas, visam sempre ao ganho individual e sentem prazer em fazer os outros sofrerem. Pois, como narcisistas que são, provam em suas atitudes sua superioridade sobre as pessoas que o cercam, sem limites morais em seu comportamento. São verdadeiros predadores sociais.

Qualquer pessoa pode se tornar um psicopata ou é algo que genético?
A psicopatia é doença de causa predominantemente genética; a pessoa já nasce psicopata. Porém, os fatores ambientais envolvidos na formação de sua personalidade podem agravar ou atenuar seu comportamento destrutivo. Uma infância e adolescência com um aprendizado de respeito aos limites e regras é medida que tornará o psicopata mais tolerante às suas frustrações, ajudando-o a negar a própria índole violenta. Pois, apesar de não sentir remorsos ou pena do outro, ele tem plena capacidade de controlar seu impulso agressivo, por exemplo, em situações em que esteja sendo vigiado. Ao contrário, uma criação libertina e violenta agravará a brutalidade de seus delitos.

Que indícios levam a crer que a pessoa é um psicopata? O que observar na conduta dessas pessoas?
Na infância e na adolescência, o transtorno de conduta (designação da psicopatia antes dos 18 anos) pode ser observado em crianças que maltratam animais (muitas vezes até a morte) ou agridem (física ou psicologicamente) outras crianças com grande crueldade; têm plena percepção de estarem infringindo regras e dissimulam o quanto possível. Não demonstram arrependimento quando são descobertos ou questionados. Na vida adulta, os casos leves praticam pequenos golpes, furtos ou estelionato. Os casos moderados articulam de forma complexa a corrupção e grandes golpes para conseguir dinheiro e status; podem matar para conseguir o que pretendem. Já os casos graves (que correspondem somente em 2% de todos os psicopatas) matam por prazer em fazer sofrer, podendo chegar à degeneração máxima do canibalismo. Porém eles sabem simular simpatia, bom humor, afeto, companheirismo e compaixão para chegarem aos seus objetivos, são atores natos.

Há tratamentos, terapias ou medicamentos que controlem o comportamento?
Não há tratamento eficiente; voltam a realizar seus delitos sempre que têm certeza de impunidade. Os casos graves não podem voltar à sociedade. Os casos leves e moderados devem viver vigiados, assim, contêm seu impulso para não sofrerem consequências, já que só nutrem compaixão por si mesmos.

As psicopatias têm cura?
Não.

Há casos em que a internação é necessária?
Sim, sempre que o psicopata demonstre oferecer risco à sociedade.

Em famílias onde há um ente psicopata, de que forma os parentes podem ajudar?
Vigiando-o para intervir de forma humana, educativa e terapêutica sempre que o mesmo demonstre desrespeito pelo direito alheio. Para os casos graves, a distância afetiva protegerá a família, já que a ciência não constata melhoras com nenhuma intervenção.

Como está a atual condição da Casa de Eurípedes? Quantos pacientes são atendidos no local?
O Hospital Psiquiátrico Espírita Eurípedes Barsanulfo conta com 95 leitos dedicados ao tratamento dos transtornos mentais, 95 leitos específicos para tratamento do transtorno de dependência química e outros 100 leitos de Hospital Dia, onde os pacientes permanecem no hospital em atividades terapêuticas das 8 h às 16 h, de segunda a sexta-feira, retornando diariamente ao convívio familiar. Todo o sistema hospitalar de atendimento à saúde mental do Brasil se encontra sucateado pela política anti-manicomial do Ministério da Saúde, que despreza as necessidades dos pacientes mais graves que necessitam de hospitalização, porém a Casa de Eurípedes sobrevive prestando um serviço de boa qualidade, pautado na humanização e na visão integral do ser humano, somente porque recebe da sociedade responsável doações de recursos e mão de obra voluntária, possibilitando a promoção humana dos que assistem e dos que são assistidos.

O que precisa melhorar e como a sociedade pode colaborar?
A Casa de Eurípedes conta com o Projeto Amigos, que canaliza todos esses recursos humanos e financeiros,imprescindíveis a sua sobrevivência. Contato: (62) 3236-1200.

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