Marcello Casal Jr./Abr
O Ministério da Saúde anunciou, nesta sexta-feira (27), as 28
instituições selecionadas para participar de projeto de incentivo ao
parto normal. Em Minas Gerais, foram quatro as unidades escolhidas:
Hospital Mater Dei, em Belo Horizonte; Hospital Vila da Serra, em Nova
Lima; Hospital e Maternidade Santa Paula, em Pouse Alegre; e Hospital de
Clínicas de Uberlândia, em Uberlândia.
O grupo que fará parte do piloto reúne 23 hospitais privados e cinco
maternidades do Sistema Único de Saúde (SUS). A iniciativa, desenvolvida
em parceria com o Institute for Healthcare Improvement (IHI), busca
identificar modelos inovadores de atenção ao parto, capazes de promover a
melhor qualidade do cuidado e a segurança da mulher e do bebê. O
objetivo é incentivar o parto normal e reduzir a ocorrência de
cesarianas desnecessárias, tanto na saúde suplementar como no sistema
público.
Entre as instituições privadas selecionadas, oito estão entre as 30
maiores em volume de partos do país e 11 entre as 100 maiores, o que
demonstra o compromisso social com a melhoria da qualidade da atenção ao
parto e nascimento. Esses hospitais possuem taxa de cesarianas de 88,7%
- superior à identificada na saúde suplementar (84%) e na rede pública
(40%). Já os estabelecimentos do SUS foram escolhidos por apresentarem
percentual de cesarianas acima de 60% e por realizarem mais de mil
partos por ano.
“Estamos lançando um projeto que valoriza a qualificação do parto
normal e as entidades que aderiram a essa iniciativa voluntariamente
aceitaram esse desafio de qualificar sua assistência obstétrica.
Queremos melhorar a qualidade e as condições de atendimento para
enfrentarmos o que temos hoje, que é uma verdadeira epidemia de parto
cesariano no sistema privado. Fico feliz em ver que as instituições
abraçaram a causa e se propuseram a mudar essa realidade", destacou o
ministro da Saúde, Arthur Chioro.
A estratégia de ação desenvolvida para os participantes do projeto
envolve adequação de recursos humanos para a incorporação de equipe
multiprofissional nos hospitais e maternidades; capacitação profissional
para ampliar a segurança na realização do parto normal; engajamento do
corpo clínico, da equipe e das próprias gestantes; e revisão das
práticas relacionadas ao atendimento das gestantes e bebês, desde o
pré-natal até o pós-parto.
De acordo com a diretora-presidente substituta da ANS, Martha Oliveira,
a Agência coordenará e monitorará o projeto, o Albert Einstein fará a
coordenação técnico-científica, com capacitação e laboratório de
excelência, e caberá ao IHI a transferência de tecnologia. Marta afirmou
que a principal inovação é a mudança no processo de cuidado à gestante.
"Pela primeira vez, a gente vai conseguir mexer em todos os elos da
cadeia, mudando o modelo de atenção ao parto. É um processo
irreversível, ou seja, as outras maternidades irão correr atrás da
melhoria na atenção ao parto", ressaltou.
Três propostas de modelos assistenciais alternativos serão apresentadas
aos participantes como ponto de partida. Eles foram construídos com
base em evidências científicas e em experiências exitosas desenvolvidas
por outras maternidades do país e serão aperfeiçoados e customizados
junto com os hospitais do projeto-piloto.
No primeiro modelo, o parto é realizado pelo plantonista do hospital. O
segundo propõe que o parto seja realizado pelo médico pré-natalista do
corpo clínico, com suporte da equipe multidisciplinar de plantão, que
irá fazer o acompanhamento inicial da parturiente até a chegada de seu
médico. No terceiro modelo, o parto é assistido por um dos membros de
uma equipe de profissionais, composta por três ou mais médicos e
enfermeiras obstetras. Neste caso, a parturiente se vinculará à equipe
que terá sempre um médico e uma enfermeira obstetra de sobreaviso para
realizar a assistência do trabalho de parto e parto.
Além disso, estão previstas outras ações complementares, como
adequações na ambiência da maternidade, estímulo à participação de
acompanhantes, visitas guiadas à maternidade, cursos de gestantes
durante o pré-natal e avaliação da experiência do cuidado no pós-parto
pelas mulheres, com retorno à equipe para melhorar o cuidado.
As mudanças sugeridas no âmbito do projeto Parto Adequado poderão ser
feitas em todos os atendimentos ou em uma parcela da população atendida
pelos hospitais. O hospital deverá seguir integralmente as recomendações
e diretrizes propostas, testando o conjunto completo de mudanças. Os
resultados dessa intervenção serão observados em médio e longo prazo e
as ações devem ser introduzidas gradativamente, permitindo
aperfeiçoamento antes de serem adotadas em larga escala.
Além dos 28 hospitais selecionados, outros 16 estabelecimentos
inscritos formarão um grupo de seguidores. Estas instituições
participarão do projeto através do acesso a vídeo-aulas e materiais
informativos sobre como melhorar a qualidade da atenção ao parto e
nascimento e terão encontros presenciais com técnicos da ANS para
discutir os resultados atingidos. Além desses dois grupos, outras três
instituições participarão do projeto compartilhando suas experiências
com os demais participantes. Em maio, os hospitais assinarão os termos
de adesão ao projeto e darão início às atividades.
Ao propor uma mudança no modelo de atenção ao parto, o Ministério da
Saúde e a ANS buscam promover o parto normal, qualificar os serviços de
assistência no pré-parto, parto e pós-parto e favorecer a redução de
cesáreas desnecessárias e de possíveis eventos adversos decorrentes de
um parto mal assistido, seja normal ou cesáreo. Isso significa reduzir
riscos desnecessários e melhorar a segurança do paciente e a experiência
do cuidado para mães e bebês.
Em experiências pontuais já realizadas no Brasil, a aplicação da
metodologia do Institute for Healthcare Improvement (IHI) obteve
resultados positivos: o percentual de partos normais mais do que dobrou,
as admissões em UTI neonatal caíram e houve melhoria da remuneração dos
profissionais que contribuíram para aumentar a eficiência dos serviços.
(*Com Ministério da Saúde)
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