Professores falam sobre temas e dão dicas de como se dar bem na prova
Todos os dias, a estudante Adriele Batista,
17 anos, dedica parte do seu tempo para ler jornais e assistir ao
noticiário. Para ela, essas são as principais fontes de informação em
seus estudos preparatórios para a redação do Exame Nacional do Ensino
Médio (Enem), marcado para acontecer nos dias 8 e 9 de novembro - a
redação será aplicada no segundo dia.
“O que tento fazer é assistir telejornal e estar
atenta ao que está acontecendo no mundo e no Brasil. Também faço
pesquisas na internet para estar sempre informada”, conta a
estudante. No ano passado, quando o tema da redação foi Lei Seca,
Adriele alcançou 880 pontos na avaliação de sua
dissertação-argumentativa.
Para este ano, ela aposta que o exame vai tratar da
Copa do Mundo. “Estou torcendo para ser a Copa no Brasil, sobre os
benefícios e malefícios; o que realmente trouxe para o país e se as
pessoas que fizeram manifestações, no ano passado, estavam certas em
estar contra (a realização do torneio de futebol)”, comenta.
O Enem hoje trabalha em cima da questão multidisciplinar, de como lidar com a cidadania
Cézar Chagas, professor sobre abordagem da prova
O
Mundial também é uma das apostas dos professores de redação Rosana
Pires e Cézar Chagas, que indicaram ao CORREIO dez possíveis temas
para a prova deste ano. “Tinha muita gente torcendo contra o Brasil, e
também muita gente que ficou indignada porque a Seleção perdeu. Mas será
que aquela vitória seria boa para o país? Será que realmente ia
significar alguma coisa para o país? Acho que essa pode ser uma
discussão abordada”, sugere a professora.
O torneio pode ainda acabar puxando outros assuntos,
como a questão da mobilidade urbana. “Também foi muito discutida por
conta da Copa. É um tema que pode, sem dúvida, acontecer, abordando como
estava antes e como ficou”, aposta o professor Cézar. Ele destaca que
“ainda há uma deficiência grande em relação a isso (mobilidade)”.
Eleições
E se, no primeiro semestre, o país esteve de olho na
Brazuca e em tudo que girava em torno dela, desde que o Mundial chegou
ao fim, no dia 13 de julho, as discussões se voltaram para o cenário
político. Isso porque, no mês que vem, a população volta às urnas para
decidir quem irá representá-la no Congresso Nacional e na Presidência da
República pelos próximos quatro anos.
E a proximidade do exame com as eleições pode
influenciar no tema da redação, considera a pró Rosana. Mas, nesse caso,
ela alerta que o estudante não deve se ater apenas à questão do
direito ao voto.
“Eles não devem ficar presos à importância do voto,
mas, sim, à consciência cidadã. Indiretamente, ele vai falar do voto,
mas é preciso entender que o voto é uma arma que deve ser usada sempre
pensando no coletivo, nas questões sociais”, observa a professora.
O professor Cézar Chagas também acredita que a
cidadania no âmbito eleitoral pode ser discutida na redação deste ano.
“A visão do Enem hoje trabalha em cima da questão multidisciplinar, de
como lidar com a cidadania, do que é ter uma consciência do país.
Trabalha em cima da questão da identidade cultural, para que, de fato, a
cidadania se estabeleça. Cidadania é um tema sempre presente”, aponta.
Cidadania
Para a professora Rosana, outro tema que pode
discutir o papel do cidadão na sociedade é o crescente número de casos
em que as pessoas fazem justiça com as próprias mãos. “O cidadão perde a
confiança na Justiça, se torna bárbaro e tenta resolver”, ilustra.
Nesse sentido, o professor Cézar alerta que é preciso ficar atento à
importância da Constituição.
“Vale analisar a questão de quando existe a lei e as
pessoas resolvem as coisas alheias a isso. Porque há uma Constituição
que rege essa relação do homem com o outro. Como considerar que a pessoa
pode fazer ‘justiça’ com as próprias as mãos?”, problematiza.
Foi muito discutida por conta da Copa do Mundo. É um tema que pode acontecer
Cézar Chagas, professor, sobre mobilidade urbana
E,
ainda no sentido de se discutir as leis vigentes, os dois professores
apostam que a maioridade penal também tem boas chances de ser cobrada no
exame.
“A questão é seriíssima. O ECA (Estatuto da Criança e
do Adolescente) protege o menor, dá um verdadeiro colete protetor a
ele, mas há quem queira rever essa lei”, observa a professora sobre um
tipo de discussão que pode ser incluído na prova.
O professor Cézar propõe mais um ponto de vista. “É
um tema muito forte no Brasil, no qual se discutiria o ECA, que é
subutilizado, porque tem uma garantia de direitos, mas o adolescente
também tem deveres”, diz.
Internet
A rede mundial de computadores também pode entrar em
discussão no exame. Para Cézar Chagas, o Marco Civil da Internet,
aprovado este ano, seria uma das motivações. “O país ousou no sentido de
trazer à tona um estudo que procura meios de lidar com os acessos, com
as redes sociais, e é uma discussão válida”, avalia.
Por outro lado, a internet pode ser abordada com
relação à privacidade do usuário. “A questão da privacidade, por
exemplo, no Facebook, onde nossa vida é exposta, por opção. Há pessoas
que postam sua vida sem se dar conta de não é apenas uma tela, mas que
existem pessoas do outro lado”, diz Rosana, indicando um dos caminhos
de abordagem.
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